O que a alta da inflação, o dólar nos píncaros (acima dos R$ 3) ou a multidão revoltada na rua têm a ver com a sua vida conjugal? Fique esperto, porque podem ter impacto, sim.
A crise na Europa está entrando no seu sétimo ano. Um dos efeitos entre os românticos italianos, por exemplo, é que estão casando menos e se separando menos também. Por quê? Para economizar, já que ambos os processos são custosos.
Nos Estados Unidos, por causa da recessão econômica, quase 40% dos casais com intenções de divórcio adiaram seus planos em 2011, como mostra o estudo “A Grande Recessão e o Casamento”, da Universidade de Virgínia.
Mas o efeito pode ter uma faceta positiva: fortalecer a relação do casal. Segundo a mesma pesquisa, três de cada dez americanos revelaram que a crise aprofundou os laços matrimoniais.
Por aqui, um estudo do portal do Proteção ao Crédito, o Meu Bolso Feliz, mostra que 16,7% dos brasileiros casados declaram que a maneira como eles gastam o próprio dinheiro é motivo de briga dentro de casa. O percentual sobre para 22,7% quando os analisados são casais inadimplentes, e cai para 10,7% entre as famílias não têm conta em atraso.
E o pior: os casais não percebem claramente que o problema financeiro está encrespando a relação. “Na maioria dos casos, o dinheiro vem disfarçado nas discussões. Se falta dinheiro para um jantar, o problema é percebido como falta de romantismo. Se não sobra para comprar roupas novas, o problema é percebido como desleixo do parceiro. Se não há dinheiro para levar os filhos ao cinema, o conflito é percebido como falta de carinho”, afirma o educador financeiro do portal José Vignoli.
Seja como for, os atuais aumentos na conta de luz, nas compras do supermercado ou dos juros para quem está precisando de crédito, por exemplo, exigem mudança nos hábitos para reduzir gastos, além do esforço para conter o mau humor.
Esta é, portanto, uma excelente oportunidade para os casais analisarem suas finanças e definirem estratégias juntos. Aliás, planejamento financeiro é saudável não só durante a vida a dois, mas também para enfrentar uma separação com mais segurança.
Conforme prometido pelo “Casar, descasar, recasar”, segue aqui uma fórmula de planejamento das contas do casal recomendada pela consultora de finanças Marcia Dessen, colunista da Folha e autora de “Finanças Pessoais: o que fazer com meu dinheiro” (Trevisan Editora, 280 págs.). Útil para época de crises ou de bonança!
PLANEJAMENTO EM DUPLA
A vida conjugal envolve duas pessoas com um orçamento. Quando os dois trabalham, devem ter os seus recursos para gastar com o que cada um quer. Ele gosta de incrementar a moto com certa regularidade e gastar com tecnologia; e ela não abre mão do cabeleireiro semanal ou da ajuda mensal à irmã, por exemplo? É possível se organizar para que ambos satisfaçam as suas necessidades e desejos individuais.
A recomendação é abrir uma conta conjunta com recursos destinados ao orçamento doméstico e para os sonhos futuros do casal (contas da casa, alimentação, viagem de férias, compra de imóvel…). Essa conta deve ser “sagrada” e respeitada pelos dois. Como, em geral, um cônjuge ganha mais do que o outro, o casal pode definir um percentual da renda igual (50% do que cada um ganha, por exemplo). O valor absoluto será diferente, em função dos rendimentos, mas esse formato revela que o esforço de ambos se equivale.
Os outros 50% da renda de cada vão para as respectivas contas individuais a serem gastos como cada um bem entender. “Se há o meu, o seu e o nosso identificados, fica mais fácil lidar com isso”, tanto durante o casamento como para administrar o novo estilo de vida em caso de separação.
A ideia da conta conjunta é um exemplo eficaz de como organizar as finanças do casal. Mas é possível que o casal funcione melhor por meio de outro modelo. O importante é encarar de frente a discussão sobre dinheiro. “E leve a sério”, alerta a consultora, “porque não há amor que resista a problemas financeiros”.