A série que levou o Globo de Ouro neste último domingo (11/1), desbancando “House of Cards” e “Downton Abbey” (os dois queridinhos dos brasileiros) além dos populares “Game of Thrones” e “The Good Wife”, não parece ser uma história vazia e óbvia sobre o manjado tema da traição.
“The Affair” levou o prêmio de melhor série dramática e ainda o da categoria melhor atriz. Não há previsão de estreia no Brasil, mas a ótima entrevista dada pela criadora da série, Sarah Treem, ao site da “Time” revela algumas questões interessantes, questionadoras, que podem ajudar a entender a (o) parceira (o) ou a si mesmo. Veja se alguma dessas teorias fazem sentido para você.
“Quando as pessoas procuram um amante não é porque estão insatisfeitas com seus parceiros, mas porque estão insatisfeitas com o que se tornaram.” A tese é da consultora da série, Esther Perel, famosa terapeuta de casal e autora de “Mating in Captivity”, e foi um dos princípios que serviram de base para Sarah Treem e o coautor, Hagai Levi (“In Treatment”).
A trama gira em torno do affair entre o professor e escritor Noah (Dominic West), casado e pai de quatro filhos, e a garçonete Alison (Ruth Wilson, Globo de Ouro de melhor atriz de série dramática), casada e mãe de um garoto de 4 anos morto no início da série.
Para desvendar um crime sobre o qual os telespectadores não sabem muita coisa, a autora alterna os pontos de vista de Noah e Alison sobre a mesma história em seus depoimentos à polícia. Assim, Sarah mostra diferentes visões do homem e da mulher sobre o mundo e especialmente sobre os relacionamentos amorosos.
Um exemplo dessa diferença do ponto de vista formal do roteiro pode ser identificada na vida real: o personagem masculino conta a história de forma mais linear, começa num ponto e termina em outro à frente. Já a narrativa da mulher é mais circular, digamos que dá voltas, feito uma espiral. Ela avança na história, retorna um pouquinho, vai para a frente de novo…
E mais: ninguém parece constantemente muito legal ou malvado o tempo todo. “Tentamos mostrar na série que a maioria das pessoas são capazes de quase tudo. É apenas uma questão de circunstâncias nas quais a pessoa se encontra”, diz ela. Você constroi um personagem para você, mas então as as circunstâncias mudam de uma maneira tão significativa que você passa a agir de uma maneira que nunca poderia ter previsto. Mas não é porque somos diferentes: aquele comportamento sempre fez parte de nós”, diz a autora.
Ela pode ter razão. Mas acho que a busca deve ser por recursos que ajudem a pessoa a não se deixar ser administrada pelas circunstâncias, a não reagir segundo os estímulos externos, mas ser capaz de se autogovernar a partir das suas convicções mais profundas.
E vamos torcer para que essa supersérie, produzida pela Showtime e já na segunda temporada nos Estados Unidos, chegue logo por aqui!