Casar, descasar, recasarjustiça – Casar, descasar, recasar http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br Wed, 20 Apr 2016 18:43:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 “A minha história é muito pior!” http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/19/a-minha-historia-e-muito-pior/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/19/a-minha-historia-e-muito-pior/#respond Thu, 19 Feb 2015 15:53:07 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=965 Quando a pessoa está devastada pelo fim da relação, magoada, desiludida por ver os sonhos de vida em comum não realizados, enfim, sofrendo intensamente, é comum achar que a sua história de separação é a pior que existe.

O problema é que essa crença funciona feito tiro no pé. Assumir o papel de vítima só dificulta ainda mais o que por si só já não moleza, como a aceitação da perda. Vitimar-se não impulsiona ninguém a seguir em frente, a se entregar a uma nova existência, a outras rotinas. Ao contrário, o sentimento de autocomiseração imobiliza, mina a capacidade da pessoa para resolver suas questões tanto de ordem afetiva como prática. Às vezes, o drama vai parar no tribunal, e a solução de um problema tão íntimo, uma história tão pessoal é terceirizada para o Estado.

Nesse sentido, entre vários outros sentidos, o livro recém-lançado pela respeitada juíza e escritora Andréa Pachá, “Segredo de Justiça”, é exemplar. O prefácio começa com a seguinte frase: “Vou lhe contar uma coisa: somos todos iguais. Na alegria e na tristeza”. Alguns parágrafos depois, ela afirma: “Embora a experiência da dor seja individual, a nossa humanidade nos faz pouco originais nas contradições, nos afetos e nos desamores”.

 

segredo de justiça
Detalhe da capa do recente livro da juíza Andréa Pachá (Foto: divulgação)

O livro traz 48 histórias criadas pela juíza, mas cujos conflitos existiram de verdade e ela presenciou entre as mais de 18 mil audiências realizadas durante seus 15 anos como juíza da Vara de Família no Rio de Janeiro. Hoje, ela atua como juíza da 4ª Vara de Órfãos e Sucessões do Rio de Janeiro e ouvidora-geral do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro.

Nem só aos magistrados, nem só aos separados. As histórias têm muito para encantar todo leitor, porque revelam dramas humanos das mais diferentes matizes, refletindo os sentimentos e as razões dos personagens envolvidos, como a mulher ferida mesmo depois de 17 anos separada, pois o marido a deixara para ficar com a irmã dela mais nova, ou do preocupado filho que pede na Justiça a interdição do pai, de 86 anos, que apresenta sintomas de demência senil.

A talentosa escritora e respeitada juíza Andréa Pachá (Foto: divulgação)
A talentosa escritora e respeitada juíza Andréa Pachá (Foto: divulgação)

As histórias, curiosas e emocionantes, são contados por meio de textos saborosos, leves, de humor esperto, sutil. Além disso, trazem questionamentos e reflexões a partir de uma abordagem delicada, extremamente amorosa, um olhar humano e afetuoso para o drama do outro.

“Segredo de Justiça” (224 páginas, ed. Agir), lançado no fim do ano passado, é uma espécie de complemento do best-seller “A Vida Não é Justa” (192 páginas, ed. Agir), de 2012.

Capa do best-seller de Andréa Pachá, lançado em 2013 (Foto: divulgação)
Capa do best-seller de Andréa Pachá, de 2012 (Foto: divulgação)

Neste primeiro livro, Andréa também faz ficção a partir de casos reais, porém foca nos casos dramáticos de fim do amor – uma senhorinha viciada em sexo virtual; pais que vão ao tribunal decidir a escola do filho; um garoto lutando sozinho pelo seu registro de nascimento. Logo mais, essas histórias devem estar em uma minissérie da Globo, que comprou os direitos da obra.

“Segredo de Justiça” trata da vida depois que o casamento termina, como filhos, pensão, patrimônio e velhice. Uma leitura que enriquece o repertório de homens e mulheres sobre a complexidade e as contradições dos amores e desamores.

Leia mais: “A Balada de Adam Henry”, livro do escritor best-seller Ian McEwan, em que a personagem principal é uma eminente juíza da Alta Corte britânica

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“Até que a morte nos separe: coisa que existe entre pais e filhos” http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/04/ate-que-a-morte-nos-separe-coisa-que-existe-entre-pais-e-filhos/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/04/ate-que-a-morte-nos-separe-coisa-que-existe-entre-pais-e-filhos/#respond Wed, 04 Feb 2015 16:18:40 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=765 Kico Gemael, jornalista de TV dos mais competentes, é também conhecido, entre os amigos, pelo seu lado galinha – de mãe galinha! Como pai, ele é uma mãezona. Entre a saída de um casamento e o começo de outro (teve cinco até agora), Kico tem a proeza de “carregar” os filhos junto, mantendo a “ninhada” sempre perto.

A encantadora história de amor contada aqui é demonstração exemplar de que casamento acaba, casal se separa, constitui outra união, mas os filhos nunca ficam para trás – inclusive os da ex-parceira, que não são de sangue, mas de coração, como a enteada Camila.

Kiko e a enteada, Camila, no dia do casamento dela
Kiko e a enteada, Camila, no dia do casamento dela (Foto Arquivo pessoal)

Por Kico Gemael

“É a cara do pai.” Faz 25 anos que ouvi esta frase pela primeira vez. E nunca mais parei de ouvir. A primeira foi na feira, dita pelo Valdir da banca de frutas. Amigo das antigas, chamei Valdir num canto e cochichei: “Camila não é minha filha de sangue, é de coração. E tem tanto coração nessa história que estamos ficando parecidos por dentro e por fora”.

Camila tinha 5 anos quando casei com a mãe dela. Virei padrasto, ela enteada, descasei, casei de novo com outra mãe, descasei de novo – e ela continua filha. A mãe dela, passado.

Há duas semanas, em nova rodada de pastel na feira, o reencontro: Camila, os sobrinhos dela e meus netos, Alice e Joaquim, filhos dos irmãos de Camila e meus filhos, Manoela e Camil, o Valdir e eu. Quando viu a Camila, ele renovou a frase: “Continua a cara do pai”.

Foi amor à primeira vista. Quando fui morar com a mãe da Camila e também do Thiago, na época com 7 anos, os dois adoravam o pai, que por falta de tempo e outras circunstâncias não era muito presente.

O Thiago, em princípio, me rejeitou por completo. Afinal, era uma figura masculina ameaçando seu reino macho. Chegou a passar cola no meu pincel de barba de estimação. Foi uma relação complicada durante o casamento todo. Ao contrário da Camila. Nós nos grudamos como cola, ficamos como as cerdas do pincel de barba.

Caçula dos quatro “irmãos”, Camila virou minha companheira de compras e de tudo. Até de futebol. Ela, o pai dela, o Camil e eu torcíamos pelo mesmo time em Curitiba – o Paraná Clube. E lá íamos nós – menos o pai – para a Vila Capanema assistir os jogos mais absurdos do mundo do futebol. Paraná x Jandaia, na chuva – e  a gente gritando, xingando, comemorando, rindo –, vivendo uma bela história sem fim.

Sim, sem fim. Nestes 25 anos, Camila tomou a vida de assalto: batalhou como poucos fazem, venceu como raros conseguem, encantou como só os iluminados são capazes. Advogada com OAB, casada com um atleta, ri à toa. E mais: faz rir à toa.

E olha que foram 25 anos difíceis. Primeiro, o pai foi embora de repente. Depois, o avô – guru, ídolo e provedor da família – também embarcou para o outro mundo. Perdas que ela sente até hoje. Da mesma forma como nossa relação é a mesma até hoje. Aliás, relação tão forte que, diante de uma dívida da família que eu arcava sozinho e com muita dificuldade, ela ajudou a pagar alguns meses – sem nenhuma obrigação, mas por solidariedade, critérios de justiça e amor, muito amor.

Ela me emocionou milhares de vezes, mas as cenas mais fortes aconteceram nas datas festivas. Dia dos Pais era de chorar lençóis: bilhetinhos cheios de corações e cores que exalavam sentimento. Natal, Páscoa, sempre teve um beijo ou um telefonema – ao menos.

Até que chegou o dia de apresentar o namorado. No mesmo dia, apresentou para a mãe e para mim. Tempos depois, era o dia do casamento. Pai e filha entramos no templo onde foi realizada a cerimônia: o Terreiro de Umbanda Pai Maneco. Não tenho ilusão: tenho certeza de que, se o pai biológico estivesse vivo, seria ele; se o avô estivesse entre nós, seria ele. Nunca tentei substituir ninguém nem tive ciúmes, sequer olhei com o canto do olho. Sempre foi por amor e pela felicidade dela.

A cerimônia de casamento teve um significado especial. Mais ou menos assim: como um casal que vive junto há tempo e um dia resolve formalizar a união e casa. Nossa entrada na igreja formalizou nossa relação. Que vai durar – como a de todos os outros filhos – até que a morte nos separe. Coisa que o casamento não tem, coisa que só existe entre pais e filhos.

PS: nesse casamento, que foi o meu quarto, a mãe entrou com dois filhos – Thiago e Camila – e eu entrei com dois Manoela e Camil. E veio o terceiro filho de cada um – o quinto nosso. Ou melhor, a quinta: Olívia, hoje com 22 anos. O Thiago não cola mais meu pincel de barba, hoje somos colegas de profissão e amigos – bem amigos. Aparece de vez em quando para filar uma boia e jogar conversa fora – como todos os outros, que não deixam o pai sozinho minuto algum. A bênção, meus filhos.

Kico Gemael, 57 anos, jornalista, 5 casamentos, 4 filhos, 2 netos; curitibano de nascimento, paulistano de coração.

 

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Acordo ou plano de vingança? http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/01/19/acordo-ou-plano-de-vinganca/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/01/19/acordo-ou-plano-de-vinganca/#respond Mon, 19 Jan 2015 19:32:19 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=451 Advogada de família conta o caso do cliente traído que chegou no escritório com todo o “acordo” feito. Para amenizar a dor, o homem enganado tenta tirar vantagem material; já a mulher traída, cujo sentimento de rejeição é o que pega, tem outra reação. Nessa hora, para o bem do casal, a atuação do advogado faz toda a diferença.

divulgacao o enigmatico V personagem de V de Vinganca vivido por Hugo Weaving
Advogado pode evitar decisões baseadas na vingança, sentimento representado no cinema pelo enigmático V, personagem do filme “V de Vingança”, vivido por Hugo Weaving (Foto: divulgação)

Por Shirlei Saracene Klouri

Advogar na área de família impõe ao profissional dupla responsabilidade: definir para as partes os limites do direito de cada um e entender as causas subliminares que motivaram o conflito, aquelas não expostas, mas que fazem toda diferença nas ações e reações.

Certa vez, fui procurada para atender um caso de infidelidade – esta mais “grave” e “séria” porque cometida pela esposa. O cliente, o marido ferido sobretudo no seu orgulho e masculinidade, apresentou a solução: ficaria com a guarda do filho de quatro anos e com as duas empresas. Trouxe o contrato social alterado pelo contador e já assinado pela esposa (culpada), deixando claro que a minha atuação profissional iria se limitar a formalizar a sua decisão e obter a homologação judicial.

Antes de recusar o trabalho, não poderia deixar de entender a “lógica” dessa postura. O traído disse estar absolutamente confortável com esse “acordo” feito com a mulher. Afinal, ele achava que não estava tirando nada do que a mulher já havia desprezado ao se envolver com outra pessoa. E estava tão certo das suas razões que conseguiu convencê-la do seu senso de “justiça”.

Percebo que na traição o homem e a mulher reagem de forma diferente. O homem busca uma vantagem patrimonial para aplacar o seu sofrimento, o que costumo chamar de autoindenização, porque foca na troca, no toma lá dá cá – “eu elevei sua condição financeira e você me traiu; então eu vou te tirar tudo”. Para a mulher traída, é o sentimento de rejeição que fala mais alto. Dói muito mais na alma ser substituída por outra do que ter seu patrimônio reduzido. Não que a mulher não se vingue, porém, no primeiro momento ela precisa resgatar sua autoestima para depois pensar em como agir, mas esse assunto é para outra coluna.

Voltando ao caso do marido, esclareci a ele que o adultério deixou de ser crime em 2005 e que, apesar de a fidelidade (para o casamento) e a lealdade (para a união estável) continuarem sendo deveres recíprocos, condição própria da cultura ocidental monogâmica, fazer “justiça” continua sendo atribuição exclusiva do Estado.

Acrescentei, ainda, que a infidelidade é civilmente penalizada com a perda da pensão alimentícia para o cônjuge responsável pelo fim do casamento e com a perda do sobrenome do marido, entretanto, essas duas hipóteses são relativizadas quando a mulher não tem condições para trabalhar, fazendo jus a pensão em valor mínimo para subsistência, e quando o sobrenome já incorporou a sua identidade, enfatizando, assim, que a mãe não perde o direito da guarda do filho e muito menos à metade do patrimônio comum, observando o regime de bens convencionado.

Sem muitos rodeios, falei francamente que, se fosse levado adiante esse “plano de vingança”, e não “acordo”, como dito, causaria muita revolta à ex-mulher quando amenizada a culpa. E isso porque amor ou desamor não se mede na proporção do patrimônio e o casamento pode acabar, mas ex-mulher enfurecida é para sempre! Deixei a reflexão.

Menos de dois meses depois, esse cliente voltou pronto para reformular suas decisões. Conseguimos consensualmente estabelecer a guarda compartilhada, porque o filho precisa igualmente dos pais, ainda que deixaram de ser um casal. E cada um assumiu uma das empresas que constituíram juntos, ficando ambos com fonte de renda para sustentar o menor.

A postura nesse caso exigiu mais do que conhecimento jurídico, foi necessário demonstrar que ética, lealdade e orientação profissional justa e equilibrada faz toda diferença para trazer à razão o cliente e que a lei deve sempre ser o limite para as partes e para o próprio advogado – por isso, fique atento quanto aos seus direitos e quem irá representá-lo.

 

Shirlei Saracene Klouri, do escritório Cesar Marcos Klouri Advogados, é advogada especialista na área de família

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