Enfrentar a barra pesada que se segue ao diagnóstico de uma doença grave é tarefa árdua, capaz de balançar os mais sólidos dos casamentos. Até aí, não há grande novidade. As controvérsias surgem quando uma pesquisa feita na Universidade Estadual de Iowa, nos Estados Unidos, afirma: se é a esposa que adoece, a probabilidade de divórcio cresce 6%, quando é o marido, as chances de separação são as mesmas de quando não há doentes.
O estudo, publicado na edição de março do “Journal of Health and Social Behavior”, foi desenvolvido por Amelia Karraker, professora de desenvolvimento humano e estudos de família. Ela analisou 2.701 casamentos com pelo menos 20 anos de duração, nos quais um dos cônjuges foi diagnosticado com doenças físicas graves, especificamente câncer, doenças do coração, do pulmão e/ou derrames cerebrais. No total, 32% destas uniões terminaram em divórcio e 24%, em viuvez.
A pesquisa não aponta as principais causas das separações, mas Amelia ressalta: “Há uma diferença entre sentir-se muito doente para fazer o jantar e precisar de alguém para alimentá-lo. Isso é algo que realmente pode mudar a dinâmica dentro de um casamento”.
Ainda segundo a pesquisadora, as esposas mostraram-se mais insatisfeitas do que os maridos com a atenção recebida em casa, o que poderia ser uma causa do aumento dos divórcios quando são elas que adoecem.
O que inspirou Amelia Karraker a se envolver com esse tema foram os dois casos muito conhecidos e criticados nos Estados Unidos dos ex-parlamentares John Edwards e Newt Gingrich, que se divorciaram de suas mulheres quando ambas estavam doentes.
DIVÓRCIO FAZ MAL AO CORAÇÃO?
Outra pesquisa americana traz má noticia às mulheres, em especial as divorcidadas. Segundo o estudo, elas têm 24% mais chances de sofrer um ataque cardíaco do que as casadas, e o risco aumenta para 77% no caso das que se divorciaram mais de uma vez.
Já os homens, após o término do primeiro casamento, têm 10% mais chances de ser vítima da doença e 30% se passar por mais de um divórcio.
Como se não bastasse a diferença gritante, a pesquisa concluiu ainda que, no caso deles, um novo casamento eliminou esse aumento, já para elas o efeito positivo foi muito pequeno.
O estudo, desenvolvido pela Universidade Duke e recém-publicado pelo periódico “Circulation”, analisou 15.827 pessoas entre os anos de 1992 e 2010. Durante este período, um em cada três pesquisados se divorciou.
Linda George, uma das autoras do trabalho, diz que os índices representam um risco significativo, comparável aos de quem tem pressão alta ou diabetes e que a diferença do impacto entre homens e mulheres também é percebido em casos de depressão. Para ela, o divórcio representa um “fardo psicológico” maior para as mulheres, embora ainda não seja possível entender o que de fato acontece.
Por outro lado, em entrevista à BBC, Jeremy Pearson, da British Heart Foundation (Fundação Britânica do Coração), diz que os pesquisadores já sabiam que a saúde mental pode afetar o coração e que esses resultados não são evidências definitivas da ligação entre o estresse de um divórcio e os riscos de um enfarte. Para ele é preciso “mais estudos antes de considerar o divórcio um fator de risco significativo”.