Casar, descasar, recasarmãe – Casar, descasar, recasar http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br Wed, 20 Apr 2016 18:43:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Guerra de pais pela guarda dos filhos: como escapar dessa enrascada http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/01/29/briga-pela-guarda-compartilhada-como-escapar-dessa-enrascada/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/01/29/briga-pela-guarda-compartilhada-como-escapar-dessa-enrascada/#respond Fri, 29 Jan 2016 15:55:57 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2706 A nova lei da guarda compartilhada, que tem pouco mais de um ano, está sendo colocada em prática, mas com muitas dificuldades. Há resistência por parte de mães em aceitar este modelo, que é um avanço e uma vitória delas, dos filhos e dos pais. Os processos litigiosos às vezes duram anos e, em muitos casos, por acusações de um ex-cônjuge contra o outro na disputa pelo filho – que não é de uma pessoa, mas de dois. Há advogados que seguem o caminho da conciliação, mas há os que priorizam ou não evitam a guerra.

E há muitas dúvidas. Por exemplo: se a guarda é compartilhada, a pensão também vai ser? Quando os pais moram em cidades diferentes, como seguir esse modelo? E no caso de filhos ainda bebês?

Para ajudar pais e mães envolvidos nesse imbroglio, o “Casar, descasar, recasar” promoveu uma conversa ontem na TV Folha com a advogada Shirlei Saracene Klouri, especialista na área de família e membro do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Defesa da Família), e um pai, Paulo Halegua, que fez da luta pela guarda compartilhada da filha mais nova um projeto de vida. Ele fala sobre a sua experiência de oito anos de briga na Justiça, tempo em que cursou direito e se especializou em direito de família.

Assista aqui o vídeo e deixe o seu comentário.

 

 

 

 

 

 

 

 

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Natal em novo estilo! http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/12/24/natal-em-novo-estilo/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/12/24/natal-em-novo-estilo/#respond Thu, 24 Dec 2015 16:08:57 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2509 Natal representa uma montanha de obrigações: gastar mais, comprar presente, comer peru e panetone, distribuir lembrancinhas, brincar de amigo secreto, dividir a mesa com quem não se gosta… Ninguém, portanto, merece ser obrigado a encarar a “noite feliz” com um parente prostrado pós-separação.

Esta é uma das datas mais difíceis, se não for a pior, de atravessar no primeiro ano depois do divórcio. Não importa explorar aqui as razões, mas vale ter essa consciência e tomar a iniciativa de se proteger e poupar os outros.

Mil anos atrás, recém-casada e sem noção do que significava o baque de uma separação, digamos, pouco civilizada, uma parente compareceu à festa na minha casa algumas semanas depois de o marido ter aprontado uma sacanagem do tipo “sair para comprar cigarro e não voltar”.

NATAL CASAR
Primeiro Natal separado costuma pedir inovação

Ela devia estar tomando uns barbitúricos pesados, porque passou a noite em estado de torpor, paralisada na mesma cadeira em que desabou ao chegar na festa. Tipo morta-viva, mesmo! E contaminava todos. Quem passava perto, era arrastado por aquele espírito de mortificação.

As crianças a todo momento questionavam o que havia acontecido com aquela tia que elas conheciam, mas que parecia outra. Além do mais, havia outras quatro mulheres de luto junto com ela: suas três filhas adolescentes e a mãe idosa.

Se tem uma coisa que ninguém é obrigado a fazer nem no dia de Natal é seguir esse caminho mais fácil, apesar de doloroso, da imobilização, da entrega, do autoabandono. A saída é inovar! Caia fora do modelo tradicional dos seus natais, ao menos no primeiro ano.

Conheço a história de uma mãe de quatro meninas que, na sua estreia separada no Natal, fez uma girls night em casa – uma farra, com todas de pijaminha, muitas guloseimas, música e dança. Um pai passou a comemorar a data cada ano em uma cidade diferente. Uma outra mulher aboliu a árvore com bolas em casa. Enfim, seja criativo e imagine uma programação que vai ser mais interessante, curiosa, reconfortante…

Peço perdão por estar sugerindo mudanças no seu Natal (que começa hoje à noite) tão em cima da hora. Fiquei ocupada produzindo a inovação do meu. De todo modo, a proposta serve para qualquer ano e para passar adiante aos que venham a precisar.

Atenção, casados e famílias em geral: inovem também o Natal de vocês. Pode ficar muito mais divertido reunir, junto com a sua família, uma turma de agregados que estejam precisando de uma força neste ano. Seja porque os filhos foram morar em outra cidade, seja porque perdeu um pai ou outro familiar querido, porque está jururu com a demissão no trabalho… Lembrando ainda que amanhã você é quem pode estar precisando ser acolhido.

Seja qual for a sua crença, esse é um momento de transcendência. Portanto, mergulhe de cabeça nessa aventura maravilhosa que é a experiência da vida trocando afeto.

 

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S.O.S. Madrastas http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/13/s-o-s-madrastas/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/13/s-o-s-madrastas/#respond Fri, 13 Nov 2015 20:44:31 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2357 “Casar, descasar, recasar” prossegue firme no seu projeto “só amor” para madrastas e enteados. A meta é colaborar para tornar mais tranquila a relação, em geral conturbada, dos filhos com a nova mulher do pai.

Descobrir o que se passa na cabeça dos menores quando eles se veem obrigados a se relacionar com essa nova pessoa na família ajuda a madrasta a entender muitas das reações da criança. Esse foi o tema da primeira reportagem publicada aqui, Os 10 segredos de enteado que toda madrasta deve saber.

Feita essa descoberta, é chegada a vez de dar voz a elas e discutir a melhor forma de lidar com as reações do enteado. Afinal, com raras exceções, o caminho das madrastas é bastante acidentado. Ficar amigo dessa nova mulher do pai, muitas vezes, representa para a criança uma traição à mãe.

Do lado da nossa cultura, não vem nenhum ajuda, ao contrário. A figura da madrasta carrega uma conotação negativa muito forte, é a mãe má, a bruxa dos contos de fada que habita o inconsciente coletivo.

Além disso, a criança naturalmente tende a colocar a mulher do pai em um lugar idealizado. Num primeiro momento, esse lugar é positivo, o da fada que vai dar tudo aquilo que ela não recebe da mãe. Depois, numa segunda fase, a idealização é negativa. Conflitos sérios, profundos, que o filho tem ou teve com a mãe, como momentos em que se sentiu excluído, abandonado, são projetados na madrasta. Como se não bastasse, ainda há o agravante de que a criança não tem tanto medo de perder a madrasta, explica a terapeuta familiar Anne Lise Scappaticci, da Sociedade Brasileira de Psicanálise.

Mas o pai pode ajudar, sinalizando ao filho que o lugar dele está garantido e que, quando crescer, vai escolher a sua namorada e sua mulher, assim como o pai faz agora, diz Ana Balkanyi Hoffman, psiquiatra da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

Confira abaixo nove situações enfrentadas por madrastas e as atitudes mais acertadas e as não recomendáveis para quem busca construir laços amorosos com o enteado. As orientações foram dadas pela psicanalista Anne Lise à repórter Giovanna Maradei.

Screen Shot 2015-11-13 at 6.28.13 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.28.31 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.29.03 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.29.44 PM 1Screen Shot 2015-11-13 at 6.30.02 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.10 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.18 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.34 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.44 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.53 PM

 

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“Querida mamãe”, vírgula! http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/08/14/querida-mamae-virgula/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/08/14/querida-mamae-virgula/#respond Fri, 14 Aug 2015 21:45:21 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1842 4-Justice-Families-Ilustracao Andry Rajoelina-frances
Supermães e a dificuldade de dividir poderes com o pai (Ilustração: Andry Rajoelina)

Muda a década, muda o século, muda até a era, e alguns assuntos não só continuam em pauta na mídia como ainda fazem sucesso. São temas clássicos sobre os quais muito se fala, mas novidade que é bom costuma haver bem pouca. A tripla jornada da mulher é um deles.

Em 1989, saí da redação de uma revista feminina encarregada de entrevistar um importante psicanalista sobre a divisão de trabalho entre marido e mulher (pena, não posso dizer quem era, porque estou em dúvida entre os dois nomes mais famosos da época). Mas a tese do especialista joga luz sobre um aspecto diferente: a dificuldade da mulher em dividir com o homem funções que sempre foram dela porque isso diminui o seu poder. Enquanto é ela quem sempre e tão bem se comunica com o pediatra, detém as informações e o histórico de saúde da criança, o poder nesse campo está nas suas mãos. Daí então algumas reclamam “sempre eu tenho que levar o Bruninho ao médico”, mas não passam o bastão para o pai nem a pau, sob a alegação de que “ele não vai dar conta do recado”. Será?

Com o aumento de pais divorciados e conscientes da importância de acompanharem a vida escolar dos filhos, a tese do psicanalista merece ser lembrada. A escola dos pequenos é um ambiente predominantemente feminino, as mães reinam soberanas nesse espaço. Agora, em época de guarda compartilhada, tem pai pedindo passagem. Em nome dos filhos, vale a pena colaborar com os que andam lutando pela saudável causa da paternidade. Adicioná-los para o grupo do WhatsApp, em geral restrito às mães, por exemplo, já é um começo. Quanto às escolas, o tradicional “querida mamãe” na agenda do filho tem sido trocado pelo oportuno “caros pais”. Leia mais na reportagem abaixo.

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Ativista da causa paterna, Lizandro Chagas, alerta que pai tem que mostrar a que veio (Ilustração: Andry Rajoelina)

“Nas reuniões de pais, eu me sinto um ser mitológico”

Por Giovanna Maradei

“Um pai que queira ser participativo tem que fazer como as mulheres fizeram na sua revolução sexual: ir à luta. Não precisa queimar cueca, como as mulheres simbolizaram no passado com o sutiã, mas tem que mostrar sua vocação paterna”, afirma o professor e pai solteiro Lizandro Chagas sobre a importância da participação do pai na vida escolar do filho. “Tem que buscar apoio, conhecimento, opiniões, mas sempre mostrar a que veio”, diz o ativista da causa paterna, como ele se autointitula.

Do ponto de vista legal, o pai tem garantido pelo Código Civil o acesso às informações escolares, essencial para que ele exerça o seu dever paterno e garanta a educação do filho. Esse direito ganhou dois reforços, em 2009  e 2014 (leia mais abaixo, em “Como manda a lei”). Na prática, porém, o que ainda se vê é a mulher com o monopólio do universo escolar dos filhos e o pai, quase sempre, como um ser à parte.

Dois exemplos que ilustram o domínio feminino: o clássico bilhete na agenda da criança endereçado à “querida mamãe” e a ação dos grupos de mães que decidem sobre temas extracurriculares, mas ainda assim importantes à vida escolar, como quem dá carona para quem ou o que colocar na mala do acampamento.

Esse velho padrão, em tempos de guarda compartilhada, começa a incomodar e forçar mudanças.

O jornalista e pai divorciado Rodrigo Padron despejou no Facebook a sua revolta e a lista de reclamações contra a escola da filha. Ele nunca havia recebido uma comunicação sequer sobre qualquer tema da vida escolar da criança e ainda considerava uma afronta o tratamento dado pelas professoras aos pais. Em um determinado Dia dos Pais, por exemplo, a escola organizou atividades especiais em que os marmanjos foram tratados de forma muito infantil. Em uma delas, a “tia” anunciou: “Os papais vão fazer uma coisa que nunca fizeram antes”. E essa coisa era algo como dar papinha para o filho ou brincar no chão com a criança.

O post rendeu uma ação imediata da diretora da escola, que chamou Padron para uma conversa, informando nunca ter recebido uma reclamação como aquela. “Eu falei para ela que, no futuro, minha filha iria ler os registros da escolinha e me cobrar ‘papai, onde você estava?’”, diz Padron. A educadora deu razão ao pai, cuja guarda não era dele, mas da mãe, e em dez dias tudo mudou. Ele passou a receber os comunicados da escola por e-mail e os bilhetinhos antes dirigidos à “querida mamãe” passaram a ser “aos pais”.

Tanto Padron como Chagas, porém, sabem que a questão é mais profunda. A lei existe, é cumprida, mas os padrões culturais e estereótipos sociais emperram as mudanças. Padron conta que, mesmo depois da mudança de atitude da escola, ele se sente um pouco deslocado no ambiente. “Quando busco minha filha, eu fico à margem, com um ou outro pai que eventualmente está por ali”. Chagas reclama: “Nas reuniões de pais, eu me sinto um ser mitológico, um saci, um unicórnio, um dragão… Um alien”, completando que o mesmo sentimento aparece nas “atividades extras do meu filho, como natação e futebol, e consultas pediátricas “.

“A gente tem que se propor a quebrar esse paradigma”, afirma Padron. “Os pais às vezes aceitam essa condição de ‘quem vai cuidar é a mãe, eu estou aqui só para dar um suporte’.” Nesse sentido, as mães poderiam colaborar com os pais interessados, facilitando a sua entrada em um ambiente predominantemente feminino.

Além de serem maioria no universo da escola, as mães se organizam em paralelo quase sempre sem convidar os pais. É o caso dos grupos de WhatsApp, que parecem ter virado regra entre as mãezonas de crianças pequenas. “Nesses grupos, elas organizam festas, piqueniques, falam mal da escola, dos maridos…”, conta rindo Amábile Pacios,  presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep).

Uma mãe divorciada, a comerciante Renata Souza, contesta o comando materno, por considerá-lo um peso para a mulher: “Por que só eu, que sou mãe, tenho que me preocupar com o presente do Dia dos Professores? Por que o pai não pode ter o trabalho de participar da organização da festa junina da escola?”.

Chagas, professor de ensino médio há 15 anos, conta que no papel de pai de criança pequena vê aumentar a presença paterna na escola, ainda que de forma tímida. Já a professora Amábile não identifica mudança: “Existem pais que são exceção, mas eles deveriam ser a regra”. Ela revela que, para proteger as crianças da baixa presença dos pais na escola, algumas instituições substituem o Dia dos Pais pelo dia da família. Assim, o filho que não contar com o pai por perto não deverá se sentir constrangida.

COMO MANDA A LEI

O acesso de ambos os pais aos registros escolares já é garantido pelo Código Civil, que determina que o pai tem o direito e o dever de zelar pela educação do filho, independentemente do seu status civil e da detenção da guarda, diz Melissa Telles Barufi, presidente da Comissão Nacional de Infância e Juventude do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM).

Além dessa garantia prevista no Código, em 2009 foi feita uma alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, explicitando que as instituições estão obrigadas a fornecer informações escolares aos pais, sejam eles conviventes ou não. Em 2014, a nova lei da guarda compartilhada reforçou este direito ao estabelecer uma multa, que varia entre R$ 200 e R$ 500 por dia para o estabelecimento privado que se negar a fornecer informações ao pai ou a mãe.

A advogada de família Shirlei Klouri conta que, nos casos de divórcio, é recorrente a reclamação de pais querendo participar mais do ambiente escolar. “Mas hoje raramente a dificuldade é fruto de barreiras colocadas pelo colégio.” Na maioria das vezes, diz ela, o que acontece é o pai tentar justificar sua ausência culpando a escola ou a mãe dificultar o acesso à informação pelo pai para afastá-lo do filho. O que pode ser caracterizado alienação parental.

Todas as informações da escola sobre a criança devem ser enviadas tanto para o pai quanto para mãe, recomenda a presidente da Fenep. Especialmente sobre autorizações para saídas e viagens, a escola pode sugerir aos pais que elejam um responsável para facilitar o trâmite burocrático. Sobre os boletos de cobrança, é comum serem enviados só ao responsável financeiro. Mas os comunicados a respeito de desempenho escolar e atividades devem obrigatoriamente ser enviados a ambos os responsáveis, seja em caso de guarda compartilhada ou unilateral.

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Socorro! Meus pais vão se separar (aos 70!) http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/07/24/socorro-meus-pais-vao-se-separar-aos-70/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/07/24/socorro-meus-pais-vao-se-separar-aos-70/#respond Fri, 24 Jul 2015 20:22:53 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1763 A dona de casa Rosa Wainberg, 82, que coordena grupo de meditação na Unifesp
Kit qualidade de vida do idoso inclui mais do que exercício, alimentação saudável e vida social ativa; na foto, Rosa Wainberg, 82, que coordena grupo de meditação na Unifesp

O pacote qualidade de vida do idoso – programação social intensa, muita atividade física, hobbies e até um desafio profissional – é a realização de todo filho. Agora, quando o interesse dos digníssimos progenitores é dar uma geral na vida conjugal, aí vira um perereco!

O pensamento dominante e angustiante costuma ser: “Separados, eles vão dar mais muito mais trabalho do que juntos”. No caso de um recasamento, o Deus nos acuda tem outra motivação: “Como vai ficar o patrimônio?”. E se a filhona ouve falar que papi, aos 80, pensa em sexo, ela “surta”, porque a hipótese lhe parece totalmente abominável.

Uma profusão de ideias e atitudes equivocadas abalam a vida de pais e filhos, criando uma novo formato de conflito de gerações. Os mais jovens desconhecem ou não entendem o interesse dos mais velhos em preencher os anos seguintes com realizações variadas, inclusive na vida conjugal – quem tem 60 hoje pode contar com mais umas duas ou três décadas de vida pela frente.

Os filhos podem atrapalhar o caminho desses pais ou serem facilitadores. Na tentativa de colaborar com as duas partes, “Casar, descasar, recasar” revela aqui o que é importante saber quando o assunto é sexo e vida conjugal de idosos. As informações valiosas foram dadas pelo professor titular de geriatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor do  Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas, Wilson Jacob Filho. Confira abaixo.

AS FILHAS

Para a filha casada, a separação dos pais é um choque, apesar de que raramente ela é pega de surpresa, a não ser quando a mãe descobre que o pai tem uma vida paralela; em geral, ela sabe que aquele casamento foi se complicando. É um choque por dois motivos. Primeiro porque se desfaz aquele elo que sempre teve como diretriz, o ambiente de segurança. E segundo porque sabe que separados eles darão mais problema para ela do que casados.

Quando o casal está junto, e ele tem uma pneumonia e vai para o hospital, quem vai cuidar? É a mulher. Se estão separados, é o filho. Um já não é mais do outro. A filha não chega e fala ‘mãe, ele é teu marido’ ou ‘pai, ela é tua esposa’. O pai passa a ser do filho ou da filha enquanto não encontrarem outra pessoa que ajude a cuidar dele, no sentido laborial ou financeiro.

Um fato absolutamente verdadeiro: mulheres com filhas ainda jovens ou solteiras temem iniciar um novo relacionamento com um homem por achar que ele possa se interessar pela jovem. É frequentíssimo ouvir: “Enquanto as minhas filhas não casarem, eu não me aproximo de nenhum homem”. Ou quando perguntada “por que a senhora não iniciou um novo relacionamento?”, a resposta é “porque eu tinha filhas mulheres e isso é muito perigoso”. Perigoso para ela pela possibilidade de ser preterida em função de sua filha e perigoso para a filha ao levar para casa um homem que ela não pode confiar. Existe uma lógica nisso. No lado mais dramático, uma boa parte dos abusos sexuais foram feitos por padrastos.

A filha acha que o pai é dela, tem um ciúme impressionante. As filhas de homens, dizem ‘meu pai’ com uma carga de posse: ‘Você está dizendo isso do meeeeeeeu pai?’. Respondo: ‘Estou dizendo que o seu pai precisa de uma companheira para fazer aquilo que ele não pode fazer com você’. E ela fica estupefata, pasma, em ouvir que aquele homem de 75, 80 anos tem desejo sexual. Não gosto de endeusar isso, mas faz parte.

A filha, quando tem uma mãe que vai casar, fica feliz. A preocupação é fundamentalmente com o patrimônio. Vai querer saber como vai ser a condição patrimonial da família. Como vão ficar os seus bens, pensar no futuro do “Jorginho”. A questão patrimonial mexe com todo o mundo; as pessoas ficam possessas quando veem seu patrimônio ameaçado. 

OS FILHOS

O filho homem tem muito ciúmes da mãe. Depois da separação, muitas vezes ele entende ser o homem da família, o macho alfa. Quando a mãe tem um novo relacionamento, é como se ele estivesse perdendo a liderança dentro da própria casa. Isso quando os filhos moram na casa da mãe. Quando vivem fora, o temor é financeiro. A exigência, que ocorre com muita frequência, é que o possível novo casamento seja com separação total de bens para que não haja possibilidade de comprometimento.

Filhos entre 30 e 50 anos, muitas vezes sobrecarregados pelo cuidado dos pais separados, veem em um novo casamento do pai ou da mãe a possibilidade de dividir o trabalho e a responsabilidade com alguém. Um pai que estava, por exemplo, pedindo para a filha fazer supermercado, telefonar todo dia, de repente com uma companheira não vai precisar mais disso.

Muitos filhos tentam aproximar, principalmente os pais e menos as mães, de um eventual potencial companheiro. Eles tentam apresentar: ‘Olha, tem uma senhora lá no meu escritório procurando alguém para ir ao cinema. Por que você não vai com ela?’. Muitos dos pais reclamam que eles querem favorecer um casamento a qualquer custo. Esses idosos são muito pressionados. Os pais hoje dão muito menos palpite no casamento dos seus filhos do que os filhos dão no dos seus pais.

O SEXO

Uma mãe de 70 anos dificilmente confessa a seus filhos que tem necessidades sexuais. Os filhos não aceitam isso ou aceitam muito raramente. Acham que a mãe ou o pai são assexuados, frutos de uma geração espontânea, que nunca transaram; se transaram, foi de luz apagada.

Eu falo para a filha: “Você acha que a sua mãe não gosta de sexo?”.

Ela acha abominável isso, quando a mãe acaba de me dizer na consulta que se masturba duas, três vezes por semana.

A quantidade de senhoras que vai para uma instituição de longa permanência e levam um vibrador é gigante!

Pessoas com idade avançada não perdem a sua sexualidade. Podem modificá-la de forma a ficar socialmente mais aceita. Uma mulher de 80 anos diria, por exemplo, “olha, minha filha, que homem lindo”, quando na verdade ela gostaria de ter o contato.

Uma frase muito falada é: “O remédio que eu preciso não vende em farmácia”. Mas isso não pode ser dito aos seus filhos. Eles têm dificuldade de entender que os pais são mais do que provedores, de fazer essa transição do papel da mãe para o de mulher.

QUEIXA DE IDOSAS

Da mulher de 70, eu geralmente ouço: ‘Ele até que é interessante, mas está em busca de uma enfermeira, não de uma esposa”. Geralmente, o homem não tem a oferecer, ele tem a pedir. Às vezes, tem a oferecer uma proteção financeira, mas tende a esperar uma condição de cuidados. Não raramente homens que foram viúvos de mulheres que precisaram de cuidado, casam-se com as cuidadoras, que já conhecem a casa e sabem cuidar. Então, existe esse lado.

Uma queixa muito frequente delas: “Fui ao baile, ele me tirou pra dançar e queria saber onde a gente ia passar a noite. Eu não quero passar a noite com ninguém ainda. Eu quero namorar, jantar, ir no teatro, fazer uma série de coisas antes de passar a noite”.

Não tenho a menor duvida de que a mulher busca um companheiro, tanto que, se ele não for muito sexualmente ativo, isso não é um obstáculo. Mas se ela não for, é um obstáculo.

QUEIXA DE IDOSOS

Muito homens dizem isso de seus filhos: “Olha, eles arrumam cada mulher para mim! Eu digo deixa que eu me viro, eu me arranjo, tô muito bem sozinho”.

O filho tem que ter calma, incentivar que tanto o pai quanto a mãe tenham vida social, mas não necessariamente casamento. Devem fazer uma abordagem suave, delicada. É pior ficar empurrando. Isso vale também para a filha em relação à mãe.

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Que nem coelho, mas sem filhos http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/04/28/que-nem-coelho-mas-sem-filhos/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/04/28/que-nem-coelho-mas-sem-filhos/#respond Tue, 28 Apr 2015 16:33:11 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1496 kissing-rabbits
Amar, casar e fazer sexo feito coelho, mas sem gerar filhos é uma escolha do casal que ainda incomoda os outros

Mulher, casada e que não gosta de criança. Confesso, bem sem graça, que já tive opinião preconceituosa em relação a esse perfil feminino. Lembro especialmente de uma cena que presenciei no século passado, quando meus filhos eram pequenos e fui, sem eles, jantar na casa de um casal conhecido.

Enquanto o papo rolava solto no momento drinques, um buldogue pesadão se arrastava pela sala, roçando vez ou outra a perna das visitas ­– e poderia ter sido um elegante whippet ou um peludo fofinho que não faria diferença.

Quando o tema filhos surgiu na roda (o que invariavelmente acontece), a anfitriã declarou, em alto e bom som, preferir de longe cachorros a crianças. Fiquei em choque – eu era tolinha!

Hoje somos amigas, ela não teve filho (por sorte do possível rebento), adquiriu um filhote recentemente e, passados três meses, doou o bicho, porque também já não aguenta a função.

Neste século marcado pela pluralidade, pelo debate sobre tolerância, cooperação e respeito à diversidade, mulher que escolhe não ter filhos ainda sofre, por incrível que pareça, preconceito e uma pressão social muito forte.

Nos Estados Unidos, existe até grupo de apoio para as chamadas NoMos (abreviação de Not Mothers ou não mães, em inglês), mulheres que não investiram na maternidade seja porque não quiseram, não encontraram um parceiro ideal, por infertilidade ou outra razão. Entre as celebs da geração NoMos, a atriz Cameron Dias é a porta-voz do direito de optar em não ter filhos e ser feliz.

É sobre essa experiência o tema do guest post de hoje, assinado pela blogueira feminista e professora do Departamento de Letras Estrangeiras da Universidade Federal do Ceará Lola Aronovich. Ela relata aqui com humor as cobranças que sofreu, junto com o marido, por causa da sua “ambição de transar que nem coelhinhos, mas sem esses efeitos colaterais chamados filhos”.

A opção por não ter filhos

Por Lola Aronovich

Eu tinha 23 anos quando conheci o – vamos ser piegas – amor da minha vida. Ele, 32. Nenhum dos dois havia namorado sério antes. Tínhamos apenas uma certeza: se ficássemos juntos, não teríamos filhos.

Por que essa certeza? Até hoje não sei. Claro, havia um pouco de “não gosto de crianças”, argumento usado mais como defesa que como justificativa verdadeira (e hoje já assumi: adoro crianças, mais ainda quando não tenho que ficar com elas o tempo todo). Talvez houvesse um espírito rebelde, que também contaminara meus irmãos (aos 40 anos, nem eu, nem meus dois irmãos tinham filhos, para desespero da minha mãe, que queria muito ser avó). Ou quem sabe não era tão profundo. Era apenas a suspeita de que a vida estava boa daquele jeito. Por que complicá-la?

Portanto, pouco depois de nos conhecermos, procuramos um médico. Expusemos a situação: estávamos apaixonados, tínhamos a ambição de transar que nem coelhinhos, mas sem esses efeitos colaterais chamados filhos. O maridão, então namoradão, poderia fazer uma vasectomia? O médico foi categórico: jamais. Se ao menos ele tivesse filhos, podíamos pensar no assunto. Mas ele era jovem demais para se submeter a um procedimento irreversível. Nenhum médico aceitaria fazer a cirurgia, garantiu. E ainda emendou: “Não é porque você não toca piano que vai querer cortar os dedos”.

Saímos do consultório arrastando os pés: nenhum de nós sonhava em ser Chopin.

Mas o médico estava convicto de que cedo ou tarde nos renderíamos à normalidade e faríamos o que tantos casais fazem – um filho.

Não fizemos. Não por falta de pressão. As cobranças eram frequentes, quase sempre para o meu lado. Eu era a tirana que estaria impedindo meu marido de satisfazer o sonho de todo homem, ser pai. Era impensável que ele não quisesse. E lógico que eu queria! Tinha que querer. Onde está seu instinto maternal, menina? E sem dúvida que um casal sem filhos não iria ficar junto por muito tempo! Até hoje, um monte de gente crê que sou infértil, seca, incapaz de reprodução. Não querer parece não ser uma opção.

Ah, se eles soubessem! Se soubessem que o mundo mudou. Na década de 1970, uma em cada dez mulheres nos EUA chegava à menopausa sem ter tido filhos. Hoje, esse número é de uma em cada cinco. Continuo sendo exceção, mas 20% não é tão desprezível. No Brasil, 4% dos domicílios é formado por DINCs (sigla para double income, no children, ou dupla renda, sem filhos). E se os estacionados no tempo soubessem que filhos não necessariamente trazem felicidade! Um estudo realizado com 909 donas de casa no Texas pediu para que elencassem suas atividades favoritas. “Cuidar dos filhos” ficou em 16º lugar, num total de 19 atividades. Até limpar a casa acabou na frente!

No entanto, ainda há muita gente que acha que você é um ser humano incompleto se não deixou a alguém o legado da sua miséria. Lembro-me bem de um blogueiro americano, pai de três, que há alguns anos vaticinou: quem não se reproduz é como uma vela ao vento, que se apagará ao morrer sem deixar marca alguma.

Seus leitores se indignaram: mas e os pais adotivos? E os homossexuais? E os héteros que adorariam, mas não conseguem ter filhos? E a Madre Teresa de Calcutá? Não seria muito narcisismo pensar que só espalhando sua sementinha você está sendo útil à humanidade? O blogueiro acabou pedindo desculpas.

Quanto ao maridão e eu, quase um quarto de século depois de nos conhecermos, continuamos juntos, apaixonados, sem filhos e sem o menor arrependimento de não tê-los. Em compensação, nossa ideia original de imitar a intensa vida sexual dos coelhos foi para as cucuias.

Lola Aronovich, 47, é professora do Departamento de Letras Estrangeiras da Universidade Federal do Ceará e autora do blog Escreva Lola Escreva 

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10 segredos de enteado que você precisa saber http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/04/08/10-segredos-de-enteado-que-voce-precisa-saber/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/04/08/10-segredos-de-enteado-que-voce-precisa-saber/#respond Wed, 08 Apr 2015 17:52:09 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1341 Kyle Catlett em cena do filme Uma viagem extrairdunária_Jan Thijs:Divulgacao
Kyle Catlett em cena do filme de aventura “Uma Viagem Extraordinária” (Foto: Jan Thijs/divulgação)

Alô, madrasta! Muito do mal-estar, dos desentendimentos e conflitos na relação com os filhos do seu marido pode ser transformado se você descobrir como as crianças se sentem e o que elas pensam diante de uma nova configuração familiar e de certas atitudes equivocadas e comuns de madrastas.

“Casar, descasar, recasar” organizou, com a ajuda preciosa da psiquiatra Vanessa Pinzon, que também é coordenadora-geral do Protad (Projeto em Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares na Infância e Adolescência), 10 das principais queixas de enteados e enteadas. Saiba o que eles pensam e o que gostariam de dizer para suas madrastas.

1. Você nunca deixa o meu pai sozinho comigo, sempre tem que estar junto. Mas tem horas que eu quero ficar só com ele. E não é porque eu não gosto de você. Até quando os meus pais eram casados, tinha horas que eu queria ficar só com a minha mãe e horas que eu queria ficar só com o meu pai, fazer programa de pai e filho. É diferente, entende?

2. Eu não tenho culpa das atitudes do meu pai. Às vezes, você reclama que ele faz tudo o que eu quero, que dá tudo o que eu peço, que ele não sai mais com você sem os filhos (eu e os meus irmãos).  A culpa não é minha. Converse com ele! Esse é um problema de vocês, adultos.

3. Quando eu tenho uma festa à noite e meu pai tem que me levar, depois tem que buscar, você fica chateada, você não gosta. E eu me sinto incomodando. Mas eu preciso do meu pai também.

4. Você quer dar uma de minha mãe, dizendo o que eu devo fazer. Eu já tenho uma mãe, não preciso de outra. O pior é que, às vezes, o que você pensa é o contrário do que ela pensa. No final, eu fico com três opiniões: a sua, a da minha mãe e a do meu pai. E aí, o que eu faço? Fico confuso. Gostaria muito que você, quando percebesse que estou triste, com alguma dúvida, desse um toque para o meu pai vir falar comigo e deixasse o meu pai falar. É mais fácil conversar com ele, que me conhece mais do que você.

5. Claro que eu gostaria muito de ter o meu pai vivendo junto com a minha mãe e eu na mesma casa. Mas se você for legal comigo, está tudo bem!

6. Minha mãe é o exemplo de tudo o que eu conheço, e você tem um jeito diferente dela, daí eu brigo, porque não sei o que fazer. Por exemplo: ela e o meu pai exigem que eu sempre tire nota alta na escola, e você diz que não, o que importa é passar de ano. Daí acho que tenho que defender a minha mãe e brigo com você.

7. O seu filho não é meu irmão. Ele ainda é um estranho para mim, preciso conhecer essa pessoa. Estou começando a me habituar com essa nova família do meu pai. Então, vamos devagar, eu preciso de tempo para entender tudo isso.

8. Quando você fala mal da minha mãe, eu me sinto culpado de ficar ouvindo. E não sei o que fazer. Tenho medo de responder para você e meu pai ficar bravo comigo e medo de não contar para a minha mãe e ela ficar brava. E se eu contar, ela vai perguntar o que eu fiz e reclamar que eu não a defendi.

9. Existem coisas que você quer que eu faça, mas que a minha mãe não deixa. Comer chocolate à vontade, por exemplo. Daí, eu tenho que mentir para você ou para a minha mãe. E é horrível ter que mentir. No fim, minha mãe sempre descobre.

10. Às vezes, acho que você só me aguenta por causa do meu pai. Por isso, alguns dias eu não quero vir para cá, fico quieto, triste. Tenho medo de atrapalhar. E você reclama que eu não falo nada, que eu nunca digo o que quero fazer, não dou opinião. Até parece que eu não gosto de você, mas na verdade eu tenho medo de que você não goste de mim.

 

 

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Show de sabedoria e amor na audiência de separação da filha http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/03/30/show-de-sabedoria-e-amor-na-audiencia-de-separacao-da-filha/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/03/30/show-de-sabedoria-e-amor-na-audiencia-de-separacao-da-filha/#respond Mon, 30 Mar 2015 17:27:11 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1295 Casamento é de dois, mas une tantas almas. Principalmente no caso das uniões longas, que incluem uma coleção de festas de aniversário, almoços de domingo, de dias dos pais, das mães e de Páscoa, além de velórios, enterros, doenças e outros eventos que se repetem e constroem a história de todos de uma família.

O rompimento de um casamento desestabiliza essa rede familiar. A pior dor é do casal, claro, mas por tabela o sofrimento pode atingir em cheio os pais, muitas vezes idosos.

É o caso da história emocionante de uma idosa e valente mãe que dá um show de sabedoria e demonstração de amor e acolhimento incondicional à filha durante a audiência de sua separação.

O texto é da juíza Andréa Pachá e uma das suas histórias preferidas que compõem o livro “A Vida Não é Justa” (ed. Agir). O best-seller traz crônicas baseadas em casos reais presenciados pela escritora e juíza durante seus 15 anos atuando na Vara de Família no Rio de Janeiro. Hoje, Andréa Pachá é juíza da 4ª Vara de Órfãos e Sucessões do Rio de Janeiro e ouvidora-geral do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro e é também autora do recém-lançado “Segredo de Justiça” (ed. Agir).

Segue abaixo o texto. Para pensar na mãe, no amor e na saúde.

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“Essas flores são para que você nunca esqueça da mulher íntegra que é e que muito me orgulha”, disse a mãe ao receber a filha após a audiência de divórcio no Tribunal

Fala quem pode

Por Andréa Pachá

Separações são sempre difíceis. Mesmo quando a decisão é construída pelos dois, a sensação é de fracasso, culpa, tristeza profunda. E o pior é que não tem bula ou manual de instruções.

Tudo parece tão fácil – nos filmes. Depois da tela escura, amanhece. Cada qual na sua casa, com a roupa de cama no armário, a louça na cozinha e os livros displicentemente arrumados nas estantes. Ninguém faz as malas, ninguém discute o significado dos objetos colecionados durante quase 30 anos. Não se reflete sobre o melhor momento de empacotar a vida ou apartar o paletó do vestido.

Costumam ser rápidas as audiências consensuais de separação. Raramente uma reconciliação, mas com frequência um choro e sempre a dor da ferida ainda não cicatrizada.

Fernando e Teresa não se pareciam com nenhum dos milhares de casais que acostumei ver naquela situação. Mal conseguiam se entreolhar. Não tinham filhos. Não precisavam de pensão. O patrimônio do casal seria dividido em partes iguais e ela voltaria a usar o nome de solteira.

Antes que eu formulasse a burocrática pergunta sobre a possibilidade de reconciliação – especialmente burocrática naquele caso, considerando a nítida distância entre os dois –, entra na sala uma senhora. Era  muito idosa, cabelos brancos arrumados, chiquérrima e com um buquê de rosas colombianas vermelhas na mão.

– Desculpa, doutora. É minha mãe – informou Teresa.

– Posso aguardar aqui dentro, excelência? – perguntou a senhora com as rosas.

– Se vocês não se incomodarem…

Tanto Teresa quanto Fernando assentiram. Altiva, ela sentou e, tranquila, aguardou o encerramento do ato.

O acordo foi ratificado e o tempo não passava. Nunca demorou tanto uma impressão de texto. Parecia a eternidade. O silêncio, ali, era sólido, machucava. Eu não sabia o que podia fazer, ao menos, para amenizar o visível constrangimento do casal e, óbvio, o meu.

Ele era professor universitário e ela pesquisadora. Provoquei alguma pauta política do dia e a discussão sobre os arquivos da ditadura veio à tona. Qualquer coisa era mais suportável que aquele silêncio.

Soube, então, que se conheceram nos anos 60, no movimento estudantil, e foi um amor de ideias e liberdade. Companheiros da resistência, não podia haver qualquer evento capaz de destruir a solidez dos projetos e sonhos. Dividiam as almas e se imaginavam juntos até o fim.

Ela nunca engravidou e em exames preparatórios para um tratamento de infertilidade, quase aos 40 anos, veio o diagnóstico de câncer de mama.

Ele a acompanhou na cirurgia e na quimioterapia. Poucos meses depois do retorno do hospital, a notícia de uma gravidez não programada de outra mulher, com quem Fernando tivera um relacionamento eventual e passageiro, caiu como uma bomba, no já detonado quarteirão doméstico.

Mesmo fragilizada pela doença, a racionalidade prevaleceu. E se teve impulsos de descontrole ou vitimização, e se pretendeu quebrar tudo, Teresa se conteve. O que os fazia parceiros era muito mais do que um sentimento de posse. Maduros, éticos, leais e politicamente corretos, enfrentariam a situação como adultos que eram e continuariam no mesmo barco.

Atenta, eu assistia hipnotizada e admirada à história contada pelos dois.

Alguns anos depois, um novo tumor.  Desta vez, Fernando não suportou o encargo, a responsabilidade. Não era falta de compreensão ou solidariedade. Era falta de vontade de prosseguir. Conversaram. De novo, sem drama, sem tragédia e sem bolero. Procuraram o advogado e ali estavam.

Assinados os papeis e prontos para sair, a senhora das rosas levanta e numa voz firme, pede a palavra.

Informei que a audiência havia terminado e, caso Fernando quisesse, podia sair, mas, autoritária, ela o impediu.

– Só preciso dizer uma coisa, Fernando. E gostaria que você ouvisse.

Ele parou respeitosamente e permaneceu de pé.

Ela prosseguiu:

– No dia do casamento de vocês, meu marido, ainda vivo, te entregou o nosso bem mais precioso. Hoje, eu fiz questão de vir aqui, com flores, para receber de volta a melhor mulher que você podia ter encontrado na sua vida. Não te culpo por nada. Só lamento que você não tenha conseguido chegar nessa idade com a sabedoria, a maturidade e a generosidade que se espera de um homem. Sempre te acolhi como um filho e nunca imaginei que uma pessoa de caráter pudesse abandonar qualquer ser humano no momento mais frágil da sua vida. Isso, rapaz, é papel de moleque. A vida não serviu para que você se transformasse numa pessoa melhor. Nessas horas, dói mais pra mim, a revelação do seu egoísmo e falta de compaixão.

Nenhuma reação. Nem de Teresa, nem de Fernando.

– Acabei. Pode ir. Seja feliz, coisa que eu duvido que você consiga.

Ainda da porta, ele ouviu o que faltava:

– Você, minha filha, me dá um abraço apertado. Essas flores são para que você nunca esqueça da mulher íntegra que é e que muito me orgulha. Não temos, no sangue, a capacidade de armazenar ressentimentos. Você vai ser muito feliz porque merece. Dignidade é coisa que homem nenhum tira da gente.

Fernando deixou a sala. Levantei e pedi um abraço da senhorinha. Racional, como Teresa, eu não podia ter feito aquele discurso, principalmente porque não sou juíza para julgar desejos, impulsos e limitações alheios.

Não consegui, entretanto, esconder a satisfação de presenciar um acerto de contas, vindo de uma autoridade que só a idade e a dignidade conferem. Aquela mãe não tinha nenhum compromisso, quer com a racionalidade, quer com a legalidade. Podia falar o que quisesse naquelas circunstâncias.

Partiram, mãe e filha, de braços dados, com o buquê de rosas vermelhas, no cortejo para a vida.

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“Até que a morte nos separe: coisa que existe entre pais e filhos” http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/04/ate-que-a-morte-nos-separe-coisa-que-existe-entre-pais-e-filhos/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/04/ate-que-a-morte-nos-separe-coisa-que-existe-entre-pais-e-filhos/#respond Wed, 04 Feb 2015 16:18:40 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=765 Kico Gemael, jornalista de TV dos mais competentes, é também conhecido, entre os amigos, pelo seu lado galinha – de mãe galinha! Como pai, ele é uma mãezona. Entre a saída de um casamento e o começo de outro (teve cinco até agora), Kico tem a proeza de “carregar” os filhos junto, mantendo a “ninhada” sempre perto.

A encantadora história de amor contada aqui é demonstração exemplar de que casamento acaba, casal se separa, constitui outra união, mas os filhos nunca ficam para trás – inclusive os da ex-parceira, que não são de sangue, mas de coração, como a enteada Camila.

Kiko e a enteada, Camila, no dia do casamento dela
Kiko e a enteada, Camila, no dia do casamento dela (Foto Arquivo pessoal)

Por Kico Gemael

“É a cara do pai.” Faz 25 anos que ouvi esta frase pela primeira vez. E nunca mais parei de ouvir. A primeira foi na feira, dita pelo Valdir da banca de frutas. Amigo das antigas, chamei Valdir num canto e cochichei: “Camila não é minha filha de sangue, é de coração. E tem tanto coração nessa história que estamos ficando parecidos por dentro e por fora”.

Camila tinha 5 anos quando casei com a mãe dela. Virei padrasto, ela enteada, descasei, casei de novo com outra mãe, descasei de novo – e ela continua filha. A mãe dela, passado.

Há duas semanas, em nova rodada de pastel na feira, o reencontro: Camila, os sobrinhos dela e meus netos, Alice e Joaquim, filhos dos irmãos de Camila e meus filhos, Manoela e Camil, o Valdir e eu. Quando viu a Camila, ele renovou a frase: “Continua a cara do pai”.

Foi amor à primeira vista. Quando fui morar com a mãe da Camila e também do Thiago, na época com 7 anos, os dois adoravam o pai, que por falta de tempo e outras circunstâncias não era muito presente.

O Thiago, em princípio, me rejeitou por completo. Afinal, era uma figura masculina ameaçando seu reino macho. Chegou a passar cola no meu pincel de barba de estimação. Foi uma relação complicada durante o casamento todo. Ao contrário da Camila. Nós nos grudamos como cola, ficamos como as cerdas do pincel de barba.

Caçula dos quatro “irmãos”, Camila virou minha companheira de compras e de tudo. Até de futebol. Ela, o pai dela, o Camil e eu torcíamos pelo mesmo time em Curitiba – o Paraná Clube. E lá íamos nós – menos o pai – para a Vila Capanema assistir os jogos mais absurdos do mundo do futebol. Paraná x Jandaia, na chuva – e  a gente gritando, xingando, comemorando, rindo –, vivendo uma bela história sem fim.

Sim, sem fim. Nestes 25 anos, Camila tomou a vida de assalto: batalhou como poucos fazem, venceu como raros conseguem, encantou como só os iluminados são capazes. Advogada com OAB, casada com um atleta, ri à toa. E mais: faz rir à toa.

E olha que foram 25 anos difíceis. Primeiro, o pai foi embora de repente. Depois, o avô – guru, ídolo e provedor da família – também embarcou para o outro mundo. Perdas que ela sente até hoje. Da mesma forma como nossa relação é a mesma até hoje. Aliás, relação tão forte que, diante de uma dívida da família que eu arcava sozinho e com muita dificuldade, ela ajudou a pagar alguns meses – sem nenhuma obrigação, mas por solidariedade, critérios de justiça e amor, muito amor.

Ela me emocionou milhares de vezes, mas as cenas mais fortes aconteceram nas datas festivas. Dia dos Pais era de chorar lençóis: bilhetinhos cheios de corações e cores que exalavam sentimento. Natal, Páscoa, sempre teve um beijo ou um telefonema – ao menos.

Até que chegou o dia de apresentar o namorado. No mesmo dia, apresentou para a mãe e para mim. Tempos depois, era o dia do casamento. Pai e filha entramos no templo onde foi realizada a cerimônia: o Terreiro de Umbanda Pai Maneco. Não tenho ilusão: tenho certeza de que, se o pai biológico estivesse vivo, seria ele; se o avô estivesse entre nós, seria ele. Nunca tentei substituir ninguém nem tive ciúmes, sequer olhei com o canto do olho. Sempre foi por amor e pela felicidade dela.

A cerimônia de casamento teve um significado especial. Mais ou menos assim: como um casal que vive junto há tempo e um dia resolve formalizar a união e casa. Nossa entrada na igreja formalizou nossa relação. Que vai durar – como a de todos os outros filhos – até que a morte nos separe. Coisa que o casamento não tem, coisa que só existe entre pais e filhos.

PS: nesse casamento, que foi o meu quarto, a mãe entrou com dois filhos – Thiago e Camila – e eu entrei com dois Manoela e Camil. E veio o terceiro filho de cada um – o quinto nosso. Ou melhor, a quinta: Olívia, hoje com 22 anos. O Thiago não cola mais meu pincel de barba, hoje somos colegas de profissão e amigos – bem amigos. Aparece de vez em quando para filar uma boia e jogar conversa fora – como todos os outros, que não deixam o pai sozinho minuto algum. A bênção, meus filhos.

Kico Gemael, 57 anos, jornalista, 5 casamentos, 4 filhos, 2 netos; curitibano de nascimento, paulistano de coração.

 

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Dois tipos de guerreira em dois filmes imperdíveis http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/01/30/dois-tipos-de-guerreira-em-dois-filmes-imperdiveis/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/01/30/dois-tipos-de-guerreira-em-dois-filmes-imperdiveis/#respond Fri, 30 Jan 2015 22:08:44 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=725 Difícil passar batido pelo tema mulher/casamento/filhos explorado em dois filmes imperdíveis em cartaz em São Paulo agora. Se não assistiu: corra!

Um deles é a produção “Mil Vezes Boa Noite”. A protagonista, vivida pela francesa Juliette Binoche, é uma das melhores fotógrafas de guerra do mundo. Sua perigosa rotina é feita de viagens rumo a zonas de conflito pesado. Só que ela é mãe – tem duas lindas meninas, além de um maridão.

Como dá para conciliar? Pois é, essa é a questão central. Não dá. É preciso escolher entre a profissão, que ela já sabia ser era a grande paixão da sua vida muito antes de se casar e ser mãe, e a sua desolada família. O marido (Nikolaj Coster-Waldau, de “Game of Thrones”) num dado momento, quando não atura mais a situação de ter de segurar a onda da família sozinho, acaba dando um duro ultimato e as crianças crescem sofrendo com a ausência da mãe e a sensação constante da sua iminente morte durante o expediente de trabalho.

O segundo filme é o que está na boca do povo: “Boyhood – Da Infância à Juventude”. Não é apenas – o que também já bastaria – um filme que acompanha a vida de um menino durante 12 anos. É excelente sob muitos outros aspectos – casamento e maternidade, por exemplo.

A mãe (a americana Patricia Arquette, vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante) engravida muito jovem e logo de dois filhos. Separa-se do “irresponsável” e também adorável marido (Ethan Hawke).

Essa mãe, ao contrário da fotógrafa, se desdobra, se “mata” para estudar e dar conta da criação do casal de filhos. Megaresponsável e muito exigente consigo e as crianças, é também uma afetiva e protetora mãe. Já no quesito matrimônio, faz péssimas escolhas.

Em meio à vida atribulada de mãe solteira e professora universitária, ela vai dando conta de casar e descasar dos maridos problemáticos, mantendo os filhos sempre como prioridade na vida.

Duas mulheres guerreiras: uma na profissão (a fotógrafa, duplamente guerreira, aliás) e outra no âmbito da maternidade (a professora universitária). Uma não consegue viver sem se dedicar aos filhos; a outra não consegue viver dedicada aos filhos. Dá para julgar? Vai lá ver e depois me conta. Bom fim de semana!

Leia mais: O casamento dançou e você não vai sambar? Dê risada com esses filmes

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