Casar, descasar, recasaramor – Casar, descasar, recasar http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br Wed, 20 Apr 2016 18:43:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Casamento fora do armário: quem é o noivo e quem é a noiva? http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/03/31/casamento-fora-do-armario-quem-e-o-noivo-e-quem-e-a-noiva/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/03/31/casamento-fora-do-armario-quem-e-o-noivo-e-quem-e-a-noiva/#respond Thu, 31 Mar 2016 23:43:40 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2843 Ser gay no Brasil não é fácil. Comemorar um casamento, então, com festa, bolo, flores, cerimonialista e toda a parafernália festiva é um desafio quase hercúleo para os casais do mesmo sexo.

O grau de sensibilidade e conhecimento das empresas especializadas em eventos e seus fornecedores costuma ser próximo do zero. Se são duas lésbicas, quem leva o buquê? Uma vai de noiva e outra de noivo? E o noivo gay entra com o pai ou com o seu parceiro? Tem daminha? Padrinho? Rola chá de cozinha?

Se por um lado o assunto ainda é novo, cercado de mistérios e desinformação, por outro, o preconceito rola solto. E a última coisa que um gay deseja é sofrer discriminação no dia mais feliz da sua vida. Mas corre o risco, sim, de topar com fornecedores homofóbicos na própria festa ou antes, durante os preparativos.

Mulheres se beijam em cerimônia coletiva de união estável entre casais do mesmo sexo, em São Paulo (Joel Silva/Folhapress)
Recém-casadas após cerimônia de união estável em São Paulo (Joel Silva/Folhapress)

A frustração pode acontecer logo de cara. O primeiro item escolhido costuma ser o espaço da festa, como bufês e restaurantes, e muitos deles se recusam a fazer uma cerimônia gay. Por trás de um sonoro “que pena, mas não temos data para atendê-lo” existe a ideia cruel “vich, vai ter um monte de ‘bicha’, não quero que o meu negócio fique rotulado”.

Bonequinhos de bolo de casamento em frente à Assembleia Nacional da França (Joel Saget/AFP)
Bonequinhos de bolo de casamento em frente à Assembleia Nacional da França (Joel Saget/AFP)

Mas o chamado pink money (poder de compra da comunidade GLBT) é poderoso e, assim como os héteros, gays nutrem o profundo desejo de celebrar a união com um ritual e compartilhar o amor que têm um pelo outro com os amigos e a família (quando dá). O casamento civil no cartório não basta.

Uma amiga jornalista e gay, Gisele Losada, acaba de ingressar nesse mercado com a Casamento à La Carte, que se propõe a realizar o sonho de noivos e noivas em todas as etapas do enlace – da burocracia no cartório à festa personalizada e a celebração da cerimônia. Um serviço criativo, emocionante e profissional. “De gay para gay! Sei como contar a história do casal, escrever essa cerimônia e sensibilizar os casais e os amigos”, diz Gisele.

Casamento fora do armário pede festa fora da caixinha. Mas isso não significa purpurina e arco-íris espalhados desvairadamente pelo salão adentro. O povo às vezes erra a mão.

“Esse público quer o tradicional, mas com a cara deles”, diz outra cerimonialista, Cris Coelho, dona da Festa Casamento Gay. Casadona, com marido e filhos, ela diz que tem “alma gay, com um monte de homossexual na família, irmão, tias…”. Seu maior cuidado na produção dos eventos é com os fornecedores que vão ter contato com os noivos e os convidados, caso de manobristas, garçons, seguranças e pessoal da limpeza. “Uma vez presenciei dois garçons que eu achei que estavam com o riso solto demais, riso frouxo, sabe?”.

E já pensou que desagradável a mãe do noivo estar no banheiro e ouvir comentários preconceituosos sobre o filho?

A batalha pela aceitação da diversidade também pode se dar num casamento hétero, como é o caso da cerimônia religiosa que Cris Coelho está organizando. A noiva quer a irmã, que faz tratamento para mudança de sexo, entrando na igreja de madrinha, vestida de homem e acompanhada da parceira. Venceu a parada! Mas trocar essa ideia com a comunidade da igreja não foi muito simples.

MISTÉRIOS

Afinal, em um casamento de duas mulheres quem leva o buquê?

Às vezes uma delas, às vezes as duas e às vezes nenhuma!

E quem é a noiva?

Bom, às vezes há duas e às vezes não há nenhuma. E algumas vezes há uma pessoa se sentindo uma noiva. Na verdade, não há regras.

Chá de panela, daminha levando alianças? Rola? Casais gays não são chegados em tradições (menos de 15% a incorporam). Eles gostam mesmo é de quebrar as tradições ou inventar as suas próprias.

Esses e outros esclarecimentos são contribuições do Mr. & Mr., site brasileiro dedicadíssimo a noivas e noivos gays. Com textos saborosos, traz uma coleção de informações variadas – de dicas de festa, decoração e moda para o dia D a notícias sobre direitos relativos a contrato pré-nupcial, adoção de criança ou guarda compartilhada de animais! Também compartilha as lindas histórias de amor enviadas pelos seus leitores.

As autoras são duas jovens solteiras, héteros e cheias de amigos gays. O site “é uma prova de amor a eles, de que sim, eles devem sonhar com este momento lindo, mágico e especial como todo mundo e que nós vamos ajudar em tudo que pudermos”, explicam.

E eu fico aqui sonhando em ir a um casamento gay. “É muito mais emocionante. Eu choro do início ao fim”, diz a jornalista Laura De Barros Falcão Fraga, do Mr. & Mr.

Claro! Eles são mais livres e estão comemorando uma conquista árdua e de algo desejado demais.

O Casar, descasar, recasar, assim como o Mr. and Mr., não acredita que pessoas do mesmo sexo que se amam vão arder no inferno.

Tim-tim pra eles!

 

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FAQ do poliamor http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/27/faq-do-poliamor/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/27/faq-do-poliamor/#respond Fri, 27 Nov 2015 19:55:25 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2423 Rafael Machado com Sharlenn Carvalho e Angélica Amorim com quem manteve um relacionamento poliamoroso.
O trio de poliamoristas: Rafael Machado entre Angélica Amorim (esq.), com quem ficou por 4 meses, e Sharlenn Carvalho (dir.), com quem teve um relacionamento por 4 anos (Foto: arquivo pessoal)

Por Giovanna Maradei

Rolos, namoros e casamentos quase sempre acabam porque um dos parceiros se apaixona por outra pessoa. Também não são raros aqueles que dizem, ao menos no começo, que se pudessem ficariam com ambos. O que impede? O entendimento de que a prática é antiética, “coisa de puta” ou de “homem canalha”. Mas manter uma relação afetiva com duas ou mais pessoas é também coisa de poliamorista, grupo que, segundo membros do movimento, vem crescendo no Brasil, contando com adeptos dos 20 aos 60 anos de idade.

“Há cinco anos, quando começamos a organizar os encontros, reuníamos cinco pessoas, agora tivemos um evento com quase 200”, afirma o sociólogo Rafael Guimarães Machado, coordenador do grupo “Pratique Poliamor RJ”. No Facebook, o maior grupo de poliamor, “Poliamor”, reúne cerca de 9 mil participantes.

Para eles, um amor não diminui e não necessariamente anula outros. “Você não tem um ‘saco de gostar’ para distribuir uma quantidade certa para cada pessoa, se você gosta muito de um, não tem que gostar menos de outro”, afirma Machado. Além disso, se os envolvidos estão cientes e de acordo com esse formato, a traição deixa de existir.

Parece a receita perfeita para um desastre, mas tem sido a opção de muita gente que, por sinal, anda satisfeita com o resultado. Você não entende como é possível? Casar, descasar, recasar também não. Por isso, resolveu esclarecer com funciona o poliamor e montou um FAQ (perguntas mais frequentes) com uma dúzia de questões básicas. Para respondê-las, foram ouvidos os poliamoristas Rafael Machado e Cláudia Naomi Abe e exploradas páginas nas redes sociais e o site “More Than Two”, criado por Franklin Veaux, que, junto com sua companheira Eve Rickert, escreveu o livro “More Than Two – A practical guide to ethical polyamory” (Mais de dois – Um guia prático do poliamor ético). O resultado você confere aqui.

1. O que é o poliamor?

Poliamor é um termo criado em 1991 para nomear um tipo de relação amorosa no qual as pessoas envolvidas estão abertas a ter mais de um parceiro afetivo ao mesmo tempo. As regras são mutantes, variam conforme o combinado feito pelos envolvidos, mas existe uma lei imutável para todos: homens e mulheres têm direitos iguais e devem estar 100% cientes de que fazem parte de um relacionamento poliamoroso. Caso contrário, é apenas a velha e péssima traição.

2. Mas esse esquema não é o mesmo do chamado relacionamento aberto?

Não. Aliás, um relacionamento poliamoroso pode ser fechado. Não é muito comum no Brasil, mas se você se relaciona com outras duas pessoas e vocês não querem mais gente envolvida na história, este relacionamento é poliamoroso, mas não é aberto.

Além disso, os casais que têm um relacionamento aberto, geralmente, só concordam que o parceiro se relacione com outra pessoa quando é “apenas por sexo”. O envolvimento emocional está proibido. No poliamor, essa barreira não existe. Uma pessoa pode até estabelecer relacionamentos exclusivamente sexuais com outras se quiser.

3. Mas então é um namoro a três?

Existem vários formatos de poliamor. Casal, trio ou grupo totalmente aberto ou com restrições (envolvimento com pessoas de fora do grupo desde que sejam de outro círculo social ou devidamente aprovadas pelo grupo). Trio ou grupo fechado, no qual as pessoas só podem se relacionar entre si. E até o chamado mono/poli, no qual um dos parceiros é poliamorista, mas o outro, por escolha, permanece monogâmico.

4. É o modelo perfeito para quem tem medo de se comprometer!

Não exatamente. Existem pessoas que descobrem o poliamor porque tiveram uma grande decepção amorosa e não querem mais o comprometimento enquanto fidelidade monogâmica. No poliamor, uma pessoa não se compromete a ter um relacionamento exclusivo com outra, mas deve cumprir uma série de acordos e com mais de um parceiro! Conclusão: para dar certo, não dá para ter fobia de compromisso.

5. Quer dizer que o esquema não é liberou geral?

Você é livre para ter mais de um parceiro, mas, como em todo relacionamento, existem regras e necessidade de defini-las abertamente. Não existe nada preestabelecido, os envolvidos combinam tudo a cada relação: como proceder quando quiser sair com outra pessoa; se um ou mais do grupo tem prioridade… Ficar com outra pessoa não é considerado traição, mas contrariar o acordo muitas vezes é.

6. Mas sempre tem um parceiro que é mais importante, não?

Em alguns casos existe, de fato, um ou dois parceiros que ganham prioridade. São pessoas com quem você está há mais tempo, faz mais planos para o futuro… Mas de forma alguma isso é uma regra, e com o tempo as preferências podem mudar.

7. Para entrar no poliamor é preciso ser bissexual?

Não. Dentro do grupo você vai encontrar modelos variados de orientação sexual. Segundo estudo de acadêmicos e representantes do movimento no Brasil, a maioria dos homens poliamoristas se identifica como heterossexual; depois, vêm os bissexuais e, por fim, homossexuais. Já entre as mulheres, a maioria se diz bissexual; em segundo lugar, estão as heterossexuais e, em terceiro, as homossexuais. Ou seja, cada um se relaciona da forma que acha melhor.

8. E como é que fica o ciúme?

Ele existe, mas o esforço para superá-lo é grande. Uma boa DR (discutir a relação) é sempre incentivada para que os parceiros acertem os ponteiros. Além disso, a prática ajuda. Com o tempo, ao perceber que seus amados vão se encontrar com outros, mas sempre voltam e que, mesmo saindo com outras pessoas, você continua tendo vontade de ficar com todas, o ciúme vai perdendo o sentido e, consequentemente, diminuindo. Recomendação número 2: conversar com outros poliamoristas sobre o assunto. Os experimentados ajudam os novatos a perceberem que, ao contrário do que os amigos monogâmicos costumam dizer, não sentir ciúmes em determinados casos pode ser absolutamente normal.

9. E na hora de construir uma família, ter filhos, abre-se mão do poliamor, certo?

Errado. Existem vários casos de pais poliamoristas. A responsabilidade de cada adulto em relação à criança varia conforme o formato da relação – se todos moram juntos, se os parceiros da mãe e/ou do pai frequentam a casa ou não, se os pais são divorciados e só um deles é poliamorista…. O que parece não mudar é a facilidade dos pequenos em compreender a situação e o papel de cada uma daquelas pessoas na sua vida.

10. Mas eles podem se casar? Dá para oficializar uma relação poliamorista?

O comum é que as pessoas não oficializem, mas não é uma regra. No Brasil, existem dois trios que tiveram sua união oficializada. O primeiro, composto de um homem e duas mulheres, obteve o registro em 2012 na cidade de Tupã (SP). O segundo celebrou a união em outubro deste ano no Rio de Janeiro e é composto por três mulheres. Nestes casos, geralmente, todos os direitos concedidos aos casais que estabelecem uma união estável devem ser concedidos aos três envolvidos.

11. No caso de separação o sofrimento é menor, não?

Sim e não. Se você está em um relacionamento poliamoroso com outras duas pessoas e uma decide terminar, você sofre como em qualquer outra separação, mas de fato tem a sorte de ter outra pessoa amada. Por outro lado, quando mais de uma pessoa termina o relacionamento com você, o sofrimento é dobrado ou até triplicado. Ninguém sofre pelo conjunto, mas por cada uma das separações, pela falta que cada um vai fazer em sua vida.

12. Achei interessante. Onde eu encontro essas pessoas?

A internet é a melhor forma de fazer um primeiro contato. Existem diversos grupos espalhados pela redes sociais que se comunicam on-line e também promovem encontros, debates, rodas de conversa.

Mas é preciso estar atento para garantir que você está em um grupo em que as pessoas são realmente poliamoristas, e não estão apenas querendo trair seus parceiros ou promover um encontro sexual com vários. Entre os mais sérios e conhecidos estão o nacional, Poliamor Brasil, e também o regional, Pratique Poliamor RJ.

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Amor, dependência e Winehouse http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/09/amor-dependencia-e-winehouse/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/09/amor-dependencia-e-winehouse/#respond Mon, 09 Nov 2015 22:59:24 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2238 A diva do soul Amy Winehouse, que embarcou nas drogas e no relacionamento com um sujeito tóxico (Foto: reprodução)
A diva do soul Amy Winehouse, que embarcou nas drogas e no relacionamento com um sujeito tóxico (Foto: reprodução)

Depois de assistir ao excelente “Amy”, documentário sobre a carreira e a vida trágica da diva do soul britânica Amy Winehouse, em cartaz em São Paulo, fiquei com a séria convicção de que ela sofria do tal amor patológico.

Camille Claudel, com sua fixação por Rodin, tinha os traços da doença, diz a psiquiatra Monica Zilberman, do Instituto de Psiquiatria (IPQ) do Hospital das Clínicas de São Paulo. O personagem de Jim Carrey em “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, idem.

Winehouse era louca pelo marido, cujo relacionamento foi intenso, megaconturbado e autodestrutivo. A felicidade dela dependia da dele (“Se o meu marido está feliz, eu também estou”). Queria que as coisas fossem sentidas por ambos da mesma maneira, em uma relação simbiótica e obsessiva, duas características da doença que integra a lista dos transtornos tratados no Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do Hospital das Clínicas de SP.

Pessoas que sofrem de amor patológico (ou excessivo) ficam tão obcecadas pelo outro que chegam a fazer comentários do tipo “eu sei como um dependente de crack se sente”. A droga, no caso, é o parceiro (ou parceira, tanto faz, assim como a idade e a relação, que pode ser conjugal, de namoro ou entre amantes). No caso de Winehouse, ela tinha drogas a rodo: as ilícitas e um sujeito tóxico como marido.

“Eu perco a minha irmã quando ela está apaixonada”, diz o irmão de uma paciente. Isso porque tudo perde importância para a pessoa – família, trabalho, filhos, inclusive ela própria, que se anula, abandona seus interesses e necessidades. Passa a viver em função do companheiro, sendo excessiva no controle e nos cuidados (marca médico para uma dor de barriga dele, mas não vai ao cardiologista cuidar da sua hipertensão; ele é aventureiro, então ela passa a ser também…).

A incidência da doença nos homens é menor, 30% contra 70% de mulheres, mas quando eles são afetados é cruel, porque passam a questionar a própria virilidade. Carência e ligação do tipo passional são comportamentos associados ao feminino. Daí a conhecida e machista expressão “coisa de menina”, o que desviriliza o sujeito e causa sofrimento.

A fixação incontrolável pelo amado é um padrão que pode se repetir nas relações afora, ao longo da vida, ou aparecer diante de uma ameaça de rompimento. Nessa hora, surgem os sintomas, típicos de abstinência de drogas – taquicardia, dores musculares, insônia, alteração no apetite e/ou tremores. É um horror. A relação se deteriora, mas a pessoa mesmo insatisfeita não larga o osso. O pensamento é mais ou menos como “ruim com ele, pior sem ele”.

Claro que isso leva à separação. “É uma profecia que se cumpre”, como diz a psiquiatra. Um dia, sufocado, o outro vai embora, mesmo, e de preferência sem deixar rastros para não ser encontrado.

A causa da patologia tem relação com uma experiência de abandono durante a infância ou apenas o seu entendimento por parte da criança, e isso não faltou para Amy.

Seu sofrimento foi conduzido por um mix explosivo de ingredientes (cocaína, crack, álcool, bulimia, o cruel mundo da fama e a indústria sanguessuga do show business) que encontrou terreno fértil na vida de uma jovem cuja educação para o afeto na infância foi deficiente. O documentário (veja o trailer abaixo) mostra como a ausência do  pai, que depois se tornou um explorador, foi dolorosa e tanto custou à artista. Para quem não viu no cinema, Amy está disponível no Netflix a partir de 1º de fevereiro.

Tratamento existe. Psicoterapia e medicamentos para eventuais problemas associados, como depressão. “Tem sido usado também a mesma medicação para dependentes de álcool e outras drogas”, diz a psiquiatra.

Maturidade também pode funcionar como remédio. O ídolo de Winehouse, o cantor Tony Bennett, 89 anos, com quem ela gravou sua última canção antes de morrer, sabiamente declarou ao saber da morte precoce da cantora: “Life teach you to live, if you live long enough” (A vida ensina como vivê-la, se você viver o suficiente).

 

Atendimento gratuito em SP para pessoas que sofrem de amor patológico

PRO-AMITI – Ambulatório dos Transtornos do Impulso (HC)

Endereço: Rua dr. Ovídio Pires de Campos, 785. São Paulo (SP)

Telefone: (11) 2661-7805

E-mail: contato@amiti.com.br ou proamiti.secretaria@gmail.com

Site: proamiti.com.br

Atendimento:

Por telefone – de segunda a quarta e sexta, das 9h às 17h.

Consultas, grupos de terapia e atendimento presencial – quinta, das 8h às 16h30.

Proad – Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Unifesp)

Endereço: Rua Prof. Ascendino Reis, 763, Vila Clementino, São Paulo (SP)

Telefone: (11) 5579-1543

Site: psiquiatria.unifesp.br/proad

Atendimento: de segunda a sexta, das 8h às 17h.

]]> 0 O casa e separa aos 20 http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/04/25/o-casa-e-separa-aos-20/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/04/25/o-casa-e-separa-aos-20/#respond Sat, 25 Apr 2015 15:58:31 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1463 Manuela Monteiro, xxxxx, casou aos 23 e se separou aos 27

A maquiadora carioca Manuela Monteiro, de 31 anos (Foto: arquivo pessoal)

Encarar uma vida a dois e o pacote de obrigações e frustrações do cotidiano quando mal se entrou nos gloriosos 20 anos já foi um padrão e há muito tempo. Hoje, felizmente, é uma escolha – e não parece das mais inteligentes. A opção tem provocado o aumento de uma situação bizarra: a separação de casais mais jovens, gente com expectativas e sonhos aos borbotões e que rapidinho vê tudo (ou manda tudo) para as cucuias.

Não há dados estatísticos no Brasil sobre número de pedidos de divórcio pelos mais jovens, mas existe uma percepção de aumento – “especialmente na última década”, observa a juíza e escritora Andréa Pachá.

No Reino Unido, as maiores taxas de divórcio são, de longe, entre mulheres na faixa dos 25 aos 29 e de homens com idades entre 25 e 30 anos, segundo o último levantamento (2012) do Escritório Nacional de Estatísticas.

No processo jurídico do divórcio precoce não há imbróglio. É tudo muito simples: em geral, não existem bens para partilhar nem filho para discutir guarda ou pensão (às vezes, surge um cachorro na história, como o caso surreal da dupla que foi aos tribunais pela guarda de um buldogue, mas isso é raro).

Não há bens e também não há males para dividir ­– o tempo curto de vida conjugal costuma ser insuficiente para gerar grandes histórias ou mágoas e dificuldades para perdoar o rompimento de uma longa vida em comum. Além do mais, a perspectiva de recomeço é muito maior em relação ao que foi vivido.

Pensão alimentícia também não causa embates: “Os jovens são mais independentes, muitas vezes já trabalham ou são conscientes de que têm que trabalhar, e não depender de uma pensão”, diz o advogado Mário Delgado, presidente da Comissão de Assuntos Legislativos do IBDFAM (Instituo Brasileiro de Direito de Família).

Isso tudo facilita o processo de separação. E também banaliza.

Se por um lado a facilidade do divórcio rompeu preconceitos e submissões que existiam nas velhas famílias, nas quais, muitas mulheres morriam casadas mesmo sem amar o companheiro, e vice-versa, por outro lado, a banalização dos rompimentos pode indicar que a sociedade está se consolidando de uma maneira egoísta, onde o outro passa a ser objeto da nossa felicidade e não sujeito do nosso afeto, diz Pachá.

A juíza diz ter verificado “uma grande idealização muitas vezes desconectada da realidade, provocada pela sociedade do espetáculo e pelo consumo que transformou os casamentos em eventos comemorativos”. Quando chega a hora do “vamos ver”, de enfrentar os perrengues do dia a dia, a solução é menos insistir nas relações ou buscar alternativas, mas, “em nome da própria felicidade, partir para outra”.

Para entender um pouco essa realidade, “Casar, descasar, recasar” conversou com quatro jovens que se separaram antes dos 27 anos. Leia aqui a história delas.

FOTO Manuella Antiunes
Manuella Antunes, pernambucana, 27, é jornalista (Foto: arquivo pessoal)

“A nossa geração é muito menos comprometida com o outro”

Manuella Antunes (casou aos 23 e se separou aos 26)

“Nunca havia parado para pensar no que o casamento significava. Para mim, eu estava simplesmente continuando uma história. Conheci meu ex-marido quando tinha uns 16 anos, a gente fazia cursinho pré-vestibular. Namoramos ininterruptamente por sete anos. Nunca nos separamos, nunca nem pensamos em acabar.

A separação teve muito a ver com essa questão da idade. A gente começou o namoro muito cedo, e eu mudei muito quando casei. Comecei a ter outros anseios em relação ao mundo, à liberdade, eu era uma outra pessoa. Além, é claro, de ter chegado à conclusão de que não amava mais aquela pessoa.

A nossa geração é muito menos comprometida com o outro do que consigo. Somos muito egoístas, o que por um lado é ruim, mas por outro é muito bom, porque a gente consegue buscar o que quer.

Vejo algumas pessoas que abriram mão de muita coisa pelos relacionamentos… Eu não consegui. A gente quer ter tudo, vive na geração da informação, da liberdade, e aí não vai abrir mão de praticamente nada.

Hoje eu acho que casamento é como vestibular. A gente presta o exame muito cedo e por isso muitos se arrependem. Se a gente tem mais tempo para pensar, tem mais possibilidade de acertar.”

 

Camila Masini
A paulistana Camilla Masini, 29, é estudante de farmácia (Foto: arquivo pessoal)

“Você não é mais feliz? Não sofra, se separe!”

Camilla Masini (casou aos 24 e se separou aos 26)

“Não estávamos maduros para um casamento. Eu tentei não chegar na separação, mas quando decidi pensei: divórcio foi criado para ser usado quando não dá certo.

Achei que meus pais não iam me apoiar. Iriam brigar comigo, me forçar a continuar casada, mas eles me deram muito apoio. Antigamente, o divórcio era uma coisa proibida. Você precisava manter o casamento a qualquer custo.

Hoje em dia, você não é mais feliz? Não sofra, se separe! Por outro lado, qualquer problema já gera divórcio, às vezes em casos que poderiam ter solução. Acho que a nossa geração meio que banalizou o casamento. Ou sei lá, o tornou menos sério. Menos “até que a morte nos separe”.

Casar de novo? Acho difícil, mas não impossível. É que não me vejo mudando as minhas manias por ninguém.”

FOTO Marina
A estilista Marina Silveira, 26, paulista de Araçatuba  (Foto: arquivo pessoal)

“Nossa geração também é muito imediatista”

Marina Silveira (casou aos 23 anos e se separou aos 26)

“Eu casei por amor, mesmo, por acreditar que era para a vida inteira, não foi na loucura. Mas a gente era muito novo, e quando você vai amadurecendo, crescendo, parece que vai se distanciando do outro.

Hoje as pessoas estão muito independentes, pensam mais nelas e, por não haver mais tanto preconceito com o divórcio, as coisas ficam muito mais fáceis.

Acho que a minha independência atrapalhou um pouco. Porque ele era uma pessoa machista. Quando eu comecei a viajar e a trabalhar muito, ele ficou um pouco enciumado, por mais que ele me apoiasse, ele ficava sozinho. Eu acho que a liberdade da mulher hoje, que não se sente presa ao marido como na época em que ela não trabalhava, trás uma segurança muito forte. No final do meu casamento, eu me sustentava, ele sabia que eu não precisava dele para isso. Essa independência torna as pessoas mais livres para fazer suas escolhas. As pessoas da minha geração, geralmente, não dependem uma das outras.

Nossa geração também é muito imediatista. Tudo tem que ser resolvido hoje, agora e para ontem. Acho que isso faz com que as pessoas não reflitam muito sobre as decisões, sobre a vida. Se fôssemos mais maduros, com certeza saberíamos lidar de outra forma.

Eu quero, sim, casar de novo, ter filho, constituir família. Penso muito nisso, mas não agora.”

“A gente está menos tolerante também”

Manuela Monteiro (casou aos 23 e se separou aos 27)

“Era ótimo o casamento. Mas eu era bem nova e acho que por isso também me separei. Eu queria viver mais, conhecer outras pessoas. Chegou uma hora em que não estávamos mais felizes, e pensamos ‘pô, vamos terminar’. Hoje as pessoas têm essa cabeça: dure o tempo que tiver que durar, que me fizer bem.

A gente está menos tolerante também. Acho que é porque não precisamos manter a relação. Mesmo assim, quando eu me separei rolou um pouco de medo, pensava no que as pessoas iriam falar, achava que tinha quebrado a cara, mas no fundo eu não quebrei, durou o tempo que teve que durar e foi uma relação que me acrescentou muito para a vida.

Casar de novo? Superpenso nisso. Foi uma experiência maravilhosa. Acho que agora eu tenho que trocar essa experiência com outra pessoa.”

 

 

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Coração partido no MoMA http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/03/08/coracao-partido-no-moma/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/03/08/coracao-partido-no-moma/#respond Sun, 08 Mar 2015 13:00:19 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1151 Mergulhar fundo no problema, elaborar, processar e ver o sofrimento de uma ruptura amorosa passar. Algumas obras de arte são explicitamente criadas a partir de sentimentos e pensamentos mais íntimos dos artistas que viveram a perda de um amor.

Um trabalho novíssimo dessa categoria coração partido será exibido a partir deste domingo, dia 8, no MoMA, em Nova York, até 7 de junho. E, segundo o curador, é o principal trabalho da aguardada exposição.

O museu preparou uma retrospectiva dos mais de 20 anos de carreira da multifacetada artista Björk. Uma jornada musical que inclui arte, moda, vídeo e tecnologia para retratar o trabalho da islandesa que por si é quase uma instalação.

Com um guia de áudio na mão, o visitante vai ouvir música e poesia enquanto percorre um tour labiríntico por diferentes andares com fotos, roupas, diários e quase todos os videoclipes da artista. A peça destacada pelo curador, Klaus Biesenbach, é um vídeo feito especialmente para a mostra da música “Black Lake”, a mais linda do último trabalho de Björk, “Vulnicura”.

O CD, lançado em janeiro, disseca o fim do casamento da cantora, em 2013, com o também artista Matthew Barney. É o registro de todo o processo: da crise na relação, passando pela separação à superação.

O vídeo tem dez minutos e é uma experiência dolorosa, quase palpável. Gravado em locações surreais da Islandia, mostra Björk cantando entre grutas, lavas azuis e campos de musgo. Você pode ver uma amostra aqui.

 

OUTRAS OBRAS INSPIRADAS EM AMORES E DESAMORES

Artistas contemporâneos e pop, como a francesa Sofie Calle e a inglesa Adele, e gênios, como a mexicana Frida Khalo e Picasso – este último, representante da categoria “só amores” – estão nessa breve seleção para ouvir, ler e apreciar.

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ADELE

Para compor os seus dois álbuns, “19” e “21”, a jovem cantora britânica foi buscar inspiração no fim de seus relacionamentos amorosos. O sucesso foi tanto que um dos namorados chegou a processá-la, exigindo parte dos royolties, alegando que graças a ele a artista pode experimentar a dor inspiradora (!). Hoje, Adele está casada, tem um filho e se prepara para finalmente lançar um CD mais alegre (o que era planejado para o CD “21”, mas que acabou não dando certo).

 

SOPHIE CALLE

“Cuide de você” (2007)

O trabalho da artista francesa, que foi apresentado no Brasil em 2009, gira em torno do e-mail enviado a ela pelo namorado rompendo a relação. Pensando no que responder a ele, Sophie selecionou 107 mulheres de diferentes profissões, entre anônimas (dona de casa, advogada, engenheira) e famosas, como as atrizes Jeanne Moreau, Maria de Medeiros e Victoria Abril, e pediu que elas lessem e interpretassem a mensagem enviada pelo ex. Os vídeos integraram a instalação, composta ainda de textos e fotos. “Cuide de você” (“Prenez soin de vous”) era a última frase da mensagem do então namorado. Abaixo, a atriz Victoria Abril, uma das musas de Pedro Almodóvar, interpreta a “carta”.

 

 

 

 

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Casamento em Las Vegas e amor sólido http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/03/03/casamento-em-las-vegas-e-amor-solido/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/03/03/casamento-em-las-vegas-e-amor-solido/#respond Tue, 03 Mar 2015 13:30:02 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1099 Uma ida ao cabeleireiro no sábado rendeu encontros expressos e simultâneos com duas jovens que vivem momentos amorosos distintos. Mas os dois casos fazem lembrar o famoso conceito do sociólogo polonês Zygmunt Bauman sobre a existência fluida do homem moderno, a sociedade líquida, o amor líquido e, a estes, acrescento a separação líquida.

A moça sentada de frente para o espelho, enquanto as madeixas escuras eram repicadas, com fios salpicando para todo lado, falava em alto e excitado som: “Coloca essa nota no seu blog, acabo de me casar em Las Vegas! Casamos lá para experimentar. Se der certo, validamos no Brasil. Se não der, posso casar depois aqui”. É tendência.

Ao mesmo tempo, a mais jovem ao lado, de 26 anos e com os olhos lacrimejando, conta emocionada que se separou. O noivo era seu melhor amigo, o pai dela patrocinou uma festa de princesa, mas o casamento naufragou depois de três anos. Ela estava mortificada. E a noiva de Las Vegas, que parecia não perceber a emoção alheia, atravessa a conversa para anunciar que vai estrear um blog de style!

Segundo a garota, todas as amigas da sua idade querem casar cedo e muitas já estão na etapa separação. Para explicar essa tendência, ela cita o baixo grau de tolerância geral dos casais.

Parece que o que permite casar hoje é a separação – ou o casamento realizado fora do país (sic!). O fato é que relacionamentos fluidos e separações idem alienam e fazem sofrer.

Um ex-marido escreve hoje para o “Casar, descasar recasar”. Ele advoga em nome do amor sólido, que cria memória, transforma e se mantém respeitado quando a relação acaba. Para isso, haja trabalho e algumas virtudes.

(Ilustração: Marcelo Cipis)
(Ilustração: Marcelo Cipis)

Attraversare

Por Itibere Muarrek

Os italianos têm um termo que usam para um relacionamento amoroso que acho perfeito: attraversare. Atravessar a vida, ter uma companheira para realizar a travessia da vida. Para completar a ideia, acrescento uma frase do poeta Fernando Pessoa: “Navegar é preciso, viver não é preciso”.

Não há nada mais impreciso que a própria vida e atrelar nossa felicidade com a de outra pessoa torna a vida insana. Insano porque somar duas inconstâncias que se prometem amor eterno não é nada razoável.

Mas navegar é preciso, acreditar que vale a pena é preciso, saber o quanto a vida lhe é generosa ao lhe dar um amor para viver sublimemente é preciso. É nossa absolvição do cotidiano e o único meio de conquistarmos estados de felicidade. E aí, recheio este texto com mais uma citação, bem ao gosto de autoajuda em pílulas de 140 caracteres: “Um navio no porto é seguro, mas não é para isso que os navios foram feitos”, pensamento de William Shedd [teólogo norte-americano; 1820-1894].

Queremos a segurança em um relacionamento amoroso, podemos com precisão traçar rotas e objetivos para atravessar a vida com a companheira, mas viver é impreciso. Paradoxo do nosso tempo: ficar no porto nos torna obsoletos, seguir adiante, desbravando a vida, nos torna vulneráveis.

Fato do nosso momento civilizatório, parece que nada é eterno: relacionamentos ficam obsoletos, a renovação e a inovação têm que ser constantes. Mas essa é a natureza para APPs, não para “sistemas operacionais” do tipo humanos, que exigem conhecimento acumulado, estrutura e muita dedicação para se desenvolverem e se manterem.

A vida só se faz sentida quando nossas experiências e gostos se põem à prova, se aprofundam e ficam na memória. E isso se dá com repetição, reiteração, aprofundamento, com erros calculados (ou pensados, ao menos). Essa forma de viver cria um elo inquebrável com filhos, família, amigos, mas não garante a permanência física da companheira. A companheira vem e pode desaparecer por química para alguns ou alquimia para outros.

A companheira é um “ente” que nos retira do individualismo e potencializa nós mesmos e todo nosso entorno, coloco no ápice seu valor para a vida de um homem. É a pessoa que está ao seu lado e em você, simultaneamente. Ela se faz presente em como pensamos a realidade e construímos o futuro. E aí que a porca torce o rabo: quando o relacionamento acaba, se esvazia o futuro, o presente degringola, o cinza passa a ser o tom padrão do cotidiano – você até pode conseguir viver em 50 tons de cinzas por um tempo, mas o colorido da vida não terá.

O fim de um relacionamento, de uma hora para a outra, transforma tudo à nossa volta. Reorganizar vida com filho, pagar mais contas, refazer desejos de consumo e relação com amigos, perder a convivência com a outra família, ter novos objetivos sociais, maior dosagem alcoólica e sexo for fun… Enfim, livre. Toda a liberdade do mundo para ir aonde quiser. Mas ir para onde? Ir com quem? Com que bagagem?

Todo relacionamento acrescenta experiências que nos transformam e, portanto, não acabam pela sua ausência. A memória triunfa. Paradoxalmente, aceitar essa impermanência (mesmo não desejável) é o primeiro passo para criarmos condições para uma vida leve e aberta e tentarmos (quem sabe) um relacionamento estável como se fosse o último da série.

Em minha vida, entre tantos valores que aprendi de meus pais, familiares, amigos e que procuro cultivá-los – a grande custo, sim, pois está nada fácil suportar a violência nestes tempos de cólera, consumismo, sexo como commodities ou APPs e coletivos idealistas a cerca da vida alheia –, quatro virtudes foram relevantes em minha experiência de construção e reconstrução da minha vida amorosa. São elas: generosidade, resiliência, autoconfiança e humor.

GENEROSIDADE É o trunfo maior dessas virtudes, pois nela reside saber valorizar a companheira sem juízo de valores ou preconceitos, proporciona que o relacionamento se inicie sem a máscara da perfeição, do sonho, da ilusão. Reconhecer nossas imperfeições e fraquezas é o primeiro passo para que um relacionamento possa crescer com honestidade e cioso de podermos melhorar e aceitar a parceira e a nós mesmos. E, se em algum relacionamento filhos forem gerados, é a generosidade que projeta nos filhos uma perspectiva de que valeu a pena se relacionar, podemos ver neles as virtudes do casal. Isso também se expande aos familiares da relação que acabou, que estarão à distância para o resto de nossas vidas. Mas também são nossos, remotamente, a partir de nosso filho, pelos seus 50% de sangue e memórias.

RESILIÊNCIA Se a generosidade evita que o casal destrua completamente a embarcação por brigas, ranços, desconfianças, ela não evita que a embarcação seja desmontada e dividida ao meio. Daí entra a resiliência, que é nossa capacidade de resistir à derrocada, de consertar os estragos, arrumar as velas, estancar furos na canoa, retirar a água que afundava a embarcação e encontrar um novo rumo para sua história. A resiliência permite a reconstrução de nós mesmos e do nosso meio ambiente e social. Esta condição está ligada intimamente com a generosidade, pois sem a compreensão de que erros acontecem, que somos falíveis, que a vida está sujeita a altos e baixos sendo testados por novidades o tempo todo, não seguramos o rojão que são os últimos meses de um relacionamento. Sempre rojão. A perda é dos dois, de quem ainda ama e daquele que já não sabe o que faz naquele barco.

AUTOCONFIANÇA Consegue ser generoso com o mundo que o rodeia, nem que seja apenas pelo filho ou para seu sossego? Aguenta as pancadas e quedas da vida? Então, é bom que sua autoconfiança esteja em dia. Sem ela, ficamos desnorteados e sem rumo. Qualquer novo embate e oportunidade de relacionamento se tornam uma luta inglória, se não acreditamos que podemos sempre fazer mais e melhor, reconstruir a vida e num patamar melhor. Só com autoconfiança conseguimos remontar o barco e acolher a nova companheira para continuar a travessia, atento e seguro de que, desta vez, tentará não acumular furos, evitando os icebergs pelo caminho.

Casar, separar, recasar, parece sempre difícil e trabalhoso. E é!

HUMOR É o que inicia e finaliza bem um relacionamento ou vários relacionamentos, é o que nos faz aceitar com alto astral nossas próprias imperfeições e as imprecisões de viver. É o humor que nos humaniza e nos coloca lado a lado com todos de nosso entorno. O humor combate o rancor, a angústia, traz resultados próximos de um momento sublime de felicidade, ao que nos reduz em importância e nos eleva ao som do riso.

Casar, separar, recasar, separar, recasar… Pouco importa o quanto isso se faça contínuo, quantas vezes tenhamos que remontar a embarcação, refazer rumos. O fundamental é que na travessia da vida a gente construa uma memória que funda o passado, o presente e o futuro, que honre a família, que se perpetue nos descendentes e que tenhamos na companheira escolhida a testemunha e confidente íntima dos desejos que temos e vontades que efetivamos.

Itibere Muarrek, 46, casado, descasado e, hoje, marinado, é mestre em economia pela PUC-SP e trabalha com comunicação e marketing

 

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Franceses se divorciam menos e também se casam menos http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/10/franceses-se-divorciam-menos-e-tambem-se-casam-menos/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/10/franceses-se-divorciam-menos-e-tambem-se-casam-menos/#respond Tue, 10 Feb 2015 22:14:55 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=841  

Casamento tardio e custo do divórcio podem explicar queda nas separações na França, país mais romântico do planeta
Casamento tardio e custo do divórcio podem explicar queda nas separações na França, país mais romântico do planeta

Nos últimos dez anos, as separações na França têm registrado declínio constante. O número de divórcios bateu o recorde em 2005, com 155.523 casos. No ano passado, o número ficou abaixo dos 130 mil – o menor dos últimos 10 anos, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos francês.

Um milagre que só poderia acontecer em um dos países mais românticos do planeta? Não exatamente. Entre os fatores que podem estimular, segundo os pesquisadores, a queda no número de divórcios é o casamento tardio. Ao menos na teoria, casar-se mais tarde gera relações mais maduras. Em 2000, a idade média dos pombinhos na França era de 28 anos. Hoje, as mulheres se casam aos 30, e os homens, com 32 anos em média.

Outro ponto relevante: menos gente na França casa no papel. Em 2000, os casamentos oficiais contabilizavam 305.234 contra 238 mil uniões celebradas em 2013.

Por fim, os altos custos de um divórcio em um momento de crise andam assustando os franceses. Resultado: cada vez mais eles moram sob o mesmo teto apesar de separados.

Quem inventou o divórcio?

Se a crise no mundo capitalista é uma das possíveis razões da diminuição de divórcios na França, foi o próprio capitalismo que inventou a prática de dar fim ao casamento.

“O capitalismo moderno inventou o divórcio”, afirma o polêmico filósofo francês Luc Ferry em livro e conferências. O salário deu autonomia material às pessoas, que então passaram a se casar com quem queriam, e não mais à força, seguindo acordos matrimoniais movidos por questões familiares e financeiras.

Isso começou só depois da Segunda Guerra Mundial e entre os operários, que não tinham o que perder em termos de patrimônio. Depois entre os burgueses, diz o filósofo em entrevista ótima ao psicanalista Jorge Forbes. Ou seja, o divórcio foi inventado quase imediatamente após o casamento por amor. Como diz Ferry, “é o preço da liberdade do amor. A liberdade e o amor são bem mais difíceis que a tradição”.

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Apego X amor de verdade http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/05/apego-x-amor-de-verdade/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/05/apego-x-amor-de-verdade/#respond Thu, 05 Feb 2015 20:19:51 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=779 Conhece Jetsunma Tenzin Palmo? Eu a conheci apenas ontem, através de um vídeo pequenininho, míseros quatro minutos, mas poderosos. Numa linguagem muito simples, a monja tibetana e mestre, recomendada pela Sua Santidade o Dalai Lama, faz um depoimento que joga luz sobre um assunto que tanto emperra os relacionamentos: o maldito apego, diferente do amor de verdade.

O vídeo foi gravado pela equipe do “o lugar – espaço online e presencial de transformação ativa”, durante a primeira passagem da monja pelo Brasil, no ano passado.

12 ANOS NUMA CAVERNA

Jetsunma Tenzin Palmo ficou mundialmente conhecida depois de viver, dos 33 aos 45 anos de idade, em um retiro solitário dentro de uma caverna no Himalaia. Praticava 12 horas de meditação diária num espaço de 3 m x 1,80 m. Durante todo esse tempo, nunca se deitou. Sua “cama” era uma caixa de meditação de 80 cm de comprimento, como conta a ótima reportagem de Elka Andrello, disponível aqui.

Nascida na Inglaterra e hoje com 71 anos de idade, ela foi uma das primeiras mulheres ocidentais a ser ordenada monja no budismo tibetano. Leva o título de venerável mestre (significado de Jetsunma) em reconhecimento às suas realizações espirituais e pelo seu trabalho em promover as mulheres praticantes do budismo tibetano.

A monja passa a maior parte do ano no monastério que ela fundou, Dongyu Gatsal Ling, pioneiro para mulheres na Índia. Também viaja para dar palestras pelo mundo. Abaixo, um vídeo mais longo da mesma entrevista realizada pela turma do “o lugar”.

Gostou? Se quiser conhecer mais os ensinamentos da Monja, saiba que há um livro de sua autoria traduzido para o português. Focado nas questões do cotidiano, na vida como ela é e voltado para praticantes do budismo ou simplesmente interessados na filosofia, chama-se “No Coração da Vida: Sabedoria e Compaixão para o Cotidiano”. À venda aqui.

Segue um trechinho extraído do livro, que é uma visão inovadora e, quiçá, transformadora para aqueles que vivem em busca de segurança, ou seja, a torcida do Flamengo. Aliás, apego está ligado ao medo da perda (da relação com o outro, do estilo de vida…), enfim, à insegurança.

“A verdadeira segurança provém apenas do conforto com a insegurança. Ficarmos à vontade com o fluxo das coisas, ficarmos à vontade ao estarmos inseguros, essa é a maior segurança, pois nada pode nos tirar do prumo.”

 Leia mais: Separar-se dói, mas também pode ser uma benção

 

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“Até que a morte nos separe: coisa que existe entre pais e filhos” http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/04/ate-que-a-morte-nos-separe-coisa-que-existe-entre-pais-e-filhos/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/04/ate-que-a-morte-nos-separe-coisa-que-existe-entre-pais-e-filhos/#respond Wed, 04 Feb 2015 16:18:40 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=765 Kico Gemael, jornalista de TV dos mais competentes, é também conhecido, entre os amigos, pelo seu lado galinha – de mãe galinha! Como pai, ele é uma mãezona. Entre a saída de um casamento e o começo de outro (teve cinco até agora), Kico tem a proeza de “carregar” os filhos junto, mantendo a “ninhada” sempre perto.

A encantadora história de amor contada aqui é demonstração exemplar de que casamento acaba, casal se separa, constitui outra união, mas os filhos nunca ficam para trás – inclusive os da ex-parceira, que não são de sangue, mas de coração, como a enteada Camila.

Kiko e a enteada, Camila, no dia do casamento dela
Kiko e a enteada, Camila, no dia do casamento dela (Foto Arquivo pessoal)

Por Kico Gemael

“É a cara do pai.” Faz 25 anos que ouvi esta frase pela primeira vez. E nunca mais parei de ouvir. A primeira foi na feira, dita pelo Valdir da banca de frutas. Amigo das antigas, chamei Valdir num canto e cochichei: “Camila não é minha filha de sangue, é de coração. E tem tanto coração nessa história que estamos ficando parecidos por dentro e por fora”.

Camila tinha 5 anos quando casei com a mãe dela. Virei padrasto, ela enteada, descasei, casei de novo com outra mãe, descasei de novo – e ela continua filha. A mãe dela, passado.

Há duas semanas, em nova rodada de pastel na feira, o reencontro: Camila, os sobrinhos dela e meus netos, Alice e Joaquim, filhos dos irmãos de Camila e meus filhos, Manoela e Camil, o Valdir e eu. Quando viu a Camila, ele renovou a frase: “Continua a cara do pai”.

Foi amor à primeira vista. Quando fui morar com a mãe da Camila e também do Thiago, na época com 7 anos, os dois adoravam o pai, que por falta de tempo e outras circunstâncias não era muito presente.

O Thiago, em princípio, me rejeitou por completo. Afinal, era uma figura masculina ameaçando seu reino macho. Chegou a passar cola no meu pincel de barba de estimação. Foi uma relação complicada durante o casamento todo. Ao contrário da Camila. Nós nos grudamos como cola, ficamos como as cerdas do pincel de barba.

Caçula dos quatro “irmãos”, Camila virou minha companheira de compras e de tudo. Até de futebol. Ela, o pai dela, o Camil e eu torcíamos pelo mesmo time em Curitiba – o Paraná Clube. E lá íamos nós – menos o pai – para a Vila Capanema assistir os jogos mais absurdos do mundo do futebol. Paraná x Jandaia, na chuva – e  a gente gritando, xingando, comemorando, rindo –, vivendo uma bela história sem fim.

Sim, sem fim. Nestes 25 anos, Camila tomou a vida de assalto: batalhou como poucos fazem, venceu como raros conseguem, encantou como só os iluminados são capazes. Advogada com OAB, casada com um atleta, ri à toa. E mais: faz rir à toa.

E olha que foram 25 anos difíceis. Primeiro, o pai foi embora de repente. Depois, o avô – guru, ídolo e provedor da família – também embarcou para o outro mundo. Perdas que ela sente até hoje. Da mesma forma como nossa relação é a mesma até hoje. Aliás, relação tão forte que, diante de uma dívida da família que eu arcava sozinho e com muita dificuldade, ela ajudou a pagar alguns meses – sem nenhuma obrigação, mas por solidariedade, critérios de justiça e amor, muito amor.

Ela me emocionou milhares de vezes, mas as cenas mais fortes aconteceram nas datas festivas. Dia dos Pais era de chorar lençóis: bilhetinhos cheios de corações e cores que exalavam sentimento. Natal, Páscoa, sempre teve um beijo ou um telefonema – ao menos.

Até que chegou o dia de apresentar o namorado. No mesmo dia, apresentou para a mãe e para mim. Tempos depois, era o dia do casamento. Pai e filha entramos no templo onde foi realizada a cerimônia: o Terreiro de Umbanda Pai Maneco. Não tenho ilusão: tenho certeza de que, se o pai biológico estivesse vivo, seria ele; se o avô estivesse entre nós, seria ele. Nunca tentei substituir ninguém nem tive ciúmes, sequer olhei com o canto do olho. Sempre foi por amor e pela felicidade dela.

A cerimônia de casamento teve um significado especial. Mais ou menos assim: como um casal que vive junto há tempo e um dia resolve formalizar a união e casa. Nossa entrada na igreja formalizou nossa relação. Que vai durar – como a de todos os outros filhos – até que a morte nos separe. Coisa que o casamento não tem, coisa que só existe entre pais e filhos.

PS: nesse casamento, que foi o meu quarto, a mãe entrou com dois filhos – Thiago e Camila – e eu entrei com dois Manoela e Camil. E veio o terceiro filho de cada um – o quinto nosso. Ou melhor, a quinta: Olívia, hoje com 22 anos. O Thiago não cola mais meu pincel de barba, hoje somos colegas de profissão e amigos – bem amigos. Aparece de vez em quando para filar uma boia e jogar conversa fora – como todos os outros, que não deixam o pai sozinho minuto algum. A bênção, meus filhos.

Kico Gemael, 57 anos, jornalista, 5 casamentos, 4 filhos, 2 netos; curitibano de nascimento, paulistano de coração.

 

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