O primeiro Dia das Mães separada

Por Bell Kranz
Passeio de mães com seus filhos na década de 50 registrado pelo fotógrafo americano Ken Heyman
Passeio de mães com seus filhos na década de 50 registrado pelo fotógrafo americano Ken Heyman

No festival de efemérides familiares, o primeiro Dia das Mães separada é um dos mais estranhos, sendo que o troféu “fundo do poço” fica para a “noite feliz” de Natal.

É triste? Um bocado se o costume da família é o tradicional papai se encarrega da produção. Os anos seguintes também são esquisitos, mas sempre menos, cada vez menos até começar a ficar bom. Especialmente se aparece aquele ser iluminado – pode ser uma terapeuta porreta de boa, uma amiga experiente, uma leitura certeira ­– que chega para você e diz: “Fia, esse dia é seu, pra curtir juntinho dos filhos; trate de matutar um programa bem bom, que você tem vontade de fazer nesse domingão com os rebentos e parta para a nova aventura” (lembrando que o papo aqui não diz absolutamente nada para aquelas mães que tiveram um péssimo companheiro e pai e, portanto, só estão brindando aliviadas!).

Então, se daquele pomar imenso que era o seu casamento sobrou um limãozinho, vá fazer um suco bem fresh e doce. Pode estar difícil, sim, toda perda é dura e dói. Mas faça uso criativo dela. E, para isso, o Dias das Mães é uma excelente oportunidade.

Vamos às perdas e ganhos da estreia neste ano sem o marido.

Muito provavelmente você terá de abdicar daquela postura real, aquele ar elizabetano que até ferrenhas críticas da comercial data exibem quando acordam na manhã deste domingo de maio no aguardo das homenagens. Tudo tende a ficar mais simples, com uma certa dose de maturidade, consciência, e, talvez, menos infantiloide. Mas com emoção.

A superprodução promovida pelo maridão para a rainha do lar pode ser guardada com carinho, porque foi muito bom mesmo enquanto durou, na gavetinha do passado, junto com as joias e outros bons presentes que ele tenha oferecido. Neste ano, para compensar, você tem a chance de ir às lágrimas com uma surpresa diferentona – se bem que nesse caso qualquer reconhecimento de filho amoroso vai levar a mulher em luto às lágrimas. Por exemplo: ganhar dos três filhos uma blusinha arrematada na liquidação da loja cujo style não tem nada a ver com você, mas que eles a imaginaram lindona naquele modelo. O mimo produzido com dedicação pelo filho sem a mão e a carteira do pai carrega uma alegria de outra matiz, agrega um sentido mais humano a essa data marcada pelo consumo (o que não significa cuspir no prato que comeu, detonando o padrão da vida conjugal; trata-se apenas de ligar as antenas para detectar o bom e o belo desse novo cenário).

Se os filhos são pequenos, podem precisar de uma ajuda neste primeiro ano sem o suporte do pai. Às vezes, uma avó esperta, tia ou amiga colaboram com as crianças, ajudando na produção da homenagem. Do contrário, entre você em ação. Aproveite para ensinar a importância de mostrar o afeto e celebrar quem se gosta, de dizer também o quanto é gostoso receber o carinho deles, as maneiras como isso pode ser feito… E não desperdice nenhuma ajuda que chegar até você com afeto, como o convite para almoçar na casa da prima que nunca te deu a menor bola. Nesse momento de fragilidade, siga a hashtag #écarinhotávalendo.

HELLO, PAIS!

Nesse primeiro Dia das Mães sem o pai, as crianças e até adolescentes podem ficar perdidos sobre como agir. “Principalmente se o ex-casal está brigando, pois os filhos podem sentir que estão traindo o pai se homenageiam a mãe. Isso é comum e terrível para os filhos”, diz o médico psiquiatra especializado em terapia de casal Nairo de Souza Vargas.

Brigas à parte, o ex pode incentivar a homenagem à mãe patrocinando um presente ou parte dele, sugerindo que os filhos confeccionem um agrado, escrevam uma cartinha ou o que for, mas que a homenageiem.

Se está num segundo casamento e a mulher é muito insegura ou ciumenta, é possível que ela dificulte essa tarefa paterna. “Infelizmente, há segundas esposas que restringem muito o papel do pai em relação aos filhos e mais ainda no caso de uma homenagem à mãe”, diz o psiquiatra. Nessa hora, ele deve ser esperto e por limites, “não se submeter a esse tipo de atitude controladora”.

O homem deixa de ser marido, mas continua um companheiro da mãe enquanto pai dos filhos. Tem o papel de ajudar na relação dos rebentos com a mãe. Ao menos, é o que se espera de um pai responsável e ético – e a recíproca é verdadeira em relação à mãe, que terá sua estreia logo mais, no Dia dos Pais, 9 de agosto, e essa promete ser mais tranquila.