Nos últimos dez anos, as separações na França têm registrado declínio constante. O número de divórcios bateu o recorde em 2005, com 155.523 casos. No ano passado, o número ficou abaixo dos 130 mil – o menor dos últimos 10 anos, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos francês.
Um milagre que só poderia acontecer em um dos países mais românticos do planeta? Não exatamente. Entre os fatores que podem estimular, segundo os pesquisadores, a queda no número de divórcios é o casamento tardio. Ao menos na teoria, casar-se mais tarde gera relações mais maduras. Em 2000, a idade média dos pombinhos na França era de 28 anos. Hoje, as mulheres se casam aos 30, e os homens, com 32 anos em média.
Outro ponto relevante: menos gente na França casa no papel. Em 2000, os casamentos oficiais contabilizavam 305.234 contra 238 mil uniões celebradas em 2013.
Por fim, os altos custos de um divórcio em um momento de crise andam assustando os franceses. Resultado: cada vez mais eles moram sob o mesmo teto apesar de separados.
Quem inventou o divórcio?
Se a crise no mundo capitalista é uma das possíveis razões da diminuição de divórcios na França, foi o próprio capitalismo que inventou a prática de dar fim ao casamento.
“O capitalismo moderno inventou o divórcio”, afirma o polêmico filósofo francês Luc Ferry em livro e conferências. O salário deu autonomia material às pessoas, que então passaram a se casar com quem queriam, e não mais à força, seguindo acordos matrimoniais movidos por questões familiares e financeiras.
Isso começou só depois da Segunda Guerra Mundial e entre os operários, que não tinham o que perder em termos de patrimônio. Depois entre os burgueses, diz o filósofo em entrevista ótima ao psicanalista Jorge Forbes. Ou seja, o divórcio foi inventado quase imediatamente após o casamento por amor. Como diz Ferry, “é o preço da liberdade do amor. A liberdade e o amor são bem mais difíceis que a tradição”.