Casar, descasar, recasarEspiritualidade – Casar, descasar, recasar http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br Wed, 20 Apr 2016 18:43:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Acorrentar o ex é perder a própria liberdade http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/09/06/acorrentar-o-ex-e-perder-a-propria-liberdade/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/09/06/acorrentar-o-ex-e-perder-a-propria-liberdade/#respond Sun, 06 Sep 2015 15:13:37 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1947 Screenshot 2015-09-05 23.47.03
Ronit Elkabetz, atriz e codiretora do filme no papel de Viviane Amsalem (Foto: divulgação)

“O Julgamento de Viviane Amsalem”, recém-estreado em São Paulo, é um baita filme, de tirar o fôlego. Uma experiência sinistra para quem mal leu a sinopse antes de ir ao cinema ou desconhece a cultura do divórcio em Israel. Embasbacado na poltrona, o expectador se pergunta se não seria um filme de época. “E que época? Ou uma ficção surrealista, de tão bizarra a situação desse julgamento”. Antes fosse!

Trata-se de um filme-denúncia, com uma pegada caricatural, do que acontece hoje em Israel. No país, não existe casamento nem divórcio civil, só religioso. “Ou eles recorrem à ortodoxia ou não tem saída”, diz o rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista, ala religiosa mais liberal.

Saída até existe: o aeroporto. Muitos seguem rumo à paradísiaca e vizinha ilha de Chipre, já que o Estado de Israel reconhece cerimônias celebradas em países com quem tem relações diplomáticas.

Há outro detalhe bizarro: como manda a milenar lei religiosa judaica, só o marido pode por fim ao casamento. Se ela quer e ele não, um tribunal rabínico tentará persuadi-lo a liberar a mulher para que siga uma nova vida – o que pode dar certo ou não.

O filme mostra o calvário de Viviane Amsalem, em interpretação incrível de Ronit Elkabetz, para conseguir que o marido, Elisha Amsalem (Simon Abkarian), lhe conceda o divórcio. Ela passa três anos indo e vindo de audiências torturantes, comandadas por um trio de rabinos ultraortodoxos. É humilhada em sessões surreais, onde impera a mentalidade machista de uma estrutura patriarcal medieval.

O marido, Elisha, declara sempre que terminantemente não, ele não dá o divórcio à mulher, com quem tem 4 filhos, foi casado por 30 anos e há 3 já não vive junto.

As mulheres separadas que não conseguem do marido o guet, documento de divórcio, são chamadas de agunot (acorrentadas). Ficam presas ao matrimônio, impedidas de casar ou ter outra relação, o que configuraria adultério. Essas mulheres, portanto, perdem o direito de decidir a própria vida.

Estado de Israel e judaísmo à parte, quantos homens e mulheres de qualquer país e religião não insistem no apego a uma vida conjugal que já acabou? Assim eles também perdem a possibilidade de tomar as rédeas de uma nova vida.

Refiro-me aos que se divorciam contra a vontade, porque o parceiro quis, mas na prática não se separam. Acorrentam os respectivos ex, arrumando encrenca, brigando, atormentando, às vezes passando a vida em guerra com quem já não mais lhe diz respeito enquanto companheiro de vida.

É o pior caminho, o chamado tiro no pé. Quando você prende o outro, você também fica preso a ele. Intervir na liberdade alheia significa perder a própria liberdade.

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Hóstia para os divorciados! http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/08/27/hostia-para-os-divorciados/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/08/27/hostia-para-os-divorciados/#respond Thu, 27 Aug 2015 14:22:02 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1905 (Foto: Luca Zannaro/Associated Press)
O revolucionário papa Francisco estimula a discussão sobre a relação da Igreja com os fieis divorciados (Foto: Luca Zannaro/Associated Press)

Da coleção de frases geniais do papa Francisco, uma funciona como bálsamo para quem sofre as dores do fim de um casamento: “Deus não tem medo das coisas novas! É por isso que está sempre a nos surpreender, a abrir nossos corações e a nos guiar por caminhos inesperados”.

A Igreja, por sua vez, não quer saber de caminhos inesperados, a menos no quesito casamento. Os milhares de divorciados católicos que recasam são proibidos de comungar. A regra afasta e causa angústia aos fieis, que se sentem católicos de segunda categoria.

“Eu fiquei mal com a Igreja por causa disso”, conta a empresária Janete Leão Ferraz Cortella, de 56 anos, que teve dois casamentos (por 6 anos e, depois, por 28 anos) e ambos os ex-maridos já haviam casado na igreja. “Os pecadores foram eles, não eu, né? Sempre fui inocente nessa história. Nunca casei na igreja. Mas eu que era punida”, reclama ela, que não recebia a eucaristia. Para o catolicismo, Janete estava envolvida numa relação irregular.

Preocupado com a forma como a Igreja trata essa e outras questões da família moderna, o papa revolucionário ou reformador, como vem sendo chamado Francisco, busca levar novos ares para a Igreja. Sem invalidar o caráter “até que a morte os separe” do casamento, volta e meia ele salpica declarações em defesa de um melhor tratamento aos divorciados e seus filhos.

“Quando o amor fracassa, e fracassa muitas vezes, devemos sentir a dor desse fracasso, acompanhar a pessoa que tenha sentido o fracasso de seu amor”, declarou Jorge Mario Bergoglio.

Sem citar o divórcio, ele chegou a considerar que a separação de uma família pode ser “moralmente necessária”: “Algumas vezes, ela pode tornar-se mesmo moralmente necessária, quando se trata de proteger o cônjuge mais frágil ou as crianças das feridas mais graves causadas pela intimidação e pela violência, a humilhação e a exploração”.

O papa já liberou a comunhão para a mulher de um divorciado. Pelo menos é o que contou para o mundo, no ano passado, a argentina Jaquelina Lisbona, 47, casada há 19 anos. Proibida pelo padre da sua cidade de receber o sacramento na missa de crisma de suas filhas, ela conta que escreveu para o pontífice pedindo orientação. Ele então teria telefonado para ela, autorizando-a a participar da comunhão, mas em outra igreja para não causar confusão com o padre que negou a hóstia. “Alguns são mais papistas que o papa. Vá a outra paróquia e se confesse, que não há nenhum problema”, teria dito Francisco, acrescentando que a condenação do divórcio e do segundo casamento pelo catolicismo está sendo tratada pelo Vaticano: “É um tema que está sendo abordado na Igreja, porque o divorciado que comunga não está fazendo nada de mau”.

“Há, sim, um profundo desejo de que a Igreja reveja alguns elementos da sua doutrina à luz do senso dos fieis e da experiência de outras tradições cristãs. Há também uma certa resistência a esta revisão”, afirma o padre Ronaldo Zacharias, doutor em teologia moral. “Saídas existem. Para qual delas Francisco vai nos orientar, devemos aguardar para ver”.

Aguardar pouco. Em outubro próximo, acontece no Vaticano a segunda etapa do Sínodo dos Bispos (espécie de Parlamento da Igreja Católica), cujas discussões sobre questões da família moderna vão servir de base para o papa Francisco elaborar orientações sobre regras da Igreja Católica – queira Deus, com mudanças!

Veja aqui: charge de Charlie Hebdo do papa com divorciadas

O DIVÓRCIO E AS RELIGIÕES

BUDISMO

O casamento no budismo é visto de maneira positiva. O namoro também. E o divórcio, de modo muito leve. Porque se a relação que chamamos de casamento, que é a proximidade, o morar junto, está trazendo mais sofrimento do que benefício para ambas as pessoas, o divórcio é a coisa mais benéfica que pode acontecer. No budismo, porém, as relações sempre continuam. É impossível você interromper uma relação, ela sempre segue.

A gente até brinca que a relação de ex, às vezes, é mais longa do que a relação entre marido e mulher. O Lama Samten sempre diz que deveríamos preparar o fim com o mesmo cuidado que preparamos o começo.

No começo, sentamos juntos, pensamos, conversamos para poder iniciar a relação de um jeito positivo, fazemos uma festa. Na hora do divórcio, é ainda mais importante, porque a relação que você está preparando é uma relação para o resto da vida.

Sempre que a pessoa casa ou descasa, existe algo nela que não casa e não descasa, e essa região mais livre é o que interessa no budismo. O mais importante é a natureza livre que é da pessoa. Se você se divorciou ou não se divorciou, isso é o de menos.

Quem está passando pelo divórcio pode ter a oportunidade de ampliar sua prática de equilíbrio, sabedoria e compaixão. Nessa situação, a pessoa quer excluir o outro, busca culpados, acha que a causa do seu sofrimento é externa. Esse engano fica muito evidente, por isso o momento é bom para as práticas. E também como preparo para ajudar o outro, olhar bem como isso se dá, porque quando seu amigo estiver passando por isso você vai realmente ter o que dizer.

Na verdade, o amor no budismo é para ser praticado com todas as pessoas. Não é um sentimento, é a motivação e o desejo de que os outros sejam felizes e uma ação para que isso aconteça. A ideia, então, é que você ame muito mais pessoas do que só seu marido e sua esposa.

 Gustavo Gitti, conduz práticas do CEBB-SP (Centro de Estudos Budistas Bodisatva de São Paulo) e é aluno do Lama Padma Samten

CANDOMBLÉ

São poucas as pessoas que casam segundo o rito do candomblé; muita gente candomblecista casa na Igreja Católica ou recebe uma benção. Mas existe um rito sagrado, claro. Na tradição Iorubá, uma das vertentes do candomblé no Brasil, o casamento é indissolúvel e feito perante ifá [porta-voz de Orunmilá, conhecido como o orixá do destino].

Antes de dizer sim, é aberto o oráculo para saber se a união é apropriada ou não, ver por que aquela pessoa entrou na vida da outra, se tem a ver com seu destino, qual o sentido que elas têm juntas… Por isso, não é só um casamento de dois corpos, mas são dois casamentos espirituais, levando em conta que existe toda uma história de ancestralidade envolvida. Depois da consulta, são feitas as oferendas necessárias e a cerimônia.

Esse é um casamento para o resto da vida. Mesmo que o homem, por exemplo, morra, a mulher vai viver sozinha, não vai ter outro homem. Mas caso eles decidam viver separados, poderão praticar a religião normalmente, isso não é o problema.

Babalawo Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intelorância Religiosa

CATOLICISMO

É preciso distinguir separação de divórcio. A Igreja Católica reconhece que são inúmeros os fatores, inclusive alheios à vontade de ambas as partes, que podem levar uma relação conjugal ao fracasso. Se, depois de esgotar todos os meios para “salvar” o matrimônio, impõe-se a separação para o bem das pessoas envolvidas, a Igreja coloca-se ao lado das pessoas separadas e oferece-lhes o apoio necessário para que vivam uma vida íntegra na busca da verdade, na prática do bem e na edificação da santidade.

O divórcio, por sua vez, é uma realidade mais problemática, pois implica um novo casamento, o que violaria a indissolubilidade do casamento anterior. Segundo a doutrina da Igreja Católica, uma vez que o primeiro casamento é presumivelmente válido, mesmo tendo sido desfeito, a Igreja não tem autoridade para liberar dele as pessoas; os divorciados que se casaram de novo podem e devem participar da vida eclesial, desde que se mantenham afastados da comunhão eucarística, visto que o seu estado de vida contradiz objetivamente a união de amor entre Cristo e a Igreja, significada na Eucaristia. Exceção é feita ao casal que se abstiver das relações próprias dos cônjuges, isto é, àquele que viver em plena continência. Em síntese, todos os aspectos da vida matrimonial podem ser compartilhados na intimidade, menos a intimidade sexual.

Há quem advogue que uma noção de casamento que exige a alguém honrar todas as dimensões da união, com exceção da sexual, torna-se, no mínimo, suspeita. Isso se explica devido ao fato de o matrimônio ser compreendido mais como contrato do que como aliança. O que torna válido o contrato é o consentimento entre as partes e este é considerado irrevogável. Do ponto de vista religioso, ele é consagrado como irrevogável. Sendo assim, se não houver uma falha no consentimento inicial, capaz de invalidá-lo, o contrato confere aos parceiros direitos mútuos que não podem ser violados nem transferidos.

O Papa Francisco parte do pressuposto de que o amor fracassa e as pessoas que amam fracassam e, por isso, a Igreja deve se sentir a dor desse fracasso e acompanhar quem o sofre na própria pele, convicto de que “o Senhor está perto de quem tem o coração ferido” (Sl 34, 18). Por isso, a Igreja, segundo ele, tem obrigação de ser expressão do amor misericordioso de Deus para as pessoas que fracassaram na vivência do amor, pondo-se a serviço delas. A impressão que se tem é de que Francisco está mais interessado em considerar se um casamento é vivido como um relacionamento humano com potencial para a salvação do que em saber se ele é validamente contratado.

Padre Ronaldo Zacharias, doutor em teologia moral

IGREJA EVANGÉLICA

A bíblia diz que Deus odeia o divórcio. Deus concede o divórcio pela dureza do coração do homem, pela impiedade do homem.

Pregamos contra o divórcio, mas entendemos que existem casos em que não há saída, como o de uma mulher que é espancada por um homem e tem ameaça de morte. Essa mulher vai ficar casada com esse cara? Só se um pastor tiver um juízo perturbado para dizer que está tudo bem. Como manter o casamento se o cara já quase matou a mulher, já foi para a delegacia, já teve espancamento? Então, existem esses casos em que o casamento tem que ser interrompido para não haver uma tragédia. Mas entendemos também a banalização do casamento. Qualquer coisa, o cara quer se divorciar. Não aceitamos de maneira pacífica, no sentido do “está tudo bem, você casou e não gostou, então vai lá e se separa”. Não, não, não. Tanto que há todo um trabalho na Igreja evangélica antes de o camarada casar.

A pessoa que se divorcia não é expulsa da Igreja, não é posta para fora, nem deixa de ser membro, e o pastor vai tentar de toda forma salvar o casamento deste pessoal.

Em algumas igrejas (os evangélicos não têm uma vertente única para falar de divórcio), se a causa do divórcio não foi adultério, o camarada deixa de atuar em certas funções de departamentos da Igreja. Por exemplo, se esse camarada se divorcia, ele não vai tomar conta de casais. Como vai falar de unidade, de casamento, se ele está divorciado? Eu te garanto que a maioria das igrejas não vai deixar um camarada divorciado tomar conta de casais.

Há uma diferença entre a ovelha que está na igreja e o pastor. Este, para se divorciar, recebe muita repulsa se não houve adultério. Perde a credibilidade e, grande parte dos pastores, perde a igreja, porque como um pastor celebra um casamento e pede que o casal fique unido para sempre se ele tem um divórcio por causas banais? A não ser que ele tenha sido comprovadamente traído; aí, ele está aliviado.

Pastor Silas Malafaia, presidente do Conselho de Pastores do Brasil

ISLAMISMO

O divórcio é um direito tanto do homem como da mulher. A religião islâmica, porém, não vê como agradável que essa seja a primeira solução para um conflito de casal, mas a última, quando não há mais como conciliar, como dialogar.

Faz parte do ser humano criar tabus e estigmas. A religião islâmica vem para lapidar isso e mostrar que o divorciado é uma pessoa comum. O próprio profeta Mohamed, o último dos profetas que foi enviado para nos guiar, com 25 anos de idade quebrou todos os tabus da época. Casou com uma mulher 15 anos mais velha, viúva duas vezes, que já tinha filhos e era patroa dele, uma empresária. Quer dizer, ele quebrou todos os tabus da época para demonstrar que estes tabus não podem restringir os direitos das pessoas. Portanto, as pessoas divorciadas têm o direito de casarem novamente com quem elas quiserem e não devem sofrer qualquer preconceito ou discriminação. 

Sheik Jihad Hassan Hammadeh, presidente do Conselho de Ética da União Nacional Islâmica

JUDAÍSMO

No judaísmo, existe a possibilidade do divórcio religioso. Quando fazemos um casamento, não dizemos até que a morte os separe, porque acreditamos que a morte é um dos fatores que podem separar um casal, mas existem outros. Quando deixa de haver uma compatibilidade entre um homem e uma mulher, em que não existe mais respeito, não existe mais amor, não existe mais diálogo, acreditamos que o divórcio é legitimo. É função do rabino tentar reaproximar esse homem e essa mulher que querem se separar. Mas, se ele estiver convencido de que isso não é mais possível, vai conduzir uma cerimônia chamada guet, que é uma cerimônia religiosa de divórcio.

No passado, esse divórcio tinha que acontecer por iniciativa do homem. Mas as autoridades religiosas já repensaram esse procedimento e hoje tanto homem quanto mulher podem dar inicio ao processo de divórcio judaico.

Depois, eles voltam a casar normalmente, com qualquer outro homem ou qualquer outra mulher judia e terão sua união celebrada por um rabino na sinagoga, como se fosse a primeira vez.

Rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista e representante da Confederação Israelita do Brasil para o Diálogo Inter-religioso

 

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Apego X amor de verdade http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/05/apego-x-amor-de-verdade/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/05/apego-x-amor-de-verdade/#respond Thu, 05 Feb 2015 20:19:51 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=779 Conhece Jetsunma Tenzin Palmo? Eu a conheci apenas ontem, através de um vídeo pequenininho, míseros quatro minutos, mas poderosos. Numa linguagem muito simples, a monja tibetana e mestre, recomendada pela Sua Santidade o Dalai Lama, faz um depoimento que joga luz sobre um assunto que tanto emperra os relacionamentos: o maldito apego, diferente do amor de verdade.

O vídeo foi gravado pela equipe do “o lugar – espaço online e presencial de transformação ativa”, durante a primeira passagem da monja pelo Brasil, no ano passado.

12 ANOS NUMA CAVERNA

Jetsunma Tenzin Palmo ficou mundialmente conhecida depois de viver, dos 33 aos 45 anos de idade, em um retiro solitário dentro de uma caverna no Himalaia. Praticava 12 horas de meditação diária num espaço de 3 m x 1,80 m. Durante todo esse tempo, nunca se deitou. Sua “cama” era uma caixa de meditação de 80 cm de comprimento, como conta a ótima reportagem de Elka Andrello, disponível aqui.

Nascida na Inglaterra e hoje com 71 anos de idade, ela foi uma das primeiras mulheres ocidentais a ser ordenada monja no budismo tibetano. Leva o título de venerável mestre (significado de Jetsunma) em reconhecimento às suas realizações espirituais e pelo seu trabalho em promover as mulheres praticantes do budismo tibetano.

A monja passa a maior parte do ano no monastério que ela fundou, Dongyu Gatsal Ling, pioneiro para mulheres na Índia. Também viaja para dar palestras pelo mundo. Abaixo, um vídeo mais longo da mesma entrevista realizada pela turma do “o lugar”.

Gostou? Se quiser conhecer mais os ensinamentos da Monja, saiba que há um livro de sua autoria traduzido para o português. Focado nas questões do cotidiano, na vida como ela é e voltado para praticantes do budismo ou simplesmente interessados na filosofia, chama-se “No Coração da Vida: Sabedoria e Compaixão para o Cotidiano”. À venda aqui.

Segue um trechinho extraído do livro, que é uma visão inovadora e, quiçá, transformadora para aqueles que vivem em busca de segurança, ou seja, a torcida do Flamengo. Aliás, apego está ligado ao medo da perda (da relação com o outro, do estilo de vida…), enfim, à insegurança.

“A verdadeira segurança provém apenas do conforto com a insegurança. Ficarmos à vontade com o fluxo das coisas, ficarmos à vontade ao estarmos inseguros, essa é a maior segurança, pois nada pode nos tirar do prumo.”

 Leia mais: Separar-se dói, mas também pode ser uma benção

 

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Separar-se dói, mas também pode ser uma benção http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/01/08/separar-se-doi-mas-tambem-pode-ser-uma-bencao/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/01/08/separar-se-doi-mas-tambem-pode-ser-uma-bencao/#respond Thu, 08 Jan 2015 20:15:24 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=173 Monja Coen, Primaz Fundadora da Comunidade Zen-Budista de São Paulo, discorre sobre sobre separação, desilusão, desapego e amor neste belíssimo texto feito especialmente para o “Casar, descasar, recasar”. Desfrute!

Foto: Luís Furquim
“Nem sempre as pessoas com quem iniciamos a travessia são as mesmas com quem chegaremos do outro lado. Mas sempre há alguém por perto. Nunca estamos sós” (Foto: Luís Furquim)

Monja Coen

É possível separar-se de alguém com respeito e com ternura.

É possível um divórcio verdadeiramente amigável.

Mas para isso é preciso que as duas pessoas envolvidas no processo de desfazer um laço de intimidade tenham amadurecido o suficiente para conhecer a si mesmas.

Caminhamos lado a lado com algumas pessoas em alguns momentos da vida.

Minha professora de hatha ioga, Walkiria Leitão, comentou em uma de nossas aulas:

“A vida é como atravessar uma ponte. Nem sempre as pessoas com quem iniciamos a travessia são as mesmas que nos cercam agora ou com quem chegaremos do outro lado. Mas sempre há alguém por perto. Nunca estamos sós.”

O medo da solidão, muitas vezes, faz com que as pessoas suportem o insuportável. Ou se lamentem após uma separação, apegadas até mesmo ao conflito conhecido.

Ainda há mulheres que sofrem violências morais e até mesmo físicas de seus companheiros ou companheiras.

Ainda há homens que sofrem violências morais e até mesmo físicas de suas companheiras ou companheiros.

Como dar limites? Como conhecer esses limites?

Quando os limites são desrespeitados, as dificuldades começam. Dificuldades que podem levar à separação e ao divórcio. Dificuldades que podem levar ao sofrimento filhos e filhas, animais de estimação, amigos, familiares.

Caminhamos lado a lado.

Ou não.

Quando nos afastamos e nos distanciamos, nunca é repentino.

Um processo que, se desenvolvermos a clara percepção da realidade do assim como é, poderemos prever, antecipar e até mesmo alterar o desenvolvimento do processo.

Entretanto, se não conseguirmos antever o que já acontece, se colocarmos lentes fantasiosas sobre a realidade, poderemos nos desiludir e nos sentirmos traídos na confiança mais íntima do ser.

Professor Hermógenes, um dos pioneiros do yoga no Brasil, fala sobre a criação de uma nova religião chamada “desilusionismo”:

Cada vez que temos uma desilusão estamos mais perto da verdade, por isso agradecemos.”

Se você teve uma desilusão é porque não estava em plena atenção. Mas não fique com raiva nem de você nem da outra pessoa.

Nada é fixo. Nada é permanente.

Saber abrir mão, desapegar-se – até da maneira como tem vivido – é abrir novas possibilidades para todos.

Por que sofrer? Por que manter relações estagnadas ou de conflito permanente? Ou como transformar essas relações e dar vida nova ao relacionamento?

Apreciar e compreender a vida em cada instante é uma arte a ser praticada.

Separar-se dói, confunde, mexe com sonhos e estruturas básicas de relacionamentos.

Separação pode ser também uma bênção, uma libertação de uma fantasia, de uma ilusão.

Observe em profundidade.

Será que ainda é possível restaurar o vaso antigo?

No Japão, as peças restauradas são mais valiosas do que as novas. Tem história, emoção, sentimento.

Cuidado com o eu menor.

Cuidado com sentimentos de rancor, raiva, vingança.

Esse sentimentos destroem você, mais do que as outras pessoas.

Desenvolva a mente de sabedoria e de compaixão.

Queira o bem de todos os seres. Isso inclui você.

Cuide-se bem e aprecie a sua vida – assim como é –, renovando-se a cada instante e abrindo portais para o desconhecido, o novo – que pode ser antigo, mas novo a cada instante.

Mantenha viva a chama do amor incondicional e saiba se separar (se assim for) com a mesma ternura e respeito com que se uniu.

Esse o princípio de uma cultura de paz e de não violência ativa.

Que assim seja, para o bem de todos os seres.

Mãos em prece

Monja Coen é a Primaz Fundadora da Comunidade Zen-Budista, com sede em São Paulo, onde promove diferentes atividades, como práticas de meditação, cursos e palestras, além de casamentos e outras cerimonias religiosas; www.monjacoen.com.br. É autora, entre outros, de “Sabedoria da Transformação” (editora Planeta).
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