Um álbum totalmente coração partido, em que a cantora islandesa Björk disseca de forma visceral a separação, em 2013, do artista Matthew Barney, com quem foi casada por mais de uma década e tem uma filha, Isadora, de 12 anos.
Cada faixa é um registro da dolorosa jornada: da crise na relação, passando pela separação até chegar à cura, a libertação.
“Quando eu fiz este álbum, tudo estava em colapso. Eu não tinha nada. Foi a coisa mais dolorosa que eu já senti na minha vida. A única maneira que eu tinha de lidar com isso era escrevendo para cordas; decidi me transformar em um violino nerd, organizar tudo em 15 cordas e dar um passo mais longe do que eu já havia dando antes”, disse ela na ótima entrevista para o site Pitchfork.
O novo trabalho, nono da carreira da artista, chama-se “Vulnicura” e foi lançado às pressas na última terça (dia 20/1), dois meses antes do planejado porque teve faixas vazadas na Internet.
Para quem não conhece, Björk, rainha do indie, artista única, costuma ultrapassar os limites do convencional, com experimentações na voz, no visual… Pode parecer muito loucona para alguns.
A primeira faixa, “Stonemilker”, por exemplo, segundo traz o encarte do CD, foi composta “nove meses antes” da separação. Segue um trechinho da letra:
“O que é que eu tenho
Que me faz sentir sua dor
Como se estivesse ordenhando uma pedra pra fazer você dizer
E quem está de peito aberto
E quem se calou
E se um se sente fechado
Como o outro pode permanecer aberto?”
A música seguinte, “Lionsong”, é descrita como composta “cinco meses antes.” Depois, vem “History of Touches”, de “três meses antes”, que fala da, provável, última vez que o casal fez sexo:
“Eu te acordo
Na noite sentindo
Que esta é a nossa última vez juntos
Portanto detecto todos os momentos
Em que estivemos juntos
Sendo partilhados ao mesmo tempo
Cada toque
Que nos tocamos
Cada foda que tivemos juntos
É um maravilhoso lapso de tempo
Com a gente aqui, neste momento.”
Entre as nove faixas desse documento musical do seu processo de separação, “Black Lake”, “de dois meses depois”, é a mais linda – e longa, 10 minutos! Diz assim:
“Nosso amor era meu ventre
Mas nosso laço se rompeu
Meu escudo se foi
Minha proteção foi levada
Eu sou uma ferida
Meu corpo pulsante
Sofre….”
“Minha alma rasgada
Meu espírito está quebrado
E em pano comum ele é tecido.”
Por que essa exposição escancarada? Björk explicou no lançamento do álbum em seu site: “Espero que as músicas possam ser uma ajuda para os outros e prove como esse processo é biológico: a ferida e a cura da ferida. Fisicamente e psicologicamente. Existe um relógio obstinado ligado a ele”.
Para ouvir: por enquanto, “Vulnicura”, da gravadora One Little Indian, só está à venda na iTunes Store, por US$ 9,99 (cerca de R$ 26); o disco físico deve sair em março.