Na vida conjugal, a missão de administrar as finanças da família costuma ficar na mão de um dos parceiros, em geral o homem e também principal provedor. Essa prática é comum especialmente entre a turma abastada; nas classes mais baixas é a mulher que segura o rojão, às vezes de forma intuitiva.
Até aí, tudo bem! Para que dois seres mergulhados em uma tarefa, digamos, tão despida de atrativos? Basta um na gestão do dinheiro. Mas isso não significa que o outro vá se alienar, ignorando solenemente o assunto, como fazem muitas mulheres.
Quais são os bens do casal? Possui móveis? E os investimentos: quais são, onde estão, qual a melhor data para resgate? Dívidas! Por acaso tem? Vale a pergunta para planos de pensão, seguros… Enfim, são vários os itens para se inteirar. Mas alguém poderia perguntar: acompanhar essa “chatice” para que se já existe alguém cuidando disso?
Para colaborar com o parceiro em decisões que só irão favorecer a qualidade de vida do próprio casal e, se houver, dos filhos. Isso vale para os momentos de bonança e de infortúnios. Ou seja: para planejar a concretização dos projetos e sonhos do casal, como viagens, mudança de país ou compra de imóvel, e também para enfrentar situações adversas, como desemprego, doença na família ou uma crise econômica do país. Por tabela, também é saudável para o caso de separação do casal. Aquele que não era o gestor principal do dinheiro vai encarar a nova vida financeira com mais competência e tranquilidade.
Quem nunca conheceu uma mulher que perdeu o chão na separação não apenas por razões do coração, mas por causa de dinheiro? “Muitas mulheres assumem no casamento esse papel ‘isso não é comigo’. Mas tudo que diz respeito ao relacionamento é com ela, sim”, diz a respeitada consultora de finanças Marcia Dessen, colunista da Folha e autora de “Finanças Pessoais: o que fazer com meu dinheiro” (Trevisan Editora, 280 págs.). Ou seja, desconhecia as finanças porque o ex-marido não falava nada? Chato dizer, mas culpa sua que não foi perguntar, se informar.
Há mulheres que não sabem quanto o marido ganha. E, sim, há homens que escondem até dos filhos quanto ele tem investido, conta Marcia. Mas, algumas vezes, eles agem assim para proteger o futuro de todos, porque se a família souber vai gastar muito, o que só reflete a alienação da mulher na vida financeira.
Ela pode ajudar conhecendo, se envolvendo, opinando, participando das decisões, sem com isso competir. A consultora conta um caso que ilustra bem a responsabilidade feminina no dinheiro da família. Um marido rico e desesperado a procurou porque estava com dívidas até o pescoço. Detalhe: a família não tinha a mais vaga noção do que se passava. Primeira e imprescindível orientação: “Você tem que contar para a sua mulher”.
O marido era o perdulário, mas ela, por não saber, era conivente nos hábitos de consumo. “Você é o problema, mas ela faz parte da solução”, disse Marcia ao cliente.
A mulher ficou em choque quando soube da situação financeira caótica e “um pouco culpada porque participava da gastança sem saber”. Juntos, eles mudaram os hábitos de vida, simplificaram a vida (a mulher é ótima para desenvolver tais estratégias) e se reergueram.
Falar de dinheiro, sabe-se lá por que, é quase um tabu. Ninguém gosta. No início da vida a dois, então, ganha ares de ameaça ao casamento. Por outro lado, ignorar as finanças durante a vida conjugal é um problema anunciado. O descasamento será traumático ou não em função de como foi o planejamento, diz a consultora.
Acompanhe aqui, em breve, detalhes de um método simples e eficaz de planejamento a dois.