Voltei a Cortona nessas férias! E antes que alguém pense “Ah! Por causa do ‘Sob o Sol da Toscana’!”, comédia romântica clássica sobre o tema divórcio, aviso que quando descobri esse pedaço mágico do planeta mal sabia da história do filme e a sua relação com a cidade. E, claro, quando soube, gostei mais ainda.
A paixão pelo lugar aconteceu três anos atrás. Viajava pela primeira vez em 25 anos como turista sem a família (feito a Frances, personagem principal do longa, eu estava recém-separada). A passagem foi megaexpressa, um diazinho, mas marcou tanto que me fez voltar.
O lifestyle da Toscana é uma loucura: comida, bebida, paisagens, as pessoas (os italianos, mamma mia!), absolutamente tudo é encantador – romântico, poético, belo, sensual, altamente inspirador e animado, muito alto astral! Um salva a pátria para quem anda desiludido.
E a pequena Cortona, uma comuna etrusca que se impõe no alto de uma colina, é uma joia especial.
Uma das cidades mais antigas da Toscana, Cortona é formada por infinitas ruazinhas medievais e uma profusão de construções (mosteiro, convento, igrejas…) de até 500 anos, além de ótimos restaurantes, museus, galerias e lojas variadas.
Na única tarde que passei em Cortona, da primeira vez, saí de bike e dei de cara com a linda Bramasole, a villa centenária onde mora a americana Frances Mayes, autora do bestseller que inspirou o famoso filme.
O livro conta suas memórias ao se instalar na cidade e descobrir um universo sedutor no meio da aventura que foi reformar um casarão de 200 anos caindo aos pedaços. Desde então, nessa casa Frances já escreveu seis deliciosos livros, todos pessoais, sobre os prazeres da vida na Toscana – comida, livros, vinhos, jardins, casa, entre outros deleites.
Seus livros são traduzidos em mais de 50 idiomas. O título top, que originou o filme homônimo, esteve por mais de dois anos e meio na lista dos bestsellers do “The New York Times”. Ela e o marido, o poeta Edward Mayes, dividem o tempo entre a Califórnia (EUA), onde Frances dá aula de escrita criativa na Universidade Estadual de São Francisco, e sua casa em Cortona.
No mês passado, voltei lá de bicicleta e trouxe fotos para o Casar, descasar, recasar, que estreia hoje sua seção de viagens inspiradoras. Cortona tem um quê de destino altamente apropriado a descasados, mas é perfeito para todo viajante, seja de que estado civil for.
Segue uma amostrinha do caminho rumo a Bramasole. O ponto de partida é do tipo esplendoroso: o Giardini del Parterre, imponente jardim público em estilo francês e vistas matadoras da Toscana por todo lado.
O Giardini termina numa estradinha sinuosa e tranquila, que pode se transfigurar com a chegada de um repentino e potente vendaval. Quem assistiu “Sob o Sol da Toscana” não pode esquecer a noite tenebrosa de tempestade e um quase “ciclone” que leva uma coruja a pedir asilo no quarto de Frances (personagem de Diane Lane), que, atônita, se agarrava à imagem da santa na cabeceira da cama.
Pois é, vivenciei uma versão mirim da ventania. Várias vezes durante as andanças pelas estradinhas ao redor da cidade, mesmo em dias de sol exuberante, pulava para o cantinho da via esperando passar o que parecia ser um Fenemê vindo de trás. Era o escandaloso vendaval, que surge de supetão, mas também se manda rapidinho.
Quando você acha que se perdeu no caminho e não vai encontrar nada do que procura, surge, no meio da curva, a esplendorosa Bramasole, palavra que significa desejo, anseio (brama) de sol (sole). A casa acaba de passar por uma segunda reforma, a qual, segundo Frances, deve ter-lhe custado dois livros. Generosa, a escritora exibe no seu blog como ficou o interior da casa e os jardins para inspirar seus leitores.
A vista e todo o visual no entorno é de tirar o fôlego. Uma paz do tipo celestial que, neste dia, só foi interrompida com a chegada de duas vans bem fornidas de americanas de meia-idade que desembarcaram afoitas para ver a famosa casa.
Simpáticas, eram amigas de faculdade que programaram o reencontro durante uma viagem. Havia advogadas, professoras universitárias e profissionais da área de saúde cheias de animação para registrar o casão de todos os ângulos.”Have you came by yourself?, perguntaram. “Yes”, respondi! “Uaaaaau!”, exclamaram, fazendo um corinho. Expliquei: “Dear, quem mora em São Paulo vai para qualquer lugar sozinha” – não é, não?
Essa é a verdadeira Bramasole, a do livro. A que faz o papel no filme é outra e é alugável! Pode ser vista aqui, neste site de imóveis.
O filme, lançado em 2003, é o livro de memórias romanceado. Com humor e poesia, mostra a reviravolta na vida de uma editora de livros em viagem a Cortona. Arrasada após uma separação, decide ficar por lá, mesmo. Aos poucos, em meio a novos amigos, amores e também desilusões, ela vai se reencontrando e descobre um novo jeito de viver.
A conclusão de Frances, no final do filme, é um grande achado para guardar na manga e tirar nos momentos de sombra na vida. Anote aí: “Coisas inesperadamente boas podem acontecer, até no último momento”.