O que eu aprendi com a separação

Por Bell Kranz

 

Pedra nova
Obra do artista Luis Camnitzer exposta na Casa Daros, no Rio de Janeiro (Foto: Bell Kranz)

As aquisições foram muitas! E de diferentes dimensões: afetiva, existencial, sexual, social, espiritual, da vida prática… Mas todas, eu acho, são relacionadas a dois únicos movimentos: o de se descobrir e se reinventar. E (pelamor!) isso não tem absolutamente nada a ver com ter saído de um casamento bom ou ruim.

Casar é bom, sim, mas se separar, se não há possibilidade de recuperar a relação, também é. Por isso este assunto hoje. O propósito é inspirar homens e mulheres que sofrem pela dificuldade em aceitar o que acabou, de desapegar daquilo que já não existe mais e, como resultado, não vivem as tantas novas e boas situações que se apresentam. Como escreveu Monja Coen aqui, no blog: “Nada é fixo. Nada é permanente. Saber abrir mão, desapegar-se – até da maneira como tem vivido – é abrir novas possibilidades para todos”.

Entre os vários ganhos que tive, seguem aqui apenas quatro, que são bem bacanudos, importantes porque transformadores.

  1. Aprendi a consertar a impressora

Engraçado, mas não só. Essa proeza é um símbolo da descoberta de uma pá de capacidades que eu absolutamente desconhecia ter para determinadas funções, como entender a maçante burocracia da minha empresa e seus “trocentos” boletos a pagar. Claro, antes tinha alguém para fazer isso tudo por mim.

Em geral, os cônjuges usam suas respectivas habilidades na divisão de tarefas. Se um deles é mestre em perder documentos, o outro, organizado, vira o guardião da pasta de imposto de renda. Se o organizado é um fracasso nos negócios, o parceiro assume a função. Quando o desorganizado tem que contar apenas com ele próprio, descobre que pode ser ordeiro, sim – à sua maneira, mas o suficiente para o que precisa, o que já é ótimo!

  1. Aprendi que é preciso desapegar

Desapegar do passado, de padrões de comportamento, de estilo de vida, de pessoas… Nessas horas, criatividade e bom humor são dois grandes aliados. Por exemplo? O orçamento encolheu e para este verão não vai dar para investir num look novo, nem em uma bermudinha sequer. Saída honrosa e autossustentável (moderna): promover uma tarde de escambo de roupas com as amigas.

O Natal, que nunca foi uma das mais esperadas datas do ano, ficou pior ainda com a família dividida. Saída honrosa: investir num programa inédito, que você sempre desejou! Dormir cedo, que tal? Ou viajar no 24 de dezembro.

E anote aí: “tirar” o diploma em desapego da vida de casado demora um bocadinho, mas chega-se lá.

  1. Aprendi a gostar mais de mim e, por tabela, de ficar comigo

Estar só ou solitário? Você é quem escolhe e mais ninguém.

Parece clichê, mas descobri isso na prática quando num determinado saturday night fever, pouco tempo depois de separada, abri a geladeira para comer algo e percebi que tinha a possibilidade de me entupir de doce de leite na frente da TV, protagonizando a solitária e carente surtada, ou fazer um chá e tirar o máximo proveito daquele silêncio da casa para ler. A opção 2, ou qualquer outra que o distancie do papel de vítima, é a melhor, porque fortalece, torna você mais satisfeito consigo mesmo e, por tabela, quem está ao redor. Sim, porque, na verdade, nunca estamos só, sempre há alguém por perto.

  1. Aprendi a gostar mais dos outros

Não que eu desgostasse, mas percebia menos os outros. Como acontece nas melhores famílias, sobrava pouco tempo disponível para quem não fosse filho e marido e depois trabalho e casa. Mas os separados, para ficarem inteiros, descobrem que os outros são sua maior preciosidade. Os amigos, que além de mais solidários aumentam em número, e também o seu zelador, a mulher dele, a caixa do supermercado, o entregador do açougue, o segurança da rua… Até o guarda da CET! Como assim?

A insegurança, a sensação de fragilidade que bate quando você ocupa um novo papel, quando você se agarra à sua identidade porque sente que corre o risco de perdê-la, tamanha a mudança pela qual está passando, aumenta a importância de todo o mundo que o cerca. Você magicamente se sente parte do todo, identificado com todos. Esse ganho é muito saudável. É muito humano.

E você? O que aprendeu com a separação? Compartilhe aqui um pouco da sua história – no máximo dez linhas – e inspire outros homens e mulheres a encarar com fé a vida nova pós-separação.