Seis de janeiro, Dia de Reis e aniversário do blog! Para comemorar esse primeiro ano, o “Casar, descasar, recasar” presenteia os jovens casais de primeira viagem com um pacote antidanos.
Afinal, junto com o bem-bom de morar juntinho de quem se ama, vem uma coleção pouco falada de chatices, as quais exigem apresentação, alerta e, se possível, estratégias de enfrentamento. Elas integram uma espécie de kit genérico de questões comuns em começo de vida conjugal cujo potencial para causar conflitos é considerável.
Não importa se o sujeito saiu da casa dos pais, de uma república ou morava sozinho. Quando divide a casa com a companheira (ou companheiro), muitas novidades surgem no dia a dia, entre ótimas e esquisitas. As deste segundo grupo podem ser simples, do tipo que o casal tira de letra, ou causar abalos sérios na relação. Tudo depende, claro, dos instrumentos que o casal dispõe para descascar o abacaxi.
As questões são essencialmente de ordem prática, do âmbito do cotidiano e, na maioria das vezes, não passam nem de longe pela cabeça dos noivinhos até o momento em que eles vão conviver sob o mesmo teto.
Segue uma lista de algumas delas para quem prefere seguir o caminho esperto da prevenção, em vez de remediar.
QUE MANIA É ESSA?
Não tem jeito, alguns hábitos só aparecem com a convivência, e as áreas da casa onde as revelações costumam ocorrer são a cozinha e o banheiro.
O namorado pode dormir todo fim de semana na casa da namorada, mas ele não é o dono da geladeira. Então, segue as regras da casa. No momento em que o espaço é dos dois, ele sai tomando água no gargalo da jarra, ataca a mousse com o dedo do meio, entre outras modos rotineiros que podem não agradar a parceira (ou parceiro).
No banheiro, o clássico das reclamações é a toalha molhada largada na cama e as fatídicas cueca, calcinha ou meias sujas no chão. E isso não é queixa de mulher em conversa com as amigas, mas um problema (pasme!) levado para o divã do analista. Quem conta é a psicóloga Helena Cardoso, que inclusive está lançando um serviço de prevenção de crise conjugal, o Véspera.
CADÊ OS MEUS SANTOS?
A máxima “gosto não se discute” é muito válida enquanto cada um tem o seu cafofo. Na hora de montar o lar comum, isso vai por água abaixo. Gostos e valores desconhecidos vêm à tona e, às vezes, feito uma bomba. É o caso do noivo de família tradicional que cresceu numa casa com altar e imagens de santos. Para a noiva, enquanto o décor era no território da sogra, estava tudo bem, não havia razão nem para comentar. Mas quando o casal está montando a própria casa e ele pergunta “cadê os santos?”, está instaurado o impasse.
Um pouco pior é a história da namorada que, ao se mudar para o apartamento dele, resolve com a melhor das boas intenções fazer uma surpresa: redecorar o insoso quarto do rapaz com muita cor, tecido florido, quadros e almofadas. “Ela quis dar a cara dela, mas foi demais para ele”, conta a psicóloga Márcia Barone Bartilotti, lembrando o que parece óbvio, mas é esquecido: recomenda-se fortemente trocar ideias com o parceiro sobre as questões pertinentes a ambos, já que a proposta é uma vida em comum.
TUDO MENOS FUTEBOL
Ele sempre foi fanático, ela sabia e tem ojeriza ao som da narração de futebol na TV. Mas isso nunca foi problema, porque todo dia de jogo ele se mandava para a casinha dele e só via a moça depois da partida. Quando eles se casam, acabou a moleza: a transmissão da partida vai rolar na sala de estar. Sabendo disso, a sugestão é um providencial combinado.
FILHOS ETERNOS
Um problema bastante sério, além de esquisito e comum atualmente: adultos que são tão filhos (para não dizer imaturos) que não conseguem ser um casal. “São tão dependentes emocionalmente da mãe, do pai, tão vinculados à família original, que esta permanece sendo a sua prioridade, e isso vai dar problema no casamento”, afirma Helena. A pessoa sai da casa na prática, mas não emocionalmente e, no novo lar, vai viver como se estivesse brincando de casinha, o que para o parceiro não tem graça.
Um exemplo chocante é o da mulher que na hora de dar à luz quer a mãe junto na sala de parto. Incrível, mas o fenômeno é menos raro do que se pensa.
Outro caso típico dessa dificuldade de abrir mão da vida de solteiro para se dedicar à nova construção de vida: dar a chave da casa para a mãe entrar e sair quando bem entender. “Mas é minha mãe, como vou privá-la de entrar na minha casa?”, justificam filhas marmanjas e casadas.
Às vezes, a pessoa quer carregar a vida anterior para o casamento, diz Marcia. E a maior bandeira desse fenômeno é, como lembra Helena, continuar chamando a casa dos pais de “minha casa”.
O COMBINADO NÃO SAI CARO
O ditado popular acima não podia ser mais adequado aos casais quando o assunto é finanças. O planejamento do dinheiro (quanto se ganha e quanto e com o que se gasta) merece atenção especial. Essa história de cada um paga o seu ou então uma hora um paga, depois o outro é uma grande roubada. Se não combinar antes (planejar e administrar direitinho as finanças do casal), vai sair caro para os dois. Até a compra de um presente para o parceiro pode causar discórdia. Helena conta o caso do marido que reclamou do preço do mimo que a mulher comprou para ele no aniversário: “Você me deu um presente muito caro e comprometeu o nosso orçamento!”.
Cada um precisa ter o seu dinheiro para gastar com as suas necessidades e os seus desejos pessoais, além da receita comum da casa. Um bom planejador financeiro pode ajudar, ensinando métodos eficazes de administração do dinheiro e do seu uso quando se está vivendo junto.
Os vínculos pré-casamento, às vezes, precisam passar por um ajuste, especialmente se existem práticas invasivas ou hostil a um dos parceiros ou se interfere de alguma maneira na vida em comum, como diz Márcia. Por exemplo: o amigo do peito que sempre teve a chave do apartamento agora talvez tenha que devolvê-la para o conforto do casal.
SERVIÇOS DOMÉSTICOS: QUEM FAZ O QUÊ?
Divisão de tarefas de casa pode ser um perereco. Por diferentes razões, esse assunto é mal-administrado – às vezes, os jovens nem tiveram pais morando junto em casa para aprender com o exemplo. Por essas e outras, vale reservar o tema para o topo da lista de combinados.
TIM-TIM!
Mas, não, por favor, não suspenda o casório! Este presente, que pode parecer de grego, está mais para mineiro – cauteloso, prevenido. Afinal, a seleção de problemas prosaicos e banais que os jovens casais levam hoje para os consultórios e para os tribunais demonstram a baixa capacidade de tolerância e a ideia sombria e desanimadora de que hoje em dia o que permite casar é a separação. Isso é muito brochante. Força na peruca!
Parabéns e vida longa e boa aos jovens casais e a este blog!