Casar, descasar, recasarAtitude – Casar, descasar, recasar http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br Wed, 20 Apr 2016 18:43:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Casamento fora do armário: quem é o noivo e quem é a noiva? http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/03/31/casamento-fora-do-armario-quem-e-o-noivo-e-quem-e-a-noiva/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/03/31/casamento-fora-do-armario-quem-e-o-noivo-e-quem-e-a-noiva/#respond Thu, 31 Mar 2016 23:43:40 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2843 Ser gay no Brasil não é fácil. Comemorar um casamento, então, com festa, bolo, flores, cerimonialista e toda a parafernália festiva é um desafio quase hercúleo para os casais do mesmo sexo.

O grau de sensibilidade e conhecimento das empresas especializadas em eventos e seus fornecedores costuma ser próximo do zero. Se são duas lésbicas, quem leva o buquê? Uma vai de noiva e outra de noivo? E o noivo gay entra com o pai ou com o seu parceiro? Tem daminha? Padrinho? Rola chá de cozinha?

Se por um lado o assunto ainda é novo, cercado de mistérios e desinformação, por outro, o preconceito rola solto. E a última coisa que um gay deseja é sofrer discriminação no dia mais feliz da sua vida. Mas corre o risco, sim, de topar com fornecedores homofóbicos na própria festa ou antes, durante os preparativos.

Mulheres se beijam em cerimônia coletiva de união estável entre casais do mesmo sexo, em São Paulo (Joel Silva/Folhapress)
Recém-casadas após cerimônia de união estável em São Paulo (Joel Silva/Folhapress)

A frustração pode acontecer logo de cara. O primeiro item escolhido costuma ser o espaço da festa, como bufês e restaurantes, e muitos deles se recusam a fazer uma cerimônia gay. Por trás de um sonoro “que pena, mas não temos data para atendê-lo” existe a ideia cruel “vich, vai ter um monte de ‘bicha’, não quero que o meu negócio fique rotulado”.

Bonequinhos de bolo de casamento em frente à Assembleia Nacional da França (Joel Saget/AFP)
Bonequinhos de bolo de casamento em frente à Assembleia Nacional da França (Joel Saget/AFP)

Mas o chamado pink money (poder de compra da comunidade GLBT) é poderoso e, assim como os héteros, gays nutrem o profundo desejo de celebrar a união com um ritual e compartilhar o amor que têm um pelo outro com os amigos e a família (quando dá). O casamento civil no cartório não basta.

Uma amiga jornalista e gay, Gisele Losada, acaba de ingressar nesse mercado com a Casamento à La Carte, que se propõe a realizar o sonho de noivos e noivas em todas as etapas do enlace – da burocracia no cartório à festa personalizada e a celebração da cerimônia. Um serviço criativo, emocionante e profissional. “De gay para gay! Sei como contar a história do casal, escrever essa cerimônia e sensibilizar os casais e os amigos”, diz Gisele.

Casamento fora do armário pede festa fora da caixinha. Mas isso não significa purpurina e arco-íris espalhados desvairadamente pelo salão adentro. O povo às vezes erra a mão.

“Esse público quer o tradicional, mas com a cara deles”, diz outra cerimonialista, Cris Coelho, dona da Festa Casamento Gay. Casadona, com marido e filhos, ela diz que tem “alma gay, com um monte de homossexual na família, irmão, tias…”. Seu maior cuidado na produção dos eventos é com os fornecedores que vão ter contato com os noivos e os convidados, caso de manobristas, garçons, seguranças e pessoal da limpeza. “Uma vez presenciei dois garçons que eu achei que estavam com o riso solto demais, riso frouxo, sabe?”.

E já pensou que desagradável a mãe do noivo estar no banheiro e ouvir comentários preconceituosos sobre o filho?

A batalha pela aceitação da diversidade também pode se dar num casamento hétero, como é o caso da cerimônia religiosa que Cris Coelho está organizando. A noiva quer a irmã, que faz tratamento para mudança de sexo, entrando na igreja de madrinha, vestida de homem e acompanhada da parceira. Venceu a parada! Mas trocar essa ideia com a comunidade da igreja não foi muito simples.

MISTÉRIOS

Afinal, em um casamento de duas mulheres quem leva o buquê?

Às vezes uma delas, às vezes as duas e às vezes nenhuma!

E quem é a noiva?

Bom, às vezes há duas e às vezes não há nenhuma. E algumas vezes há uma pessoa se sentindo uma noiva. Na verdade, não há regras.

Chá de panela, daminha levando alianças? Rola? Casais gays não são chegados em tradições (menos de 15% a incorporam). Eles gostam mesmo é de quebrar as tradições ou inventar as suas próprias.

Esses e outros esclarecimentos são contribuições do Mr. & Mr., site brasileiro dedicadíssimo a noivas e noivos gays. Com textos saborosos, traz uma coleção de informações variadas – de dicas de festa, decoração e moda para o dia D a notícias sobre direitos relativos a contrato pré-nupcial, adoção de criança ou guarda compartilhada de animais! Também compartilha as lindas histórias de amor enviadas pelos seus leitores.

As autoras são duas jovens solteiras, héteros e cheias de amigos gays. O site “é uma prova de amor a eles, de que sim, eles devem sonhar com este momento lindo, mágico e especial como todo mundo e que nós vamos ajudar em tudo que pudermos”, explicam.

E eu fico aqui sonhando em ir a um casamento gay. “É muito mais emocionante. Eu choro do início ao fim”, diz a jornalista Laura De Barros Falcão Fraga, do Mr. & Mr.

Claro! Eles são mais livres e estão comemorando uma conquista árdua e de algo desejado demais.

O Casar, descasar, recasar, assim como o Mr. and Mr., não acredita que pessoas do mesmo sexo que se amam vão arder no inferno.

Tim-tim pra eles!

 

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Para escapar de uma Quarta-Feira de Cinzas sem fim http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/02/10/para-escapar-de-uma-quarta-feira-de-cinzas-sem-fim/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/02/10/para-escapar-de-uma-quarta-feira-de-cinzas-sem-fim/#respond Wed, 10 Feb 2016 18:01:01 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2733 Algumas atitudes de recém-descasados são capazes de transformar o resto do ano numa interminável e triste Quarta-Feira de Cinzas.

Segue um bloco de gifs com 8 dessas atitudes com alto poder de destruição. Para saber mais, leia as respectivas reportagens publicadas aqui no blog.

1. Dar uma de mãe do enteado

madrasta

 

2. Acorrentar o ex que não quer mais o casamento

titanic

 

 

3. Chamar o ex de falecido

barmey

 

5. Fazer a louca e afastar as crianças da família do ex

Phoebe_stop_the_madness

 

6. Seguir todas as dicas de superação que vê na internet

need help computador

 

7. Transformar a separação em um plano de vingança

malevola

 

8. Afastar-se da vida escolar dos filhos

homer

 

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10 atitudes para recém-separados que dão samba o ano todo http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/02/06/10-atitudes-para-recem-separados-que-dao-samba-o-ano-todo/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/02/06/10-atitudes-para-recem-separados-que-dao-samba-o-ano-todo/#respond Sat, 06 Feb 2016 12:58:42 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2552 Alô, comunidade!

O Bloco dos Gifs desfila aqui dicas campeãs, selecionadas especialmente para a ala dos recém-separados.

São 10 atitudes que foram destaque de textos publicados no blog e que, não tem erro, dão samba o ano todo!

 

1. Curta momentos sozinho com o filho

pai dancarino

Filhos de pais separados gostariam de dizer para a madrasta: “Tem horas que eu quero ficar só com meu pai, e não é porque eu não gosto de você”.

 

2. Se jogue em uma viagem para lugares inexplorados

aventura

“Coisas inesperadamente boas podem acontecer, até no último momento.”

 

 

3. Adote o vibrador

 

sex on the city

Ele não substitui carinho, beijos ou sussurros, mas apimenta o sexo e desperta libidos adormecidas.

4. Seja a melhor versão de você mesmo 

 

 

cinderella

Reconhecer os seus erros (e não apenas os do outro) e mudar algumas atitudes podem fazer de você uma pessoa muito melhor.

 

5. Acredite: pai pode dar conta das crianças sozinho

rabo de cavalo

Trocar fralda, pagear a criança na festinha ou comprar o vestidinho são desafios de pai superáveis!

6. Foque em você, e não nele

rainha blair

Focar em si vai dar a você a chance de se tornar uma pessoa melhor e mais segura.

 

 

7. Foque em você, e não nela

great gasby

Com quem ela está? Que tipo de cara ele é? É difícil não ficar obcecado pelo que ela está fazendo. Uma saída: defina um objetivo pelo qual trabalhar após o divórcio.

 8. Identifique e realize seus desejos sexuais

 

 

50 tons de cinza dois

Encarar a vida sexual pós-separação não é fácil, mas os ganhos – em forma de descobertas e redescobertas – são garantidos e têm tudo a ver com o exercício da autonomia de um modo em geral.

 

9. Separe o apego….

 

my precious

…do amor de verdade

orgulho e preconceito

A monja tibetana Jetsunma Tenzin Palmo explica a diferença entre apego e amor genuíno: “O apego diz: ‘Eu te amo e por isso quero que você me faça feliz’, já o amor genuíno afirma: ‘Eu te amo, por isso quero que você seja feliz. Se isso me inclui, ótimo. Se não, eu só quero que você seja feliz'”.

10. Acabe o casamento, mas sem perder a integridade

 

integridade

Não importa se você é a vítima ou o algoz na história, a melhor saída, na hora de colocar fim à relação, é jamais perder o respeito pelo outro, por você mesmo e pela sua história.

 

 

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6 razões para o segundo casamento ser melhor http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/01/21/6-razoes-para-o-segundo-casamento-ser-melhor/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/01/21/6-razoes-para-o-segundo-casamento-ser-melhor/#respond Thu, 21 Jan 2016 13:25:32 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2589 Você fica mais determinado e se empenha mais para dar certo? Calejado do primeiro, tira de letra uma batelada de problemas? Não é bobo de repetir os erros passados? Há quem acredite que o segundo casamento tem tudo para dar certo (e se não der, é porque haverá outros pela frente!).

Confira aqui meia dúzia de boas razões para investir no casamento # 2.

1. Você deixa de buscar a felicidade no outro para, primeiro, ser feliz consigo mesmo

Cris Lobo

“Como eu mudei! Por muito tempo, busquei felicidade no outro, quando na verdade era eu quem precisava ser feliz e fazer o outro feliz. Para aprender, precisei optar por ficar sozinha por um tempo. Não foi nada fácil, mas valeu muito a pena. Eu me descobri e aprendi a me bastar mesmo quando não tinha namorado. Hoje, eu amo o meu futuro marido, mas amo a mim e o meu filho primeiro.”   Cristiane Lobo, 35, é assistente administrativa, mora no Rio de Janeiro e casa pela segunda vez em abril; o primeiro casamento durou dois anos.

 

2. Você não perde tempo com o que não agrega à relação

Adriana Ochucci

“Neste segundo casamento, meu marido e eu estamos mais experientes e não perdemos tempo com coisas que não vão agregar nada à nossa relação. Também aprendi que o diálogo é necessário sempre. Na primeira união, eu preferia me fechar em vez de discutir e deixava os outros, meu ex-marido e sua família, ditarem regras na minha vida. Com o meu atual marido, converso muito sobre tudo, filhos, família… Para algo ser feito, tem que estar bom para os dois e, se há cumplicidade, não há desavença.”   Adriana Ochucci, 41, é dona de casa, mora em Amparo (SP) e está casada há um ano; o primeiro casamento durou sete anos.

 

 

3. Somos maduros para não repetir os erros cometidos no primeiro casamento

Elaine “O casamento é melhor da segunda vez porque temos maturidade para não cometer os mesmos erros. A imaturidade traz insegurança e o ciúmes fica mais intenso. Mesmo sem motivos, vêm o medo de ser trocada por outra pessoa, e brigas bobas, por orgulho, porque não aceitamos que as pessoas sejam diferentes de nós e queremos tudo do nosso jeito. Óbvio que ainda sinto ciúmes do meu marido, mas hoje sou mais sutil. Já entendo que, você ficando ou não no pé da pessoa, se ela quiser fazer algo errado, ela vai fazer. Desta forma vivemos mais tranquilos, sem tantas cobranças. Vou vivendo um dia de cada vez e acreditando que vai durar.”   Elaine Ribeiro, 25, é dona de casa, mora em Mogi das Cruzes (SP) e casa pela segunda vez em outubro; o primeiro casamento durou dois anos .

 

4. Você é mais tolerante e paciente e sabe mais o que quer

bianca e luciano “Nascemos para ser felizes e temos essa chance no primeiro casamento – ninguém casa com a intenção de se separar. Mas na segunda vez estamos certos do que queremos. Também aprendi a ser mais tolerante, paciente e hoje estou aberta, por exemplo, a receber a filha dele como se fosse minha filha. Não faria isso antigamente, sempre evitei homens com filhos. O melhor que o segundo casamento pode proporcionar é uma nova possibilidade de encontrar alguém que se afine com quem você é e, ao mesmo tempo, retribuir de modo igual, pois você está tranquilo e maduro para isso. Eu tive muita sorte (ou sabedoria).”   Bianca Marcelino, 35, é analista de comércio exterior, mora em São Paulo e casa em dezembro pela segunda vez; o primeiro casamento durou oito anos.

 

5. Você sabe que é preciso fazer concessões, mas também conhece os seus limites 

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“Segundo casamento. Quando ele acontece você para e pensa: tenho sorte por ter encontrado uma pessoa maravilhosa, a vida me deu uma segunda chance! Mas a verdade é que não foi a vida, foi você. São suas escolhas, suas entregas. No segundo, você está mais maduro. Entende que é preciso fazer concessões numa relação, mas, ao mesmo tempo, já sabe o que é muito caro para você abrir mão. Você se conhece o suficiente para entender seus próprios limites na relação. Outra vantagem é aprender a dar mais valor às pequenas coisas, aos detalhes que podem passar despercebidos na correria do dia a dia. Você sabe que é preciso muito mais do que amor para segurar uma relação por muitos anos. E fica muito mais atento a tudo isso, tem muito mais ferramentas pra cuidar de uma nova relação e sabe muito melhor o que quer e o que doar para o outro. O segundo tem tudo pra dar certo. É correr pro abraço e ser feliz!”.  Pamela Lang, 33, é jornalista, mora no Rio de Janeiro e está casada, pela segunda vez, há quatro meses; o primeiro durou seis anos.

 

6. Você não faz tempestade em copo d’água por causa de um conflito

Anielly Praes e Lucas Almeida

“Casar da segunda vez é melhor porque você já está mais preparado para lidar com situações de conflito sem transformar tudo em uma tragédia, não faz uma tempestade em copo d’água a cada nova discussão. Entende que ciúmes em excesso é destrutivo e que, se você estiver com alguém que não te incentiva a ser melhor, nada fará sentido. Eu era muito novo quando casei na primeira vez, tinha 18 anos e não tinha a visão que tenho hoje.”   Lucas Lana Santiago Almeida, 23, é motorista de cargas perigosas, mora em Nova Lima (MG) e casa pela segunda vez em outubro; o primeiro casamento durou quatro anos.

 

 

 

 

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O filme “As Sufragistas” e o anúncio do Boticário http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/01/13/o-filme-as-sufragistas-e-o-anuncio-do-boticario/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/01/13/o-filme-as-sufragistas-e-o-anuncio-do-boticario/#respond Wed, 13 Jan 2016 18:21:55 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2555 O título acima parece um disparate: o excelente filme sobre o fundamental movimento feminista do começo do século 20 na Inglaterra fazendo par com uma propaganda de cosméticos.

O primeiro é imperdível; o segundo, lamentável (no que tange a conceito, e não a batom, que eu sempre carrego na bolsa), e ambos tratam da relação entre homens e mulheres.

O sufragismo faz parte da chamada primeira onda do feminismo, cujos adeptos (sufragistas) lutavam pelo direito das mulheres de votarem numa época em que ser do sexo feminino era dureza. O tratamento ia além da desigualdade. Era violento, desumano, injusto, do tipo escravagista (elas trabalhavam mais do que eles, ganhavam menos e entregavam o salário no final do mês para o marido); os casamentos eram abusivos; as mães tinham zero de direito sobre os filhos…

Um pulão para este século e chegamos à quarta onda feminista, segundo definem alguns especialistas. Marcadamente jovem e nascido ou vitaminado no ambiente digital, o movimento é multifacetado – defende a não discriminação de homossexuais, transexuais, negros, entre outros. Defesa de direitos humanos parece ser a liga entre as diferentes causas.

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Protesto de mulheres em outubro de 2015 contra o presidente da Câmara Eduardo Cunha e o Projeto de Lei 5069/13, que dificulta o aborto legal (Foto Keiny Andrade/Folhapress)

Daí vem o Boticário e lança, no mês passado, uma campanha de produtos de beleza focada no divórcio. Agradeço aos respectivos criativos por trazerem o assunto à tona de forma, digamos, polêmica – nas redes sociais, o anúncio é elogiado por algumas mulheres e acusado de machista por outras. Prefiro chamá-lo de tolinho e infantil, o que subentende irresponsável. Aliás, o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) abriu processo para analisar a campanha após denúncias de uma mulher e dois homens dos Estados de SP, Rio e Santa Catarina, que acusam a publicidade de reforçar estereótipos machistas.

A lei do divórcio foi uma conquista feminina. Para quem não sabe, nos anos 60 e início dos 70, auge da ditadura militar no Brasil, uma das maiores desgraças era ser mulher desquitada. Profundamente estigmatizada, ela ficava a alguns passos da Geni, personagem do clássico de Chico Buarque, da mesma época.

Outro dia, uma amiga de primário lembrou uma cena bizarra no colégio de freiras onde estudávamos, no final dos anos 60. A diretora entrou na sala para dar um aviso e uma orientação: duas novas alunas estavam chegando na escola e nós não devíamos conversar muito com elas porque eram filhas de pais separados.

Coincidentemente, tinham o mesmo nome e perfis distintos. Uma era ruiva, alta, magra e introspectiva; a outra, de olhos verdes e do tipo exuberante, fazia o gênero rebelde. Ambas passavam uma certa leveza que agradava. Mas deviam ser evitadas porque as mães naturalmente não “prestavam”, já que não mantiveram o casamento, e representavam uma ameaça social.

Esse tipo de machismo sobrevive de maneira não explícita, sutil. Uma mulher divorciada hoje ao ser apresentada, muitas vezes, é vista como disponível, além de causar receio nas outras mulheres de que ela “roube” algum marido.

Preconceitos, estereótipos e atitudes machistas por parte de homens e mulheres permeiam a vida a dois nas diferentes áreas da vida – jurídica, financeira, saúde, social, e por aí vai –­ e também fazem o processo de rompimento pior do que naturalmente é. Por exemplo? A eterna culpa da mulher por não dar conta como gostaria de casa, trabalho, filhos e marido. Até quando ela pode delegar o serviço doméstico, pagando para outras mulheres, a culpa persiste. Por trás disso, existe uma construção machista baseada na máxima de que o âmbito privado é de responsabilidade da mulher, apesar de a casa e os filhos serem do casal.

A mulher ainda se deixa aterrorizar pela cultura da culpa quando abre mão da vida conjugal, pedindo o divórcio. A lógica vigente é mais ou menos essa: “Se você rejeitou o que a sociedade diz que é o melhor (casar), então o problema só pode ser com você”, afirma Viviana Santiago, pedagoga e especialista em gênero da ONG Plan International Brasil, lembrando que livros infantis, novelas e outros produtos culturais ensinam que o destino da mulher é ter um príncipe que virá salvá-la do mal. Como, portanto, não aceitar isso?

Há ainda quem aguenta um casamento ruim por medo de perder o círculo de amizades proporcionado pelo marido, que por sinal não sofre desse medo, da dependência do meio. “O problema é que, para muitas mulheres, a identidade se faz a partir do casamento”, afirma Adélia Moreira Pessoa (SE), advogada e presidente da Comissão de Gênero e Violência Doméstica do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família).

A advogada alerta para uma realidade triste e cruel: a resistência de muitas mães ao modelo da guarda compartilhada. Uma alegação frequente é a de que o pai não sabe cuidar da criança. Esse é outro pensamento machista construído durante a infância, em casa, quando os pais educam a menina para a ser a cuidadora e o menino, o mantenedor. Incrível essa mentalidade de uma época em que nem existia divórcio se manter hoje, quando os movimentos de casar, descasar e recasar são tão frenéticos, e a guarda compartilhada representa um grande avanço para as famílias ­– filhos e pais.

“Temos que mudar a nossa cabeça. A mulher precisa apoderar-se e ser dona de sua história”, afirma Andréa. Mas, convenhamos, não é pelo make. O recurso da beauté é ótimo, superválido, mas, desculpe o trocadilho, é perfumaria.

Pó compacto no rosto não basta. Iluminador dura pouco. O remédio para ajudar a enfrentar um dos momentos mais difíceis da vida é de outra tessitura; o boticário (antigo nome para farmacêutico) não tem para vender.

Se o objetivo da campanha, como informa a empresa, é melhorar a autoestima da consumidora, melhor seria deslocá-la desse papel deplorável de objeto descartável. Por que elas não responderam à mesma pergunta feita aos maridos para que pudessem falar também sobre eles? E por que não melhorar a autoestima dos ex? Homens também sofrem com divórcio.

 

 

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Um ano de blog e o presente vai para os noivos: um pacote anticrise http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/01/06/um-ano-de-blog-e-o-presente-vai-para-os-noivos-um-pacote-anticrise/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/01/06/um-ano-de-blog-e-o-presente-vai-para-os-noivos-um-pacote-anticrise/#respond Wed, 06 Jan 2016 16:05:24 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2525 Seis de janeiro, Dia de Reis e aniversário do blog! Para comemorar esse primeiro ano, o “Casar, descasar, recasar” presenteia os jovens casais de primeira viagem com um pacote antidanos.

Afinal, junto com o bem-bom de morar juntinho de quem se ama, vem uma coleção pouco falada de chatices, as quais exigem apresentação, alerta e, se possível, estratégias de enfrentamento. Elas integram uma espécie de kit genérico de questões comuns em começo de vida conjugal cujo potencial para causar conflitos é considerável.

Não importa se o sujeito saiu da casa dos pais, de uma república ou morava sozinho. Quando divide a casa com a companheira (ou companheiro), muitas novidades surgem no dia a dia, entre ótimas e esquisitas. As deste segundo grupo podem ser simples, do tipo que o casal tira de letra, ou causar abalos sérios na relação. Tudo depende, claro, dos instrumentos que o casal dispõe para descascar o abacaxi.

As questões são essencialmente de ordem prática, do âmbito do cotidiano e, na maioria das vezes, não passam nem de longe pela cabeça dos noivinhos até o momento em que eles vão conviver sob o mesmo teto.

Segue uma lista de algumas delas para quem prefere seguir o caminho esperto da prevenção, em vez de remediar.

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Noivos ganham um pacotão preventivo contra chatices prosaicas de começo de vida conjugal

QUE MANIA É ESSA?

Não tem jeito, alguns hábitos só aparecem com a convivência, e as áreas da casa onde as revelações costumam ocorrer são a cozinha e o banheiro.

O namorado pode dormir todo fim de semana na casa da namorada, mas ele não é o dono da geladeira. Então, segue as regras da casa. No momento em que o espaço é dos dois, ele sai tomando água no gargalo da jarra, ataca a mousse com o dedo do meio, entre outras modos rotineiros que podem não agradar a parceira (ou parceiro).

No banheiro, o clássico das reclamações é a toalha molhada largada na cama e as fatídicas cueca, calcinha ou meias sujas no chão. E isso não é queixa de mulher em conversa com as amigas, mas um problema (pasme!) levado para o divã do analista. Quem conta é a psicóloga Helena Cardoso, que inclusive está lançando um serviço de prevenção de crise conjugal, o Véspera.

CADÊ OS MEUS SANTOS?

A máxima “gosto não se discute” é muito válida enquanto cada um tem o seu cafofo. Na hora de montar o lar comum, isso vai por água abaixo. Gostos e valores desconhecidos vêm à tona e, às vezes, feito uma bomba. É o caso do noivo de família tradicional que cresceu numa casa com altar e imagens de santos. Para a noiva, enquanto o décor era no território da sogra, estava tudo bem, não havia razão nem para comentar. Mas quando o casal está montando a própria casa e ele pergunta “cadê os santos?”, está instaurado o impasse.

Um pouco pior é a história da namorada que, ao se mudar para o apartamento dele, resolve com a melhor das boas intenções fazer uma surpresa: redecorar o insoso quarto do rapaz com muita cor, tecido florido, quadros e almofadas. “Ela quis dar a cara dela, mas foi demais para ele”, conta a psicóloga Márcia Barone Bartilotti, lembrando o que parece óbvio, mas é esquecido: recomenda-se fortemente trocar ideias com o parceiro sobre as questões pertinentes a ambos, já que a proposta é uma vida em comum.

TUDO MENOS FUTEBOL

Ele sempre foi fanático, ela sabia e tem ojeriza ao som da narração de futebol na TV. Mas isso nunca foi problema, porque todo dia de jogo ele se mandava para a casinha dele e só via a moça depois da partida. Quando eles se casam, acabou a moleza: a transmissão da partida vai rolar na sala de estar. Sabendo disso, a sugestão é um providencial combinado.

FILHOS ETERNOS

Um problema bastante sério, além de esquisito e comum atualmente: adultos que são tão filhos (para não dizer imaturos) que não conseguem ser um casal. “São tão dependentes emocionalmente da mãe, do pai, tão vinculados à família original, que esta permanece sendo a sua prioridade, e isso vai dar problema no casamento”, afirma Helena. A pessoa sai da casa na prática, mas não emocionalmente e, no novo lar, vai viver como se estivesse brincando de casinha, o que para o parceiro não tem graça.

Um exemplo chocante é o da mulher que na hora de dar à luz quer a mãe junto na sala de parto. Incrível, mas o fenômeno é menos raro do que se pensa.

Outro caso típico dessa dificuldade de abrir mão da vida de solteiro para se dedicar à nova construção de vida: dar a chave da casa para a mãe entrar e sair quando bem entender. “Mas é minha mãe, como vou privá-la de entrar na minha casa?”, justificam filhas marmanjas e casadas.

Às vezes, a pessoa quer carregar a vida anterior para o casamento, diz Marcia. E a maior bandeira desse fenômeno é, como lembra Helena, continuar chamando a casa dos pais de “minha casa”.

O COMBINADO NÃO SAI CARO

O ditado popular acima não podia ser mais adequado aos casais quando o assunto é finanças. O planejamento do dinheiro (quanto se ganha e quanto e com o que se gasta) merece atenção especial. Essa história de cada um paga o seu ou então uma hora um paga, depois o outro é uma grande roubada. Se não combinar antes (planejar e administrar direitinho as finanças do casal), vai sair caro para os dois. Até a compra de um presente para o parceiro pode causar discórdia. Helena conta o caso do marido que reclamou do preço do mimo que a mulher comprou para ele no aniversário: “Você me deu um presente muito caro e comprometeu o nosso orçamento!”.

Cada um precisa ter o seu dinheiro para gastar com as suas necessidades e os seus desejos pessoais, além da receita comum da casa. Um bom planejador financeiro pode ajudar, ensinando métodos eficazes de administração do dinheiro e do seu uso quando se está vivendo junto.

Os vínculos pré-casamento, às vezes, precisam passar por um ajuste, especialmente se existem práticas invasivas ou hostil a um dos parceiros ou se interfere de alguma maneira na vida em comum, como diz Márcia. Por exemplo: o amigo do peito que sempre teve a chave do apartamento agora talvez tenha que devolvê-la para o conforto do casal.

SERVIÇOS DOMÉSTICOS: QUEM FAZ O QUÊ?

Divisão de tarefas de casa pode ser um perereco. Por diferentes razões, esse assunto é mal-administrado – às vezes, os jovens nem tiveram pais morando junto em casa para aprender com o exemplo. Por essas e outras, vale reservar o tema para o topo da lista de combinados.

TIM-TIM!

Mas, não, por favor, não suspenda o casório! Este presente, que pode parecer de grego, está mais para mineiro – cauteloso, prevenido. Afinal, a seleção de problemas prosaicos e banais que os jovens casais levam hoje para os consultórios e para os tribunais demonstram a baixa capacidade de tolerância e a ideia sombria e desanimadora de que hoje em dia o que permite casar é a separação. Isso é muito brochante. Força na peruca!

Parabéns e vida longa e boa aos jovens casais e a este blog!

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Natal em novo estilo! http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/12/24/natal-em-novo-estilo/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/12/24/natal-em-novo-estilo/#respond Thu, 24 Dec 2015 16:08:57 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2509 Natal representa uma montanha de obrigações: gastar mais, comprar presente, comer peru e panetone, distribuir lembrancinhas, brincar de amigo secreto, dividir a mesa com quem não se gosta… Ninguém, portanto, merece ser obrigado a encarar a “noite feliz” com um parente prostrado pós-separação.

Esta é uma das datas mais difíceis, se não for a pior, de atravessar no primeiro ano depois do divórcio. Não importa explorar aqui as razões, mas vale ter essa consciência e tomar a iniciativa de se proteger e poupar os outros.

Mil anos atrás, recém-casada e sem noção do que significava o baque de uma separação, digamos, pouco civilizada, uma parente compareceu à festa na minha casa algumas semanas depois de o marido ter aprontado uma sacanagem do tipo “sair para comprar cigarro e não voltar”.

NATAL CASAR
Primeiro Natal separado costuma pedir inovação

Ela devia estar tomando uns barbitúricos pesados, porque passou a noite em estado de torpor, paralisada na mesma cadeira em que desabou ao chegar na festa. Tipo morta-viva, mesmo! E contaminava todos. Quem passava perto, era arrastado por aquele espírito de mortificação.

As crianças a todo momento questionavam o que havia acontecido com aquela tia que elas conheciam, mas que parecia outra. Além do mais, havia outras quatro mulheres de luto junto com ela: suas três filhas adolescentes e a mãe idosa.

Se tem uma coisa que ninguém é obrigado a fazer nem no dia de Natal é seguir esse caminho mais fácil, apesar de doloroso, da imobilização, da entrega, do autoabandono. A saída é inovar! Caia fora do modelo tradicional dos seus natais, ao menos no primeiro ano.

Conheço a história de uma mãe de quatro meninas que, na sua estreia separada no Natal, fez uma girls night em casa – uma farra, com todas de pijaminha, muitas guloseimas, música e dança. Um pai passou a comemorar a data cada ano em uma cidade diferente. Uma outra mulher aboliu a árvore com bolas em casa. Enfim, seja criativo e imagine uma programação que vai ser mais interessante, curiosa, reconfortante…

Peço perdão por estar sugerindo mudanças no seu Natal (que começa hoje à noite) tão em cima da hora. Fiquei ocupada produzindo a inovação do meu. De todo modo, a proposta serve para qualquer ano e para passar adiante aos que venham a precisar.

Atenção, casados e famílias em geral: inovem também o Natal de vocês. Pode ficar muito mais divertido reunir, junto com a sua família, uma turma de agregados que estejam precisando de uma força neste ano. Seja porque os filhos foram morar em outra cidade, seja porque perdeu um pai ou outro familiar querido, porque está jururu com a demissão no trabalho… Lembrando ainda que amanhã você é quem pode estar precisando ser acolhido.

Seja qual for a sua crença, esse é um momento de transcendência. Portanto, mergulhe de cabeça nessa aventura maravilhosa que é a experiência da vida trocando afeto.

 

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FAQ do poliamor http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/27/faq-do-poliamor/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/27/faq-do-poliamor/#respond Fri, 27 Nov 2015 19:55:25 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2423 Rafael Machado com Sharlenn Carvalho e Angélica Amorim com quem manteve um relacionamento poliamoroso.
O trio de poliamoristas: Rafael Machado entre Angélica Amorim (esq.), com quem ficou por 4 meses, e Sharlenn Carvalho (dir.), com quem teve um relacionamento por 4 anos (Foto: arquivo pessoal)

Por Giovanna Maradei

Rolos, namoros e casamentos quase sempre acabam porque um dos parceiros se apaixona por outra pessoa. Também não são raros aqueles que dizem, ao menos no começo, que se pudessem ficariam com ambos. O que impede? O entendimento de que a prática é antiética, “coisa de puta” ou de “homem canalha”. Mas manter uma relação afetiva com duas ou mais pessoas é também coisa de poliamorista, grupo que, segundo membros do movimento, vem crescendo no Brasil, contando com adeptos dos 20 aos 60 anos de idade.

“Há cinco anos, quando começamos a organizar os encontros, reuníamos cinco pessoas, agora tivemos um evento com quase 200”, afirma o sociólogo Rafael Guimarães Machado, coordenador do grupo “Pratique Poliamor RJ”. No Facebook, o maior grupo de poliamor, “Poliamor”, reúne cerca de 9 mil participantes.

Para eles, um amor não diminui e não necessariamente anula outros. “Você não tem um ‘saco de gostar’ para distribuir uma quantidade certa para cada pessoa, se você gosta muito de um, não tem que gostar menos de outro”, afirma Machado. Além disso, se os envolvidos estão cientes e de acordo com esse formato, a traição deixa de existir.

Parece a receita perfeita para um desastre, mas tem sido a opção de muita gente que, por sinal, anda satisfeita com o resultado. Você não entende como é possível? Casar, descasar, recasar também não. Por isso, resolveu esclarecer com funciona o poliamor e montou um FAQ (perguntas mais frequentes) com uma dúzia de questões básicas. Para respondê-las, foram ouvidos os poliamoristas Rafael Machado e Cláudia Naomi Abe e exploradas páginas nas redes sociais e o site “More Than Two”, criado por Franklin Veaux, que, junto com sua companheira Eve Rickert, escreveu o livro “More Than Two – A practical guide to ethical polyamory” (Mais de dois – Um guia prático do poliamor ético). O resultado você confere aqui.

1. O que é o poliamor?

Poliamor é um termo criado em 1991 para nomear um tipo de relação amorosa no qual as pessoas envolvidas estão abertas a ter mais de um parceiro afetivo ao mesmo tempo. As regras são mutantes, variam conforme o combinado feito pelos envolvidos, mas existe uma lei imutável para todos: homens e mulheres têm direitos iguais e devem estar 100% cientes de que fazem parte de um relacionamento poliamoroso. Caso contrário, é apenas a velha e péssima traição.

2. Mas esse esquema não é o mesmo do chamado relacionamento aberto?

Não. Aliás, um relacionamento poliamoroso pode ser fechado. Não é muito comum no Brasil, mas se você se relaciona com outras duas pessoas e vocês não querem mais gente envolvida na história, este relacionamento é poliamoroso, mas não é aberto.

Além disso, os casais que têm um relacionamento aberto, geralmente, só concordam que o parceiro se relacione com outra pessoa quando é “apenas por sexo”. O envolvimento emocional está proibido. No poliamor, essa barreira não existe. Uma pessoa pode até estabelecer relacionamentos exclusivamente sexuais com outras se quiser.

3. Mas então é um namoro a três?

Existem vários formatos de poliamor. Casal, trio ou grupo totalmente aberto ou com restrições (envolvimento com pessoas de fora do grupo desde que sejam de outro círculo social ou devidamente aprovadas pelo grupo). Trio ou grupo fechado, no qual as pessoas só podem se relacionar entre si. E até o chamado mono/poli, no qual um dos parceiros é poliamorista, mas o outro, por escolha, permanece monogâmico.

4. É o modelo perfeito para quem tem medo de se comprometer!

Não exatamente. Existem pessoas que descobrem o poliamor porque tiveram uma grande decepção amorosa e não querem mais o comprometimento enquanto fidelidade monogâmica. No poliamor, uma pessoa não se compromete a ter um relacionamento exclusivo com outra, mas deve cumprir uma série de acordos e com mais de um parceiro! Conclusão: para dar certo, não dá para ter fobia de compromisso.

5. Quer dizer que o esquema não é liberou geral?

Você é livre para ter mais de um parceiro, mas, como em todo relacionamento, existem regras e necessidade de defini-las abertamente. Não existe nada preestabelecido, os envolvidos combinam tudo a cada relação: como proceder quando quiser sair com outra pessoa; se um ou mais do grupo tem prioridade… Ficar com outra pessoa não é considerado traição, mas contrariar o acordo muitas vezes é.

6. Mas sempre tem um parceiro que é mais importante, não?

Em alguns casos existe, de fato, um ou dois parceiros que ganham prioridade. São pessoas com quem você está há mais tempo, faz mais planos para o futuro… Mas de forma alguma isso é uma regra, e com o tempo as preferências podem mudar.

7. Para entrar no poliamor é preciso ser bissexual?

Não. Dentro do grupo você vai encontrar modelos variados de orientação sexual. Segundo estudo de acadêmicos e representantes do movimento no Brasil, a maioria dos homens poliamoristas se identifica como heterossexual; depois, vêm os bissexuais e, por fim, homossexuais. Já entre as mulheres, a maioria se diz bissexual; em segundo lugar, estão as heterossexuais e, em terceiro, as homossexuais. Ou seja, cada um se relaciona da forma que acha melhor.

8. E como é que fica o ciúme?

Ele existe, mas o esforço para superá-lo é grande. Uma boa DR (discutir a relação) é sempre incentivada para que os parceiros acertem os ponteiros. Além disso, a prática ajuda. Com o tempo, ao perceber que seus amados vão se encontrar com outros, mas sempre voltam e que, mesmo saindo com outras pessoas, você continua tendo vontade de ficar com todas, o ciúme vai perdendo o sentido e, consequentemente, diminuindo. Recomendação número 2: conversar com outros poliamoristas sobre o assunto. Os experimentados ajudam os novatos a perceberem que, ao contrário do que os amigos monogâmicos costumam dizer, não sentir ciúmes em determinados casos pode ser absolutamente normal.

9. E na hora de construir uma família, ter filhos, abre-se mão do poliamor, certo?

Errado. Existem vários casos de pais poliamoristas. A responsabilidade de cada adulto em relação à criança varia conforme o formato da relação – se todos moram juntos, se os parceiros da mãe e/ou do pai frequentam a casa ou não, se os pais são divorciados e só um deles é poliamorista…. O que parece não mudar é a facilidade dos pequenos em compreender a situação e o papel de cada uma daquelas pessoas na sua vida.

10. Mas eles podem se casar? Dá para oficializar uma relação poliamorista?

O comum é que as pessoas não oficializem, mas não é uma regra. No Brasil, existem dois trios que tiveram sua união oficializada. O primeiro, composto de um homem e duas mulheres, obteve o registro em 2012 na cidade de Tupã (SP). O segundo celebrou a união em outubro deste ano no Rio de Janeiro e é composto por três mulheres. Nestes casos, geralmente, todos os direitos concedidos aos casais que estabelecem uma união estável devem ser concedidos aos três envolvidos.

11. No caso de separação o sofrimento é menor, não?

Sim e não. Se você está em um relacionamento poliamoroso com outras duas pessoas e uma decide terminar, você sofre como em qualquer outra separação, mas de fato tem a sorte de ter outra pessoa amada. Por outro lado, quando mais de uma pessoa termina o relacionamento com você, o sofrimento é dobrado ou até triplicado. Ninguém sofre pelo conjunto, mas por cada uma das separações, pela falta que cada um vai fazer em sua vida.

12. Achei interessante. Onde eu encontro essas pessoas?

A internet é a melhor forma de fazer um primeiro contato. Existem diversos grupos espalhados pela redes sociais que se comunicam on-line e também promovem encontros, debates, rodas de conversa.

Mas é preciso estar atento para garantir que você está em um grupo em que as pessoas são realmente poliamoristas, e não estão apenas querendo trair seus parceiros ou promover um encontro sexual com vários. Entre os mais sérios e conhecidos estão o nacional, Poliamor Brasil, e também o regional, Pratique Poliamor RJ.

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Charlotte Rampling e o sentido das bodas http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/23/charlotte-rampling-e-o-sentido-das-bodas/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/23/charlotte-rampling-e-o-sentido-das-bodas/#respond Mon, 23 Nov 2015 15:48:55 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2394 45years-1
No papel da protagonista Kate, em “45 Anos”, Charlotte Rempling levou o Urso de Prata no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Foto divulgação)

Sessenta anos de casamento! Sabe o que é isso? Nem o padre que celebrou a digníssima cerimônia sabia. Em uma das igrejas mais tradicionais de São Paulo, o casal de seus 80 anos, meus queridos tios, entrou devagarinho, suave, mas com vigor, rumo ao altar para a renovação dos votos.

Todos se emocionaram por causa do clima de delicadeza, ternura, serenidade que reinou na cerimônia. A “noiva” usava um longo azul claro, bordado de pedrinhas brilhantes, e o noivo, terno escuro e gravata da cor da cabeleira, prateada. No altar, estavam rodeados pelos filhos e netos, os padrinhos – e incontestáveis testemunhas.

Para contrastar, naquela noite de sexta-feira de chuva pesada na cidade, ruidosos jovens convivas do casamento seguinte se amontoavam na entrada e, quando já não era mais possível, “invadiram” a igreja. Afinal, o padre não finalizava nunca os trabalhos, estava claramente maravilhado com aquela celebração que, sabe-se lá Deus, se ele veria outra vez na vida.

Boda vem do latim vota, que significa promessa, e é isso que se vai fazer numa cerimônia de bodas (no caso, foi de diamantes), renovar a promessa feita no dia do casamento.

Daí, festança boa à parte, surge a questão: precisa prometer mais alguma coisa depois de 60 anos de vida em comum? Essa, porém, é uma mentalidade bem tacanha de quem vê o idoso como um ser vazio de expectativas e cheio de certezas, especialmente a respeito do futuro de um casamento de décadas.

O filme “45 anos”, do diretor e roteirista inglês Andrew Haigh, lançado recentemente, mostra que septuagenários podem sofrer tão profundamente de ciúmes, desconfiança e angústia existencial como qualquer jovem amante (trailer abaixo).


Dois ícones do cinema britânico, Tom Courtenay, 78, e Charlotte Rampling, 69, que levaram o Urso de Prata de melhor ator e atriz no Festival de Berlim, fazem o papel de Kate e Geoff Mercer. O casal se prepara para comemorar bodas de safira, 45 anos de casamento. Na semana da festa, ele recebe uma carta com a notícia de que o corpo de seu primeiro amor, Katya, desaparecida nos Alpes suíços há mais de 50 anos, foi encontrado (ele estava com ela quando o acidente aconteceu). A notícia estremece o maduro e sólido vínculo conjugal.

Geoff fica desorientado com a descoberta do corpo da ex-namorada, que está conservado, literalmente congelado pelo tempo, tal qual era quando ambos namoravam. Vêm à tona informações da relação que Kate não sabia. O comportamento do marido muda, e ela então parte para a espionagem.

Não vai fuçar o WhatsApp dele nem invadir sua caixa postal, mas o sótão da casa, para onde ele vai quando sai da cama de madrugada. Lá ela descobre seus segredos: um diário e slides com fotos de Katya.

O fantasma da ex assombra o casamento. A mulher se sente traída por ele no compromisso de dizer sempre a verdade. Nem tudo do caso de Geoff com a antiga namorada havia sido contado. Mas ele não mentiu, omitiu. E aí? Isso é traição? Quando diz amargurada que sempre foi uma boa mulher para ele, sinaliza um equívoco comum nas parcerias, acreditar ser responsável pela felicidade do outro, quando ser pela sua própria já é uma vitória.

Kate tem o lado mulher-mãe bem desenvolvido, que cuida (não se limita a lembrá-lo de tomar seus remédios, mas os entrega com o copo d’água) e que dá lá algumas ordens.

A cena final, um show de interpretação da bela Rampling, uma das poucas estrelas que aceitou as marcas do tempo no rosto, cabe diferentes interpretações. Vale a pena conferir.

Li só elogios ao filme e ouvi críticas de público sobre uma possível “superficialidade” do roteiro. Isso talvez porque o filme está a anos luz de distância da imagem caricatural que se faz das pessoas mais velhas, é megarealista, muito humano.

Os casamentos, como as pessoas, podem envelhecer lindamente ou não. Renovar, portanto, faz todo o sentido.

Leia mais sobre relacionamentos entre idosos

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S.O.S. Madrastas http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/13/s-o-s-madrastas/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/13/s-o-s-madrastas/#respond Fri, 13 Nov 2015 20:44:31 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2357 “Casar, descasar, recasar” prossegue firme no seu projeto “só amor” para madrastas e enteados. A meta é colaborar para tornar mais tranquila a relação, em geral conturbada, dos filhos com a nova mulher do pai.

Descobrir o que se passa na cabeça dos menores quando eles se veem obrigados a se relacionar com essa nova pessoa na família ajuda a madrasta a entender muitas das reações da criança. Esse foi o tema da primeira reportagem publicada aqui, Os 10 segredos de enteado que toda madrasta deve saber.

Feita essa descoberta, é chegada a vez de dar voz a elas e discutir a melhor forma de lidar com as reações do enteado. Afinal, com raras exceções, o caminho das madrastas é bastante acidentado. Ficar amigo dessa nova mulher do pai, muitas vezes, representa para a criança uma traição à mãe.

Do lado da nossa cultura, não vem nenhum ajuda, ao contrário. A figura da madrasta carrega uma conotação negativa muito forte, é a mãe má, a bruxa dos contos de fada que habita o inconsciente coletivo.

Além disso, a criança naturalmente tende a colocar a mulher do pai em um lugar idealizado. Num primeiro momento, esse lugar é positivo, o da fada que vai dar tudo aquilo que ela não recebe da mãe. Depois, numa segunda fase, a idealização é negativa. Conflitos sérios, profundos, que o filho tem ou teve com a mãe, como momentos em que se sentiu excluído, abandonado, são projetados na madrasta. Como se não bastasse, ainda há o agravante de que a criança não tem tanto medo de perder a madrasta, explica a terapeuta familiar Anne Lise Scappaticci, da Sociedade Brasileira de Psicanálise.

Mas o pai pode ajudar, sinalizando ao filho que o lugar dele está garantido e que, quando crescer, vai escolher a sua namorada e sua mulher, assim como o pai faz agora, diz Ana Balkanyi Hoffman, psiquiatra da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

Confira abaixo nove situações enfrentadas por madrastas e as atitudes mais acertadas e as não recomendáveis para quem busca construir laços amorosos com o enteado. As orientações foram dadas pela psicanalista Anne Lise à repórter Giovanna Maradei.

Screen Shot 2015-11-13 at 6.28.13 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.28.31 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.29.03 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.29.44 PM 1Screen Shot 2015-11-13 at 6.30.02 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.10 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.18 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.34 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.44 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.53 PM

 

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