Por que desilusão amorosa engorda alguns e emagrece outros?

Por Casar, descasar, recasar
Cena de "O Diário de Bridget Jones" em que a protagonista afoga as mágoas em um pote de sorvete
Cena de “O Diário de Bridget Jones” em que a protagonista afoga as mágoas em um pote de sorvete (Foto: divulgação)

Por Giovanna Maradei

Ao passar por uma ruptura amorosa, o nosso corpo bem que poderia fingir que nada aconteceu. Mas não. Na maioria das vezes, vem uma vontade enorme de comer, e saímos comendo e muito – especialmente pães e doces. Porque é disso que precisamos neste momento.

Situações que causam estresse, tristeza e ansiedade diminuem os níveis de dopamina e serotonina, neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer. Consequentemente, perde-se a vontade de fazer qualquer coisa. Mas o corpo “sabe” que precisa reverter a situação e reage.

Uma das saídas mais rápidas e práticas é provocar na pessoa aquela vontade louca de comer. Esse ato em si já colabora com a fabricação de dopamina e é mais eficiente quando nos deixa com desejo de alimentos ricos em carboidrato e triptofano, substâncias que são, respectivamente, o combustível e o ingrediente usado na produção de serotonina. Onde encontrá-los? Pães, bolos e biscoitos (carboidratos) e chocolate e leite (triptofano), por exemplo.

Embora em momentos críticos você dificilmente consiga fugir de opções que tragam conforto e boas lembranças, como um pote de sorvete, existem alternativas mais saudáveis e tão eficientes. Banana, castanha e peixes de água fria, por exemplo, são ricos em triptofano; cereais integrais e batata doce, em carboidratos, com a vantagem de conterem nível glicêmico baixo, o que traz menos prejuízos ao organismo.

Atenção: comer demais não é um método de superação de sofrimento, mas uma reação do corpo. Conforme o seu estado psicológico se reorganiza, deve ser possível também, para não dizer necessário, reorganizar o cardápio.

FOME ZERO

O contrário também acontece. Há quem fique nervoso e perca totalmente a vontade de comer. Neste caso, o nível dos neurotransmissores ligados ao prazer fica tão baixo, diz a nutricionista Fernanda Timerman, que o corpo não consegue sequer reagir, deixando a pessoa sem forças para buscar algo que dá prazer.

Não se sabe ao certo que conjunto de características genéticas e psicológicas determina comer demais ou de menos. Na realidade, é possível que uma mesma pessoa passe se alimente de forma exagerada em uma situação traumática e em outra igualmente sofrida perca totalmente o apetite, explica o psiquiatra Alexandre Pinto de Azevedo. O que se pode afirmar com certeza é: comer em excesso é ruim, mas parar de comer pode ser pior.

A reorganização da mente é prejudicada se o corpo não dispõe de uma fonte de energia que estimule o cérebro a repor os neurotransmissores ligados à sensação de bem-estar. Como diz o ditado popular, saco vazio não para em pé. Ou seja, você deixa de comer porque está triste, mas sem uma alimentação que responda às suas necessidades fica ainda mais difícil superar a tristeza.

O que fazer: foque nos alimentos que consegue tolerar. Opções líquidas como sopas e vitaminas podem ser mais fáceis de encarar e são um bom começo para, aos poucos, superar a difícil fase e retomar hábitos alimentares saudáveis. 

QUANDO VIRA DOENÇA

Deixar de comer e se alimentar em excesso são reações comuns quando se vive uma situação extrema. São padrões de comportamento que não devem trazer outros prejuízos para a pessoa nem podem durar por muito tempo. Do contrário, passam a ser considerados doenças.

Comer descontroladamente ao menos um dia por semana durante três meses pode indicar compulsão alimentar. Nesse caso, a pessoa come escondido, tem fixação por certos alimentos e, em caso extremo, chegar a consumir comida congelada ou extremamente quente.

Entre os que perdem o apetite, o quadro é preocupante se a pessoa desenvolve aversão à comida, sentindo enjôo e, às vezes, até vomitando só de ouvir falar no assunto. É uma forma de anorexia, mas diferente da tradicional porque não está relacionada à busca pelo corpo perfeito, mas a um estado depressivo.

Ambos são distúrbios que podem aparecer associados a diagnósticos de depressão, como a depressão melancólica (em que se perde o apetite) e a depressão atípica (quando se come demais).

EQUILÍBRIO NA MESA 

Enquanto a vida e o seu cardápio não entram nos eixos, seguem aqui 8 truques para atravessar esse momento de desequilibro físico e emocional sem prejudicar tanto o seu organismo.

1. Seja econômico: mantenha a despensa e a geladeira com o estritamente necessário.

2. Quando comer na rua, vá com o dinheiro contado.

3. Mantenha um diário alimentar, onde deve ser anotado tudo o que comer e também o que tiver sentido durante a refeição.

4. Liste outras atividades, além da comilança, que ajudam você a aliviar sentimentos como tristeza, raiva e ansiedade. Há quem consiga os mesmos resultados praticando exercícios físicos – já pensou?

5. Pratique um pouco da chamada alimentação consciente: evite comer na frente do computador ou da TV e, quando estiver comendo, mantenha toda a atenção na atividade.

6. Dê uma nota para a fome antes de comer e outra ao final dela para a saciedade. Assim, você consegue perceber se come na hora da fome e se para de comer quando está satisfeito ou só depois de estufado.

7. Se o descontrole é provocado por algum alimento especifico, não o tenha disponível em casa (nem na bolsa ou na gaveta do escritório).

8. Não passe muito tempo sem comer. Isso é cruel, uma das principais causas da fome voraz que chega no fim do dia.

Fontes: Alexandre Pinto de Azevedo, psiquiatra coordenador do Grupo de Estudos em Comer Compulsivo e Obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, e Fernanda Timerman, nutricionista coordenadora do Movimento de Nutrição Comportamental e do Genta (Grupo especializado em nutrição, transtornos alimentares e obesidade).