O pacote qualidade de vida do idoso – programação social intensa, muita atividade fÃsica, hobbies e até um desafio profissional – é a realização de todo filho. Agora, quando o interesse dos dignÃssimos progenitores é dar uma geral na vida conjugal, aà vira um perereco!
O pensamento dominante e angustiante costuma ser: “Separados, eles vão dar mais muito mais trabalho do que juntos”. No caso de um recasamento, o Deus nos acuda tem outra motivação: “Como vai ficar o patrimônio?”. E se a filhona ouve falar que papi, aos 80, pensa em sexo, ela “surta”, porque a hipótese lhe parece totalmente abominável.
Uma profusão de ideias e atitudes equivocadas abalam a vida de pais e filhos, criando uma novo formato de conflito de gerações. Os mais jovens desconhecem ou não entendem o interesse dos mais velhos em preencher os anos seguintes com realizações variadas, inclusive na vida conjugal – quem tem 60 hoje pode contar com mais umas duas ou três décadas de vida pela frente.
Os filhos podem atrapalhar o caminho desses pais ou serem facilitadores. Na tentativa de colaborar com as duas partes, “Casar, descasar, recasar” revela aqui o que é importante saber quando o assunto é sexo e vida conjugal de idosos. As informações valiosas foram dadas pelo professor titular de geriatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor do  Serviço de Geriatria do Hospital das ClÃnicas, Wilson Jacob Filho. Confira abaixo.
AS FILHAS
Para a filha casada, a separação dos pais é um choque, apesar de que raramente ela é pega de surpresa, a não ser quando a mãe descobre que o pai tem uma vida paralela; em geral, ela sabe que aquele casamento foi se complicando. É um choque por dois motivos. Primeiro porque se desfaz aquele elo que sempre teve como diretriz, o ambiente de segurança. E segundo porque sabe que separados eles darão mais problema para ela do que casados.
Quando o casal está junto, e ele tem uma pneumonia e vai para o hospital, quem vai cuidar? É a mulher. Se estão separados, é o filho. Um já não é mais do outro. A filha não chega e fala ‘mãe, ele é teu marido’ ou ‘pai, ela é tua esposa’. O pai passa a ser do filho ou da filha enquanto não encontrarem outra pessoa que ajude a cuidar dele, no sentido laborial ou financeiro.
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Um fato absolutamente verdadeiro: mulheres com filhas ainda jovens ou solteiras temem iniciar um novo relacionamento com um homem por achar que ele possa se interessar pela jovem. É frequentÃssimo ouvir: “Enquanto as minhas filhas não casarem, eu não me aproximo de nenhum homem”. Ou quando perguntada “por que a senhora não iniciou um novo relacionamento?”, a resposta é “porque eu tinha filhas mulheres e isso é muito perigoso”. Perigoso para ela pela possibilidade de ser preterida em função de sua filha e perigoso para a filha ao levar para casa um homem que ela não pode confiar. Existe uma lógica nisso. No lado mais dramático, uma boa parte dos abusos sexuais foram feitos por padrastos.
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A filha acha que o pai é dela, tem um ciúme impressionante. As filhas de homens, dizem ‘meu pai’ com uma carga de posse: ‘Você está dizendo isso do meeeeeeeu pai?’. Respondo: ‘Estou dizendo que o seu pai precisa de uma companheira para fazer aquilo que ele não pode fazer com você’. E ela fica estupefata, pasma, em ouvir que aquele homem de 75, 80 anos tem desejo sexual. Não gosto de endeusar isso, mas faz parte.
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A filha, quando tem uma mãe que vai casar, fica feliz. A preocupação é fundamentalmente com o patrimônio. Vai querer saber como vai ser a condição patrimonial da famÃlia. Como vão ficar os seus bens, pensar no futuro do “Jorginho”. A questão patrimonial mexe com todo o mundo; as pessoas ficam possessas quando veem seu patrimônio ameaçado.Â
OS FILHOS
O filho homem tem muito ciúmes da mãe. Depois da separação, muitas vezes ele entende ser o homem da famÃlia, o macho alfa. Quando a mãe tem um novo relacionamento, é como se ele estivesse perdendo a liderança dentro da própria casa. Isso quando os filhos moram na casa da mãe. Quando vivem fora, o temor é financeiro. A exigência, que ocorre com muita frequência, é que o possÃvel novo casamento seja com separação total de bens para que não haja possibilidade de comprometimento.
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Filhos entre 30 e 50 anos, muitas vezes sobrecarregados pelo cuidado dos pais separados, veem em um novo casamento do pai ou da mãe a possibilidade de dividir o trabalho e a responsabilidade com alguém. Um pai que estava, por exemplo, pedindo para a filha fazer supermercado, telefonar todo dia, de repente com uma companheira não vai precisar mais disso.
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Muitos filhos tentam aproximar, principalmente os pais e menos as mães, de um eventual potencial companheiro. Eles tentam apresentar: ‘Olha, tem uma senhora lá no meu escritório procurando alguém para ir ao cinema. Por que você não vai com ela?’. Muitos dos pais reclamam que eles querem favorecer um casamento a qualquer custo. Esses idosos são muito pressionados. Os pais hoje dão muito menos palpite no casamento dos seus filhos do que os filhos dão no dos seus pais.
O SEXO
Uma mãe de 70 anos dificilmente confessa a seus filhos que tem necessidades sexuais. Os filhos não aceitam isso ou aceitam muito raramente. Acham que a mãe ou o pai são assexuados, frutos de uma geração espontânea, que nunca transaram; se transaram, foi de luz apagada.
Eu falo para a filha: “Você acha que a sua mãe não gosta de sexo?”.
Ela acha abominável isso, quando a mãe acaba de me dizer na consulta que se masturba duas, três vezes por semana.
A quantidade de senhoras que vai para uma instituição de longa permanência e levam um vibrador é gigante!
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Pessoas com idade avançada não perdem a sua sexualidade. Podem modificá-la de forma a ficar socialmente mais aceita. Uma mulher de 80 anos diria, por exemplo, “olha, minha filha, que homem lindo”, quando na verdade ela gostaria de ter o contato.
Uma frase muito falada é: “O remédio que eu preciso não vende em farmácia”. Mas isso não pode ser dito aos seus filhos. Eles têm dificuldade de entender que os pais são mais do que provedores, de fazer essa transição do papel da mãe para o de mulher.
QUEIXA DE IDOSAS
Da mulher de 70, eu geralmente ouço: ‘Ele até que é interessante, mas está em busca de uma enfermeira, não de uma esposa”. Geralmente, o homem não tem a oferecer, ele tem a pedir. Às vezes, tem a oferecer uma proteção financeira, mas tende a esperar uma condição de cuidados. Não raramente homens que foram viúvos de mulheres que precisaram de cuidado, casam-se com as cuidadoras, que já conhecem a casa e sabem cuidar. Então, existe esse lado.
Uma queixa muito frequente delas: “Fui ao baile, ele me tirou pra dançar e queria saber onde a gente ia passar a noite. Eu não quero passar a noite com ninguém ainda. Eu quero namorar, jantar, ir no teatro, fazer uma série de coisas antes de passar a noite”.
Não tenho a menor duvida de que a mulher busca um companheiro, tanto que, se ele não for muito sexualmente ativo, isso não é um obstáculo. Mas se ela não for, é um obstáculo.
QUEIXA DE IDOSOS
Muito homens dizem isso de seus filhos: “Olha, eles arrumam cada mulher para mim! Eu digo deixa que eu me viro, eu me arranjo, tô muito bem sozinho”.
O filho tem que ter calma, incentivar que tanto o pai quanto a mãe tenham vida social, mas não necessariamente casamento. Devem fazer uma abordagem suave, delicada. É pior ficar empurrando. Isso vale também para a filha em relação à mãe.