Aliança, presente de grego

Por Bell Kranz

Ironicamente, aliança de casamento ganhou algum sentido para mim depois de separada. Nada contra o anel no dedo nem a favor. Mas nunca quis. E olha que tive duas oportunidades para aderir ao hábito. Sempre pensei: para quê? Para mim, a comprovação de confiança, fidelidade e amor sempre veio por outras vias, e não no anel colado no dedo. “O amor é quando a gente mora um no outro”, diz o poeta Mario Quintana. Daí quando não mora mais, você foge de homem com aliança feito diabo da cruz (rsrs).

Esse símbolo da união entre duas pessoas que se amam é cheia de simbolismo e história. A mais divertida foi protagonizada por uma provocativa lady irlandesa em pleno século 18. Leia abaixo.

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“Quebra-cabeça”, obra de Rivane Neuenschwander que serviu de cenário para um pedido de casamento feito no Museu de Arte Moderna de São Paulo

Por Giovanna Maradei

O IBGE registrou 1.052.477 casamentos em 2013. Considerando que cada união envolve um par de alianças, os brasileiros devem ter trocado por volta de 2 milhões delas – sem contar as de namoro e noivado. Esses milhares de casais colocaram o mesmo tipo de ornamento, exatamente no mesmo dedo, feito do mesmo material. Mas por quê? Qual o significado dessa tradição?

O pai da ideia

Reza a lenda que a prática nasceu no Egito, mas quem levou o crédito foi a Grécia, que conquistou as terras de Cleópatra. Lá, a forma circular representava a eternidade de uma união, já que não tem começo nem fim. O significado é lindo, mas infelizmente não sobrou nenhum anel egípcio para contar a história.

A escolha do dedo

O quarto dedo da mão esquerda, que também pode ser chamado de anelar (já que é nele que se usa o anel), foi escolhido para carregar a aliança pelos antigos gregos. Acreditava-se que por esse dedo passava a chamada vena amoris, uma veia diretamente ligada ao coração. Há quem conte que na Grécia os anéis de compromisso até eram feitos de ferro imantados, como forma de manter o coração do casal ainda mais próximo.

Coincidentemente, os chineses escolheram o mesmo dedo para carregar suas alianças – embora não se importassem muito se seria na mão esquerda ou na direita. Para os orientais, cada dedo da mão correspondia a um membro da família. A saber: os polegares eram os pais; os indicadores, os irmãos; o dedo médio, a própria pessoa; o anular, o cônjuge; e o mindinho, os filhos.

O detalhe importante, e até um pouco místico, é que essa definição não tem nada de aleatória e é explicada por meio de um simples exercício: una as duas palmas das mãos, abaixe os dois dedos médios em direção ao centro e tente separar os dedos que permaneceram levantados. É possível afastar todos – exceto o anular ou, ao menos, é o mais difícil. Para os chineses, é com quem se casa que se passa o resto da vida.

Anel de palha

As joalherias são categóricas: “Aliança de casamento tem de ser de ouro!”. Mas no Egito antigo elas eram feitas de corda e palha e na Grécia, de ferro.

O ouro só começa a ser usado no século 2 a.C., em Roma, sendo, no início, uma exclusividade dos anéis dos embaixadores que viajavam para além do território romano. Aos poucos, a regalia foi estendida a outros servidores públicos, cavaleiros e, por fim, a todos os cidadãos nascidos livres.

Dizem inclusive que, em Roma, as mulheres chegaram a ter duas alianças: de ferro para fazer os trabalhos domésticos e de ouro para uso público.

Eros no dedo

As alianças de antigamente eram repletas de gravações que fortaleciam o seu significado. As gregas traziam imagens rebuscadas de deuses da mitologia como Afrodite e Eros, os representantes do amor. Já as romanas traziam símbolos da união, como mãos entrelaçadas, ou católicos, como a Virgem Maria abençoando o matrimônio.

O aro minimalista, em ouro, só entrou na moda no século 16 e lançada pela rainha Maria 1 da Inglaterra para selar seu casamento com Filipe 2 da Espanha. Toda essa simplicidade foi incrementada nos séculos seguintes com os chamados anéis posie, que traziam frases românticas ou religiosas gravadas no interior ou do lado de fora da aliança.

Nesse sentido, Lady Cathcart foi a campeã de originalidade. A conhecida e bela dama da alta sociedade irlandesa ficou famosa por usar no seu quarto casamento, em 1745, um anel com a seguinte inscrição: “Se eu sobreviver, terei o quinto”. Não cumpriu a promessa, morreu aos 98 anos, quase duas décadas depois do marido.

Diamantes para sempre, casamentos nem tanto

Ganhou um anel de diamante antes mesmo de subir ao altar?  Agradeça a Maximiliano da Áustria. O Arquiduque foi o primeiro a pedir a mão de sua futura esposa, Maria de Borgonha, com uma aliança cravejada com a pedra preciosa.

Já o famoso solitário, aquele com “apenas” um diamante preso por seis garras, só foi criado em 1886, mais de 400 anos depois, pelo Sr. Charles Tiffany, fundador da Tiffany&co. A mania de transformar toda aliança de noivado em anel de diamante, então, só ganhou força na década de 40, após uma avassaladora campanha lançada pela loja e mineradora De Beers, que até hoje tem como slogan “Diamantes são para sempre”.

Fonte: Associação dos Joalheiros do Estado de São Paulo; Cidda Siqueira,  mestre e doutora em design pela PUC-Rio, e Marlon Mercaldi, professor dos cursos de design e design de moda da Universidade de Franca, SP