Casar, descasar, recasaralienação parental – Casar, descasar, recasar http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br Wed, 20 Apr 2016 18:43:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 “Querida mamãe”, vírgula! http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/08/14/querida-mamae-virgula/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/08/14/querida-mamae-virgula/#respond Fri, 14 Aug 2015 21:45:21 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1842 4-Justice-Families-Ilustracao Andry Rajoelina-frances
Supermães e a dificuldade de dividir poderes com o pai (Ilustração: Andry Rajoelina)

Muda a década, muda o século, muda até a era, e alguns assuntos não só continuam em pauta na mídia como ainda fazem sucesso. São temas clássicos sobre os quais muito se fala, mas novidade que é bom costuma haver bem pouca. A tripla jornada da mulher é um deles.

Em 1989, saí da redação de uma revista feminina encarregada de entrevistar um importante psicanalista sobre a divisão de trabalho entre marido e mulher (pena, não posso dizer quem era, porque estou em dúvida entre os dois nomes mais famosos da época). Mas a tese do especialista joga luz sobre um aspecto diferente: a dificuldade da mulher em dividir com o homem funções que sempre foram dela porque isso diminui o seu poder. Enquanto é ela quem sempre e tão bem se comunica com o pediatra, detém as informações e o histórico de saúde da criança, o poder nesse campo está nas suas mãos. Daí então algumas reclamam “sempre eu tenho que levar o Bruninho ao médico”, mas não passam o bastão para o pai nem a pau, sob a alegação de que “ele não vai dar conta do recado”. Será?

Com o aumento de pais divorciados e conscientes da importância de acompanharem a vida escolar dos filhos, a tese do psicanalista merece ser lembrada. A escola dos pequenos é um ambiente predominantemente feminino, as mães reinam soberanas nesse espaço. Agora, em época de guarda compartilhada, tem pai pedindo passagem. Em nome dos filhos, vale a pena colaborar com os que andam lutando pela saudável causa da paternidade. Adicioná-los para o grupo do WhatsApp, em geral restrito às mães, por exemplo, já é um começo. Quanto às escolas, o tradicional “querida mamãe” na agenda do filho tem sido trocado pelo oportuno “caros pais”. Leia mais na reportagem abaixo.

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Ativista da causa paterna, Lizandro Chagas, alerta que pai tem que mostrar a que veio (Ilustração: Andry Rajoelina)

“Nas reuniões de pais, eu me sinto um ser mitológico”

Por Giovanna Maradei

“Um pai que queira ser participativo tem que fazer como as mulheres fizeram na sua revolução sexual: ir à luta. Não precisa queimar cueca, como as mulheres simbolizaram no passado com o sutiã, mas tem que mostrar sua vocação paterna”, afirma o professor e pai solteiro Lizandro Chagas sobre a importância da participação do pai na vida escolar do filho. “Tem que buscar apoio, conhecimento, opiniões, mas sempre mostrar a que veio”, diz o ativista da causa paterna, como ele se autointitula.

Do ponto de vista legal, o pai tem garantido pelo Código Civil o acesso às informações escolares, essencial para que ele exerça o seu dever paterno e garanta a educação do filho. Esse direito ganhou dois reforços, em 2009  e 2014 (leia mais abaixo, em “Como manda a lei”). Na prática, porém, o que ainda se vê é a mulher com o monopólio do universo escolar dos filhos e o pai, quase sempre, como um ser à parte.

Dois exemplos que ilustram o domínio feminino: o clássico bilhete na agenda da criança endereçado à “querida mamãe” e a ação dos grupos de mães que decidem sobre temas extracurriculares, mas ainda assim importantes à vida escolar, como quem dá carona para quem ou o que colocar na mala do acampamento.

Esse velho padrão, em tempos de guarda compartilhada, começa a incomodar e forçar mudanças.

O jornalista e pai divorciado Rodrigo Padron despejou no Facebook a sua revolta e a lista de reclamações contra a escola da filha. Ele nunca havia recebido uma comunicação sequer sobre qualquer tema da vida escolar da criança e ainda considerava uma afronta o tratamento dado pelas professoras aos pais. Em um determinado Dia dos Pais, por exemplo, a escola organizou atividades especiais em que os marmanjos foram tratados de forma muito infantil. Em uma delas, a “tia” anunciou: “Os papais vão fazer uma coisa que nunca fizeram antes”. E essa coisa era algo como dar papinha para o filho ou brincar no chão com a criança.

O post rendeu uma ação imediata da diretora da escola, que chamou Padron para uma conversa, informando nunca ter recebido uma reclamação como aquela. “Eu falei para ela que, no futuro, minha filha iria ler os registros da escolinha e me cobrar ‘papai, onde você estava?’”, diz Padron. A educadora deu razão ao pai, cuja guarda não era dele, mas da mãe, e em dez dias tudo mudou. Ele passou a receber os comunicados da escola por e-mail e os bilhetinhos antes dirigidos à “querida mamãe” passaram a ser “aos pais”.

Tanto Padron como Chagas, porém, sabem que a questão é mais profunda. A lei existe, é cumprida, mas os padrões culturais e estereótipos sociais emperram as mudanças. Padron conta que, mesmo depois da mudança de atitude da escola, ele se sente um pouco deslocado no ambiente. “Quando busco minha filha, eu fico à margem, com um ou outro pai que eventualmente está por ali”. Chagas reclama: “Nas reuniões de pais, eu me sinto um ser mitológico, um saci, um unicórnio, um dragão… Um alien”, completando que o mesmo sentimento aparece nas “atividades extras do meu filho, como natação e futebol, e consultas pediátricas “.

“A gente tem que se propor a quebrar esse paradigma”, afirma Padron. “Os pais às vezes aceitam essa condição de ‘quem vai cuidar é a mãe, eu estou aqui só para dar um suporte’.” Nesse sentido, as mães poderiam colaborar com os pais interessados, facilitando a sua entrada em um ambiente predominantemente feminino.

Além de serem maioria no universo da escola, as mães se organizam em paralelo quase sempre sem convidar os pais. É o caso dos grupos de WhatsApp, que parecem ter virado regra entre as mãezonas de crianças pequenas. “Nesses grupos, elas organizam festas, piqueniques, falam mal da escola, dos maridos…”, conta rindo Amábile Pacios,  presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep).

Uma mãe divorciada, a comerciante Renata Souza, contesta o comando materno, por considerá-lo um peso para a mulher: “Por que só eu, que sou mãe, tenho que me preocupar com o presente do Dia dos Professores? Por que o pai não pode ter o trabalho de participar da organização da festa junina da escola?”.

Chagas, professor de ensino médio há 15 anos, conta que no papel de pai de criança pequena vê aumentar a presença paterna na escola, ainda que de forma tímida. Já a professora Amábile não identifica mudança: “Existem pais que são exceção, mas eles deveriam ser a regra”. Ela revela que, para proteger as crianças da baixa presença dos pais na escola, algumas instituições substituem o Dia dos Pais pelo dia da família. Assim, o filho que não contar com o pai por perto não deverá se sentir constrangida.

COMO MANDA A LEI

O acesso de ambos os pais aos registros escolares já é garantido pelo Código Civil, que determina que o pai tem o direito e o dever de zelar pela educação do filho, independentemente do seu status civil e da detenção da guarda, diz Melissa Telles Barufi, presidente da Comissão Nacional de Infância e Juventude do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM).

Além dessa garantia prevista no Código, em 2009 foi feita uma alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, explicitando que as instituições estão obrigadas a fornecer informações escolares aos pais, sejam eles conviventes ou não. Em 2014, a nova lei da guarda compartilhada reforçou este direito ao estabelecer uma multa, que varia entre R$ 200 e R$ 500 por dia para o estabelecimento privado que se negar a fornecer informações ao pai ou a mãe.

A advogada de família Shirlei Klouri conta que, nos casos de divórcio, é recorrente a reclamação de pais querendo participar mais do ambiente escolar. “Mas hoje raramente a dificuldade é fruto de barreiras colocadas pelo colégio.” Na maioria das vezes, diz ela, o que acontece é o pai tentar justificar sua ausência culpando a escola ou a mãe dificultar o acesso à informação pelo pai para afastá-lo do filho. O que pode ser caracterizado alienação parental.

Todas as informações da escola sobre a criança devem ser enviadas tanto para o pai quanto para mãe, recomenda a presidente da Fenep. Especialmente sobre autorizações para saídas e viagens, a escola pode sugerir aos pais que elejam um responsável para facilitar o trâmite burocrático. Sobre os boletos de cobrança, é comum serem enviados só ao responsável financeiro. Mas os comunicados a respeito de desempenho escolar e atividades devem obrigatoriamente ser enviados a ambos os responsáveis, seja em caso de guarda compartilhada ou unilateral.

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O casal não se entende mais, e os filhos perdem primos, avós, tios… http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/03/18/o-casal-nao-se-entende-mais-e-os-filhos-perdem-primos-avos-tios/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/03/18/o-casal-nao-se-entende-mais-e-os-filhos-perdem-primos-avos-tios/#respond Wed, 18 Mar 2015 16:01:03 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1221
Impedir o convívio com os avós ou outros parentes é desrespeitar um direito da criança (Carlos Cecconello/Folhapress)

Pouco ou nada se fala sobre uma maldade que pais separados às vezes fazem com seus filhos e os avós, primos ou tios das crianças (do lado da família contrária, claro). Mas existe denominação jurídica para isso e até pena para quem comete esse vexame.

Há alguns dias, uma amiga do peito liga aflita. Mulher de seus 60 anos, casou muito nova, teve filhos cedo e logo se separou. Casou de novo, o ex também, todos tiveram mais um ou dois rebentos e sempre conviveram de forma amigável e respeitosa.

Agora, o filho mais velho se separou. Ela liga para dar a notícia, mas estava nervosa mesmo porque a recém-ex-nora está dificultando as saídas semanais que ela promove com as duas netinhas.

É muito comum, apesar de ilógico: a mulher escolhe o homem para se casar, tem filhos e quando não dá ou não quer mais manter o casamento afasta as crianças da família do outro lado.

Homem também apronta dessas. A leitora que, em depoimento ao “Casar, descasar, recasar”, relatou o drama vivido na infância quando a mãe se apaixonou perdidamente por outro homem e passou a ignorar os filhos, disse que, com a traição da mãe, a família do pai simplesmente sumiu.

“Meus avós não foram proativos, não procuraram os netos, porque o meu pai falava mal da minha mãe. Você já perde a referência porque os pais se separaram e ainda se separa dos avós e primos!”, disse a leitora. Esse é um momento que as crianças tanto precisam do apoio e da presença das famílias, que são delas, independentemente de os pais estarem casados ou não.

O mesmo vale para os enteados. O casal se separa, mas as crianças dessa e de outras uniões continuam irmãos.

Minha mestre e amiga psicanalista tem uma prática muito saudável, eficaz, além de amigável. Quando um filho separado anuncia que vai recasar, isso aconteceu com mais de um filho, ela chama a noiva e avisa que muito provavelmente a futura encontrará a ex na sua casa (da sogra), simplesmente porque a ex é a mãe dos seus netos e, portanto, sempre será bem-vinda e convidada para datas importantes da família. Não é muito chique?

Fica aqui o exemplo. A nora começou a enlouquecer, transferindo a mágoa dela pelo ex para a sogra? Aproveite para lembrá-la: “Sou avó da sua filha e não temos nenhuma responsabilidade com o fim do seu casamento. Seremos sempre neta e avó”. A ideia é evitar que a família toda se despedace, em especial os filhos, quando a decisão de romper é apenas de dois.

Por fim, a lei: a tão falada e terrível alienação parental (quando um dos pais denigre a imagem do outro, colocando o filho contra o genitor ou genitora) é um conceito jurídico que se estende a todos os parentes da criança. Impedir o convívio do filho com avós, tios ou primos, por exemplo, pode ser punido com a perda da guarda ou da pensão alimentícia por se tratar, como diz a lei, de ato indigno.

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O casamento acabou! Dizer o que para os pimpolhos? http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/01/16/o-casamento-acabou-dizer-o-que-para-os-pimpolhos/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/01/16/o-casamento-acabou-dizer-o-que-para-os-pimpolhos/#respond Fri, 16 Jan 2015 14:59:04 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=338 (Foto: Schutterstock)
As três piores táticas: não dizer nada, dizer tudo ou mentir para os filhos sobre a separação (Foto: Schutterstock)

Antes de encarar a sogrona, o cunhado, os irmãos e os amigos, o casal olha em volta e percebe o imbróglio maior que têm pela frente: enfrentar as crianças. O que dizer? Como contar?

“O papai viajou a trabalho” não cola – pasme, mas ainda há mães que apelam para esse expediente altamente desaconselhável. Contar tim-tim por tim-tim a história de ascensão e queda do romance entre papai e mamãe também é um desastre. Silenciar, como alguns tentam fazer, idem.

Ou seja: não dizer nada, dizer tudo ou mentir é o pior que os pais podem fazer. E o tom deste texto está assim, digamos, relax, para quebrar um pouco a dureza desse momento, feito muitas vezes de ressentimentos, mágoas e profunda tristeza por um projeto de vida que deixa de existir. Não é bolinho, mas cabe ao adulto, ainda que sofrendo, segurar a onda dos filhos.

A forma de comunicar a separação pode ajudar ou complicar a passagem dos filhos por esse processo igualmente sofrido para eles. Não existe uma receita com o modo ideal de dar a notícia, os pais devem conhecer seus rebentos para saber exatamente o que dizer. Mas há parâmetros importantes que devem ser considerados nessa hora. Eles variam conforme a faixa etária dos filhos, como explica aqui a psicóloga e colunista da Folha Rosely Sayão, uma das mais respeitadas especialistas em educação, criança e família.

FILHOS MENORES DE 6 ANOS

Nessa idade, as crianças têm um universo e uma lógica de pensamento muito diferentes da nossa. Não diga para elas: “Eu e o seu pai brigamos”. Briga é entendido pelos pequenos como troca de tapas, soco, violência, mesmo. “Uma boa ideia é comunicar que o pai terá uma casa e a mãe, outra”, aconselha Rosely.

Com relação ao tempo, os pequenos organizam o dia usando referências como a hora da refeição ou de ir para a cama, por exemplo. Isso significa que dizer “todo fim de semana o seu pai vai te ver” não funciona. Diga, por exemplo: “O seu pai sempre vai ver você”. E se ela perguntar: “Todo dia?”. Você pode responder: “Depende do trabalho dele…”. Mas não transforme esse encontro em um acontecimento fora do normal. Não é tão dramático. Normalmente, pais e mães casados veem muito pouco as crianças dessa idade. Pela manhã e, às vezes, um pouquinho à noite se chegam cedo do trabalho.

E mais: as crianças também costumam perguntar pouco sobre o assunto, pois conhecem a estrutura de famílias cujos pais não vivem juntos. Elas têm os exemplos na escola, filhos de pais que se separam e que continuam firmes e fortes.

FILHOS ACIMA DE 7 ANOS

Nessa faixa, os pais já podem falar mais sobre o assunto, mas obviamente sem dar detalhes de brigas, traições… Isso leva a criança a ficar fantasiando sobre a história e é também como geralmente se desenvolve a terrível alienação parental (quando o pai coloca a criança contra a mãe ou o contrário).

Nunca diga que o casamento não deu certo. Afinal, enquanto durou deu certo. O melhor é “o casamento acabou, vou me separar”, diz Rosely.

PARA TODAS AS IDADES

Uma orientação vale para pais de crianças de qualquer idade: deixar muito claro que o problema do casal nada tem a ver com os filhos. “A criança sempre vai achar que a culpa é dela, esta é uma fantasia recorrente”, afirma Rosely. O pai e a mãe devem esclarecer, portanto, que a causa da separação é uma questão do casal, dos dois enquanto marido e mulher. Aliás, é até melhor referir-se ao cônjuge como “meu marido” ou “minha mulher”, em vez de “seu pai” ou “sua mãe”. Resolvi separar do meu marido, por exemplo.   

ADOLESCENTES

Com os mais velhos, os pais podem explorar mais o assunto, falando sobre a dificuldade da convivência, por exemplo, mas ainda sem expor detalhes que dizem respeito à intimidade do casal. Deu vontade de se abrir, reclamar do cônjuge? É normal, mas vá extravasar com os seus amigos, amigas, parentes… Menos com o filho. Mantenha-se firme. O ex (ou a ex) sempre serão o pai (ou a mãe) do jovem.

As crianças vão sofrer com a separação dos pais? Óbvio que sim. Mas elas têm que aprender a enfrentar as frustrações e perdas próprias da vida e, para isso, dependem da ajuda dos pais.

 

 

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