Look é aliado na separação

Por Bell Kranz

Quem nunca, ao lembrar um momento da vida, recordou detalhes da roupa que usava? Sobre esse fenômeno tão feminino, a historiadora francesa Michelle Perrot tem uma expressão muito feliz: “A memória da mulher é trajada. Uma mulher inscreve as circunstâncias de sua vida nos vestidos que ela usa, seus amores na cor de uma echarpe ou na forma de um chapéu. Uma luva, um lenço são para ela relíquias das quais só ela sabe o preço”.

Verdade. Tanto que algumas dessas peças, tecidas de emoções e cenas carregadas de sentido, permanecem eternamente no guarda-roupa. A mulher até sabe que nunca mais vai usá-las, mas não consegue se desfazer de jeito nenhum.

A roupa é um tipo de memória, conta histórias do passado, mas também diz muito sobre o presente. A roupa pode traduzir o seu humor sem você precisar dar um pio. E melhor ainda: ajuda você a se sentir como quer. Daí a possibilidade de se investir em produções variadas na hora de sair: vestida para matar, para dançar, viajar, amar… e se separar!

Neste último caso, em que toda força é bem-vinda – das palavras encorajadoras da amiga ao galho de arruda atrás da orelha –, o look pode funcionar como um poderoso aliado, fornecendo uma dose extra daquele estado de espírito que você tanto necessita para encarar melhor o momento.

Por exemplo: precisa se empoderar? Esqueça o vestido gracinha de pois e a sandalinha rasteira. Ataque de blazer. Salto também dá poder. Mas se nunca usou, desista. Em matéria de desequilíbrio, basta o processo de separação.

Já para o ex-marido afetuoso, cujo maior desejo no momento é que ela sofra menos, vai uma dica: tudo, menos ficar gato. Evite qualquer bom figurino para o dia D. Uma sugestão: apareça com aquela produção que sempre arrancou dela o clássico “você vai sair na rua desse jeito?”. Por outro lado, se suspeitar que, conhecendo a mulher que teve, isso vai parecer provocação, busque outra saída, um visual que não cheira nem fede, por exemplo. Um tipo bege.

O mesmo vale para a mulher cujo ex ficou destroçado com a separação. Cogite uma calça saruel!

Já o sujeito tenso, que amanhece no dia D no melhor estilo à beira de um ataque de nervos, não pode se meter numa roupa justa, escura (marrom color block, por exemplo) e com corte acinturado. Precisa de um modelo elegante para colaborar com o mood “vou me controlar porque sou fino”, mas que ajude a descontrair – uma camisa de algodão puro, uma calça confort, sapatos bem relax e tá ótimo!

E a ex no fundo do poço?

Madamemoiselle Coco Chanel dizia que a mulher precisa de apenas duas coisas na vida: um vestido preto e um homem que a ame. Se você ficou sem o segundo, o primeiro com certeza vive no seu cafofo. Preto é chique! Mas também pode ser pesado, baixo astral. Então, pense bem! Há ainda o branco a considerar. Leve, ele traz ideia de paz para uma situação que nunca é fácil.

Por fim, caso a mulher (ou o homem) esteja querendo mais é que tudo vá para o inferno – o ex (a ex), a partilha, os advogados e o que puder lembrar esse dia –, pode se meter dentro de um modelão velho para encerrar logo essa etapa. Ou, também interessante, comprar uma roupa para inaugurar a nova fase!

Tudo isso para dizer que não existe regra, receita dos “10 melhores looks para usar na assinatura do divórcio”. Existe, sim, o desejável. Num papo sobre o assunto com a expert Lilian Pacce, ela comentou que “a roupa vai ajudar a pessoa a se colocar da maneira que deseja, mas não pode deixá-la muito distante do que ela é de verdade, porque, além de parecer falso, não vai deixá-la à vontade”.

A roupa carrega uma intenção, que pode ser nobre como as atitudes e os sentimentos que permearam todo um processo da separação, e não só o último dia e o mais burocrático. Portanto, pense no melhor mood que um look pode te proporcionar e força na peruca!

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