Casar, descasar, recasarmulher – Casar, descasar, recasar http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br Wed, 20 Apr 2016 18:43:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Vendemos mal o nosso peixe http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/03/08/vendemos-mal-o-nosso-peixe/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/03/08/vendemos-mal-o-nosso-peixe/#respond Tue, 08 Mar 2016 23:38:42 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2817 Às sete da manhã de hoje, o celular começou a apitar do lado da cama com a chegada de flores pelo 8 de março. O buquê foi enviado por uma conhecida querida, mulher batalhadora, mãe, divorciada e que, no momento, enfrenta a batalha contra um câncer. Mais rosas foram chegando ao longo do dia, enviadas por homens também.

Flores são sempre bem-vindas, ainda que virtuais pelo WhattsApp! Agradeço. Mas o dia está mais para lembrar a luta diária por direitos iguais, fim das discriminações e ação de todos nós!

No quesito casamento e descasamento, um montão de questões do cotidiano refletem atitudes e mentalidades machistas. A dupla ou tripla jornada de trabalho (a remunerada na rua e a não remunerada em casa) é uma das temáticas femininas que, em matéria de Ibope, só perdem para a TPM quando se tem 20 anos.

Aliás, a questão é global. No mundo todo, é a mulher quem faz a maior parte do trabalho não remunerado (cozinhar, cuidar da casa e filhos): são 4,5 horas, em média, dedicadas todos os dias a esse serviço. É mais que o dobro da carga de trabalho doméstico dos homens, que passam mais tempo trabalhando fora de casa e se divertindo. Tudo isso segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

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O caderno “The New York Times International Weekly” publicado na Folha no último sábado, dia 5/5, traz uma tabela com o número de horas que homens e mulheres de 29 países dedicam todos os dias às tarefas domésticas. A reportagem enfoca o aspecto econômico do tema: desigualdade de gênero trava o avanço econômico!

Como reduzir essa disparidade e melhorar o cotidiano massacrante especialmente de mulheres de classes mais baixas? Há quem fale em medidas governamentais, como licenças remuneradas para pais e mães de recém-nascidos. Mas a raiz da questão é sociocultural, mesmo, e passa pela educação de pais, mães e filhos.

A convite do “Casar, descasar, recasar”, a psiquiatra e analista junguiana Iraci Galiás, da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, escreveu uma reflexão bastante inspiradora em prol do resgate do feminino na nossa cultura.

O RESGATE DO FEMININO NA CULTURA

 

Por Iraci Galiás

Há muito tempo nossa cultura vem funcionando com divisão de papéis bem delimitada entre o homem e a mulher. Dizem os estudiosos que nem sempre foi assim, mas é assim que ficou. A cultura modifica seus valores, é uma espécie de organismo vivo que se transforma, tornando algumas coisas melhores e outras piores.

Nessa divisão de papéis, ao homem coube ser o provedor, o que resolve certos assuntos da família, o que se profissionaliza, exerce um trabalho que tem valor, tanto que ganha dinheiro. À mulher coube cuidar da casa, filhos, marido, enfim, da família. Lá pelas tantas, ela saiu à rua, se profissionalizou, foi para as universidades, se afirmou e até começou a ganhar dinheiro.

Só que passou a se sentir sobrecarregada. Além do que já cuidava, conquistou o direito de ter novas responsabilidades, dividindo com o homem as áreas que a ele cabiam.

Ouço de amigas, colegas e clientes, perguntas com as quais tenho empatia por fazê-las às vezes eu mesma: “Será que somos bobas, será que fizemos um bom negócio?”. Olhando por esse ângulo, muito espertas não fomos. Mas não acredito que possamos nos pensar “vítimas” de mais uma “esperteza” masculina, que tudo tenha sido trama do homem para diminuir sua tarefa. Afinal, todos nós, homens e mulheres, temos nossa dose de esperteza e nossa dose de tontice.

O universo do homem, de que ele se ocupa, é muito valorizado. É o mundo do sucesso, das conquistas, do sacrificado, mas grandioso. E o que ouvimos sobre o mundo da mulher? Queixas e muitas. “Que vida mais chata. Cuidar da casa é uma tarefa insana. Sempre fazendo as mesmas coisas. E ele ainda reclama do meu desânimo para fazer um lindo jantar para os homens de seu mundo importante dos negócios. E também tenho que ficar magra. Afinal, “ele é quem quer, ele é o homem, eu sou apenas uma mulher…” (até você, Caetano!).

Refletindo sobre essas questões, ocorreram-me algumas imagens. Imagine uma feira livre com duas bancas de pescado. Uma é dos homens e a sua propaganda é assim: “Comprem, comprem, comprem. Temos salmão de primeira, bacalhau fresco, lagosta, camarão, trutas e preciosos filés de linguado!”. E, claro, produtos tão bons custam caro, mas vale a pena. E o produto é tão bom e a propaganda tão bem-feita, que a mulher logo se esforçou ao máximo e comprou esse peixe. E continua comprando – o salmão-universidade, o bacalhau-trabalho fora de casa, a lagosta-cargo importante, o camarão-ganhar dinheiro, a truta-fazer palestras, o filé de linguado-escrever artigos etc.

Na frente dessa banca, há outra banca de peixe, a da mulher, e aos homens que passam por ali é feita a seguinte propaganda: “Comprem aqui, seus injustos e arrogantes. A sardinha está quase apodrecendo, as pequenas postas de cação já estão moles e grudentas, os mariscos, quase malcheirosos, e vocês ainda não compram? Vendo não tão barato porque, do contrário, tenho prejuízo, mas comprem, porque esta é uma obrigação de vocês!”. Logicamente, o homem não compra. Com essa propaganda, ainda que fosse só tonto, não o faria.

Se contratássemos uma consultoria para essa empresária-banca-de-peixe-mulher, seguramente alguns apontamentos e conselhos óbvios seriam dados. O primeiro: questioná-la por que ela desvaloriza tanto o seu produto. E se desvaloriza, como quer vender? E se quer mesmo vender, por que faz tão má propaganda do nosso produto ­– nosso porque nos coube mediante a divisão de papéis, nosso porque temos muita intimidade com ele.

Jung concebe o ser nascendo com arquétipos. Chama de arquétipo da Grande Mãe o que cuida da nutrição e fertilidade; a lua é um de seus símbolos. Chama de arquétipo do Pai o que cuida da separação entre os opostos de uma forma elitizada, separando o certo-errado, bom-mau etc., trazendo a clareza, coerência e pingos nos is. É simbolizado pelo sol.

Homens e mulheres possuem todos os arquétipos. Mas, na divisão cultural de papéis, a mulher ficou mais identificada com o arquétipo da mãe (dona-do-mundo-da-lua) e o homem, com o arquétipo do pai (dono-do-mundo-do-sol).

No nosso passeio reflexivo, vemos que a mulher ganhou o lugar ao sol, mas o homem ainda não ganhou o lugar à lua.

Voltando às imagens: imagine duas grandes batalhas sendo travadas por eles e por elas. A primeira é a da conquista do patriarcal. Para o homem, essa é uma luta alinhada com o que a sociedade espera. Se ganha o seu dinheiro, se impõe, se profissionaliza e faz sucesso, a “torcida” é favorável. Se não atinge esses objetivos, a cultura o marginaliza, não aceita, e isso atua como uma força que o impulsiona.

Para a mulher, essa batalha é mais complicada. Às vezes, ela encontra oposição social a que se desenvolva por meio do estudo e do trabalho. Tem que contar com força e definições pessoais muito maiores que o homem, já que não será impulsionada pela sociedade.

A segunda batalha é pelo resgate matriarcal. Para a mulher, esta batalha naturalmente só poderá ocorrer (quando ocorre), se ela tiver travado a primeira, ou seja, seu lugar ao sol. Nesse caso, chega um momento onde o mundo da Grande Mãe pede novamente espaço.

Essa batalha pode ser nem tão renhida, pois, em geral, ela nunca deixou inteiramente de exercer tais encargos. Além disso, tem uma familiaridade secular com esse universo, onde penetra sem ter que mostrar “documentos”. Está no que a nossa cultura identifica como “em seu lugar”, o qual por séculos foi o único que lhe coube. Então, de um lugar que era seu, a mulher sai e retorna a ele por opção.

Acontece que também o homem, na realização dos seus potenciais enquanto ser humano, necessita desse resgate. Mas desta vez ele não tem a mesma sorte! Tudo o que lhe foi culturalmente favorecido na primeira batalha (pelo patriarcal), agora não existe. O embate é árduo e de difícil aceitação social. Pela nossa cultura, o ingresso livre aos recintos onde a Grande Mãe reina só é permitido ao homem como filho.

Por que um homem tem que ser maternal, valorizar certos aspectos de cuidados pessoais e com os filhos ou exercer as tarefas domésticas? Será que ele é homem, mesmo, ou está com algum conflito na sua identidade sexual? Estas são as perguntas que nossa sociedade faz explícita ou implicitamente. A batalha então é solitária ou acompanhada por poucos.

Quando o homem não compra o produto da mulher, tão malpropagandeado, e não conquista seu lugar à Lua, perdem ambos – ele e ela. Sofrem ambos. Sofre a família. Perdemos todos.

Opostos simétricos

Uma das coisas buscadas no processo de individuação (como Jung chama a realização pelo ser humano dos seus potenciais) é a relação simétrica e dialética entre o homem e a mulher. Para haver essa simetria, é fundamental que ambos se deem conta de que são opostos simétricos. E que seus antigos mundos divididos (na nossa imagem, as duas bancas da feira) sejam simetricamente compartilhados. Enquanto funcionar o “ele é quem manda, ele é um homem, eu sou apenas uma mulher”, continuará funcionando o “todo dia eu só penso em poder parar / Meio dia eu só penso em dizer não / Depois penso na vida pra levar / E me calo com a boca de feijão”, como tão bem dizem os poetas!

A meu ver, o papel da mulher no resgate do feminino na nossa cultura é exatamente perceber o valor da Grande Mãe, de que preciosidade ela tem sido a guardiã e, com isso, ter elementos reais para fazer uma adequada propaganda do matriarcal entre os homens.

Acredito que difundir a validade de se viverem os segundos papéis é necessário. E para que nossa cultura não somente permita como “convide” o homem a vivê-lo quanto ao arquétipo da Grande mãe, nós mulheres temos uma boa tarefa!

Boa sorte a nós todos!

 

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Charlotte Rampling e o sentido das bodas http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/23/charlotte-rampling-e-o-sentido-das-bodas/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/23/charlotte-rampling-e-o-sentido-das-bodas/#respond Mon, 23 Nov 2015 15:48:55 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2394 45years-1
No papel da protagonista Kate, em “45 Anos”, Charlotte Rempling levou o Urso de Prata no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Foto divulgação)

Sessenta anos de casamento! Sabe o que é isso? Nem o padre que celebrou a digníssima cerimônia sabia. Em uma das igrejas mais tradicionais de São Paulo, o casal de seus 80 anos, meus queridos tios, entrou devagarinho, suave, mas com vigor, rumo ao altar para a renovação dos votos.

Todos se emocionaram por causa do clima de delicadeza, ternura, serenidade que reinou na cerimônia. A “noiva” usava um longo azul claro, bordado de pedrinhas brilhantes, e o noivo, terno escuro e gravata da cor da cabeleira, prateada. No altar, estavam rodeados pelos filhos e netos, os padrinhos – e incontestáveis testemunhas.

Para contrastar, naquela noite de sexta-feira de chuva pesada na cidade, ruidosos jovens convivas do casamento seguinte se amontoavam na entrada e, quando já não era mais possível, “invadiram” a igreja. Afinal, o padre não finalizava nunca os trabalhos, estava claramente maravilhado com aquela celebração que, sabe-se lá Deus, se ele veria outra vez na vida.

Boda vem do latim vota, que significa promessa, e é isso que se vai fazer numa cerimônia de bodas (no caso, foi de diamantes), renovar a promessa feita no dia do casamento.

Daí, festança boa à parte, surge a questão: precisa prometer mais alguma coisa depois de 60 anos de vida em comum? Essa, porém, é uma mentalidade bem tacanha de quem vê o idoso como um ser vazio de expectativas e cheio de certezas, especialmente a respeito do futuro de um casamento de décadas.

O filme “45 anos”, do diretor e roteirista inglês Andrew Haigh, lançado recentemente, mostra que septuagenários podem sofrer tão profundamente de ciúmes, desconfiança e angústia existencial como qualquer jovem amante (trailer abaixo).


Dois ícones do cinema britânico, Tom Courtenay, 78, e Charlotte Rampling, 69, que levaram o Urso de Prata de melhor ator e atriz no Festival de Berlim, fazem o papel de Kate e Geoff Mercer. O casal se prepara para comemorar bodas de safira, 45 anos de casamento. Na semana da festa, ele recebe uma carta com a notícia de que o corpo de seu primeiro amor, Katya, desaparecida nos Alpes suíços há mais de 50 anos, foi encontrado (ele estava com ela quando o acidente aconteceu). A notícia estremece o maduro e sólido vínculo conjugal.

Geoff fica desorientado com a descoberta do corpo da ex-namorada, que está conservado, literalmente congelado pelo tempo, tal qual era quando ambos namoravam. Vêm à tona informações da relação que Kate não sabia. O comportamento do marido muda, e ela então parte para a espionagem.

Não vai fuçar o WhatsApp dele nem invadir sua caixa postal, mas o sótão da casa, para onde ele vai quando sai da cama de madrugada. Lá ela descobre seus segredos: um diário e slides com fotos de Katya.

O fantasma da ex assombra o casamento. A mulher se sente traída por ele no compromisso de dizer sempre a verdade. Nem tudo do caso de Geoff com a antiga namorada havia sido contado. Mas ele não mentiu, omitiu. E aí? Isso é traição? Quando diz amargurada que sempre foi uma boa mulher para ele, sinaliza um equívoco comum nas parcerias, acreditar ser responsável pela felicidade do outro, quando ser pela sua própria já é uma vitória.

Kate tem o lado mulher-mãe bem desenvolvido, que cuida (não se limita a lembrá-lo de tomar seus remédios, mas os entrega com o copo d’água) e que dá lá algumas ordens.

A cena final, um show de interpretação da bela Rampling, uma das poucas estrelas que aceitou as marcas do tempo no rosto, cabe diferentes interpretações. Vale a pena conferir.

Li só elogios ao filme e ouvi críticas de público sobre uma possível “superficialidade” do roteiro. Isso talvez porque o filme está a anos luz de distância da imagem caricatural que se faz das pessoas mais velhas, é megarealista, muito humano.

Os casamentos, como as pessoas, podem envelhecer lindamente ou não. Renovar, portanto, faz todo o sentido.

Leia mais sobre relacionamentos entre idosos

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Nome de casado: ter ou não ter? http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/09/11/nome-de-casado-ter-ou-nao-ter/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/09/11/nome-de-casado-ter-ou-nao-ter/#respond Fri, 11 Sep 2015 20:02:30 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2020 A bela Bianca Jagger no casamento com Mick Jagger, que não passou de quatro anos, mas o sobrenome tem sido para toda a vida
A nicaraguense Bianca Jagger no casamento com o stone Mick Jagger; a união não passou de quatro anos, mas o sobrenome tem sido para toda a vida (Foto Associated Press)

Por Giovanna Maradei

Hillary Clinton, uma das principais pré-candidatas a presidência dos Estados Unidos, fez questão de permanecer Hillary Rodham depois de casada. Calcula-se que a atitude “subversiva” custou à Bill 6% dos votos na campanha de reeleição ao governo de Arkansas, em 1980. O adversário, Frank White, aproveitava todas as ocasiões para se referir à sua esposa como “Mrs. Frank White” e, assim, reforçar a ideia de que abrir mão do nome Clinton era um sinal de falta de comprometimento de Hillary com o marido. A estratégia parece ter funcionado. O casal White venceu a eleição. Pouco depois, Hillary voltou atrás e incorporou o Clinton.

Mudar ou não de nome com o casamento é uma questão para muitos casais, sejam figuras públicas ou anônimos. Todo blog de noiva tem ao menos um post ponderando esse assunto, já que a decisão pode impactar até as famílias do casal.

O MEU, O SEU E OS NOSSOS NOMES

Até 1977, toda brasileira que casasse era obrigada a adotar o nome do marido. Depois, a mudança passou a ser uma opção. Em 2002, o Código Civil previu a possibilidade de o marido também mexer no sobrenome, incluindo o da mulher. Mas, na prática, de lá para cá quase nada mudou.

Em 2014, cerca de 88% dos casais paulistas fizeram alguma alteração no sobrenome quando se casaram. Em 65% dos casos, a mulher adotou o nome do marido; em 21%, os dois cônjuges mudaram seus sobrenomes, e só em 1% o homem levou o sobrenome da mulher, que manteve o dela.

TRABALHÃO

Mudar o nome dela, dele ou dos dois sempre dá trabalho. É preciso providenciar a alteração de todos os documentos que levam a versão antiga: RG, CPF, título de eleitor, CNH, carteira profissional, cartões de crédito e até registros de imóveis ou uma simples conta de casa para ser usada como comprovante de residência. Caso falte algum, é possível usar a certidão de casamento na maioria dos processos, diz o advogado Zeno Veloso, diretor nacional do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família), mas a solução não é lá muito prática.

Além de adicionar o sobrenome do parceiro, há noivos e noivas que optam por suprimir alguns de seus sobrenomes de solteiro. Neste caso, as regras variam conforme a lei de cada Estado. Em São Paulo, por exemplo, não é permitido retirar todos os sobrenomes de solteiro, mas alguns sim. O ideal é que os noivos se informem no cartório onde vão oficializar a união para evitar surpresas no grande dia.

NO CASO DE DIVÓRCIO

O contrato de divórcio deve trazer um acordo sobre como ficará o nome de cada um dos cônjuges. A mudança não é obrigatória, ao contrário, como explica o diretor nacional no IBDFAM: “A moderna doutrina entende que o nome se insere na personalidade da pessoa”. Ou seja, o nome de casada passa a ser o da daquela pessoa. Se houver interesse, deverá permanecer mesmo após o fim do casamento.

Mas quem quer ficar com o nome do ex? Retirar o sobrenome que carregava quando casado pode ser libertador para alguns e também trazer prejuízos para outros. Um caso célebre é o da modelo Luiza Brunet, que construiu sua marca usando o sobrenome do primeiro marido. Por isso, ganhou na Justiça o direito de continuar com ele mesmo após a separação. O sobrenome tornou-se de tal maneira parte de sua identidade que foi repassado para a filha, Yasmin, fruto de sua segunda união.

E você manteria o nome do ex (ou da ex)? Veja abaixo personalidades que disseram sim.

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Acorrentar o ex é perder a própria liberdade http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/09/06/acorrentar-o-ex-e-perder-a-propria-liberdade/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/09/06/acorrentar-o-ex-e-perder-a-propria-liberdade/#respond Sun, 06 Sep 2015 15:13:37 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1947 Screenshot 2015-09-05 23.47.03
Ronit Elkabetz, atriz e codiretora do filme no papel de Viviane Amsalem (Foto: divulgação)

“O Julgamento de Viviane Amsalem”, recém-estreado em São Paulo, é um baita filme, de tirar o fôlego. Uma experiência sinistra para quem mal leu a sinopse antes de ir ao cinema ou desconhece a cultura do divórcio em Israel. Embasbacado na poltrona, o expectador se pergunta se não seria um filme de época. “E que época? Ou uma ficção surrealista, de tão bizarra a situação desse julgamento”. Antes fosse!

Trata-se de um filme-denúncia, com uma pegada caricatural, do que acontece hoje em Israel. No país, não existe casamento nem divórcio civil, só religioso. “Ou eles recorrem à ortodoxia ou não tem saída”, diz o rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista, ala religiosa mais liberal.

Saída até existe: o aeroporto. Muitos seguem rumo à paradísiaca e vizinha ilha de Chipre, já que o Estado de Israel reconhece cerimônias celebradas em países com quem tem relações diplomáticas.

Há outro detalhe bizarro: como manda a milenar lei religiosa judaica, só o marido pode por fim ao casamento. Se ela quer e ele não, um tribunal rabínico tentará persuadi-lo a liberar a mulher para que siga uma nova vida – o que pode dar certo ou não.

O filme mostra o calvário de Viviane Amsalem, em interpretação incrível de Ronit Elkabetz, para conseguir que o marido, Elisha Amsalem (Simon Abkarian), lhe conceda o divórcio. Ela passa três anos indo e vindo de audiências torturantes, comandadas por um trio de rabinos ultraortodoxos. É humilhada em sessões surreais, onde impera a mentalidade machista de uma estrutura patriarcal medieval.

O marido, Elisha, declara sempre que terminantemente não, ele não dá o divórcio à mulher, com quem tem 4 filhos, foi casado por 30 anos e há 3 já não vive junto.

As mulheres separadas que não conseguem do marido o guet, documento de divórcio, são chamadas de agunot (acorrentadas). Ficam presas ao matrimônio, impedidas de casar ou ter outra relação, o que configuraria adultério. Essas mulheres, portanto, perdem o direito de decidir a própria vida.

Estado de Israel e judaísmo à parte, quantos homens e mulheres de qualquer país e religião não insistem no apego a uma vida conjugal que já acabou? Assim eles também perdem a possibilidade de tomar as rédeas de uma nova vida.

Refiro-me aos que se divorciam contra a vontade, porque o parceiro quis, mas na prática não se separam. Acorrentam os respectivos ex, arrumando encrenca, brigando, atormentando, às vezes passando a vida em guerra com quem já não mais lhe diz respeito enquanto companheiro de vida.

É o pior caminho, o chamado tiro no pé. Quando você prende o outro, você também fica preso a ele. Intervir na liberdade alheia significa perder a própria liberdade.

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“Querida mamãe”, vírgula! http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/08/14/querida-mamae-virgula/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/08/14/querida-mamae-virgula/#respond Fri, 14 Aug 2015 21:45:21 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1842 4-Justice-Families-Ilustracao Andry Rajoelina-frances
Supermães e a dificuldade de dividir poderes com o pai (Ilustração: Andry Rajoelina)

Muda a década, muda o século, muda até a era, e alguns assuntos não só continuam em pauta na mídia como ainda fazem sucesso. São temas clássicos sobre os quais muito se fala, mas novidade que é bom costuma haver bem pouca. A tripla jornada da mulher é um deles.

Em 1989, saí da redação de uma revista feminina encarregada de entrevistar um importante psicanalista sobre a divisão de trabalho entre marido e mulher (pena, não posso dizer quem era, porque estou em dúvida entre os dois nomes mais famosos da época). Mas a tese do especialista joga luz sobre um aspecto diferente: a dificuldade da mulher em dividir com o homem funções que sempre foram dela porque isso diminui o seu poder. Enquanto é ela quem sempre e tão bem se comunica com o pediatra, detém as informações e o histórico de saúde da criança, o poder nesse campo está nas suas mãos. Daí então algumas reclamam “sempre eu tenho que levar o Bruninho ao médico”, mas não passam o bastão para o pai nem a pau, sob a alegação de que “ele não vai dar conta do recado”. Será?

Com o aumento de pais divorciados e conscientes da importância de acompanharem a vida escolar dos filhos, a tese do psicanalista merece ser lembrada. A escola dos pequenos é um ambiente predominantemente feminino, as mães reinam soberanas nesse espaço. Agora, em época de guarda compartilhada, tem pai pedindo passagem. Em nome dos filhos, vale a pena colaborar com os que andam lutando pela saudável causa da paternidade. Adicioná-los para o grupo do WhatsApp, em geral restrito às mães, por exemplo, já é um começo. Quanto às escolas, o tradicional “querida mamãe” na agenda do filho tem sido trocado pelo oportuno “caros pais”. Leia mais na reportagem abaixo.

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Ativista da causa paterna, Lizandro Chagas, alerta que pai tem que mostrar a que veio (Ilustração: Andry Rajoelina)

“Nas reuniões de pais, eu me sinto um ser mitológico”

Por Giovanna Maradei

“Um pai que queira ser participativo tem que fazer como as mulheres fizeram na sua revolução sexual: ir à luta. Não precisa queimar cueca, como as mulheres simbolizaram no passado com o sutiã, mas tem que mostrar sua vocação paterna”, afirma o professor e pai solteiro Lizandro Chagas sobre a importância da participação do pai na vida escolar do filho. “Tem que buscar apoio, conhecimento, opiniões, mas sempre mostrar a que veio”, diz o ativista da causa paterna, como ele se autointitula.

Do ponto de vista legal, o pai tem garantido pelo Código Civil o acesso às informações escolares, essencial para que ele exerça o seu dever paterno e garanta a educação do filho. Esse direito ganhou dois reforços, em 2009  e 2014 (leia mais abaixo, em “Como manda a lei”). Na prática, porém, o que ainda se vê é a mulher com o monopólio do universo escolar dos filhos e o pai, quase sempre, como um ser à parte.

Dois exemplos que ilustram o domínio feminino: o clássico bilhete na agenda da criança endereçado à “querida mamãe” e a ação dos grupos de mães que decidem sobre temas extracurriculares, mas ainda assim importantes à vida escolar, como quem dá carona para quem ou o que colocar na mala do acampamento.

Esse velho padrão, em tempos de guarda compartilhada, começa a incomodar e forçar mudanças.

O jornalista e pai divorciado Rodrigo Padron despejou no Facebook a sua revolta e a lista de reclamações contra a escola da filha. Ele nunca havia recebido uma comunicação sequer sobre qualquer tema da vida escolar da criança e ainda considerava uma afronta o tratamento dado pelas professoras aos pais. Em um determinado Dia dos Pais, por exemplo, a escola organizou atividades especiais em que os marmanjos foram tratados de forma muito infantil. Em uma delas, a “tia” anunciou: “Os papais vão fazer uma coisa que nunca fizeram antes”. E essa coisa era algo como dar papinha para o filho ou brincar no chão com a criança.

O post rendeu uma ação imediata da diretora da escola, que chamou Padron para uma conversa, informando nunca ter recebido uma reclamação como aquela. “Eu falei para ela que, no futuro, minha filha iria ler os registros da escolinha e me cobrar ‘papai, onde você estava?’”, diz Padron. A educadora deu razão ao pai, cuja guarda não era dele, mas da mãe, e em dez dias tudo mudou. Ele passou a receber os comunicados da escola por e-mail e os bilhetinhos antes dirigidos à “querida mamãe” passaram a ser “aos pais”.

Tanto Padron como Chagas, porém, sabem que a questão é mais profunda. A lei existe, é cumprida, mas os padrões culturais e estereótipos sociais emperram as mudanças. Padron conta que, mesmo depois da mudança de atitude da escola, ele se sente um pouco deslocado no ambiente. “Quando busco minha filha, eu fico à margem, com um ou outro pai que eventualmente está por ali”. Chagas reclama: “Nas reuniões de pais, eu me sinto um ser mitológico, um saci, um unicórnio, um dragão… Um alien”, completando que o mesmo sentimento aparece nas “atividades extras do meu filho, como natação e futebol, e consultas pediátricas “.

“A gente tem que se propor a quebrar esse paradigma”, afirma Padron. “Os pais às vezes aceitam essa condição de ‘quem vai cuidar é a mãe, eu estou aqui só para dar um suporte’.” Nesse sentido, as mães poderiam colaborar com os pais interessados, facilitando a sua entrada em um ambiente predominantemente feminino.

Além de serem maioria no universo da escola, as mães se organizam em paralelo quase sempre sem convidar os pais. É o caso dos grupos de WhatsApp, que parecem ter virado regra entre as mãezonas de crianças pequenas. “Nesses grupos, elas organizam festas, piqueniques, falam mal da escola, dos maridos…”, conta rindo Amábile Pacios,  presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep).

Uma mãe divorciada, a comerciante Renata Souza, contesta o comando materno, por considerá-lo um peso para a mulher: “Por que só eu, que sou mãe, tenho que me preocupar com o presente do Dia dos Professores? Por que o pai não pode ter o trabalho de participar da organização da festa junina da escola?”.

Chagas, professor de ensino médio há 15 anos, conta que no papel de pai de criança pequena vê aumentar a presença paterna na escola, ainda que de forma tímida. Já a professora Amábile não identifica mudança: “Existem pais que são exceção, mas eles deveriam ser a regra”. Ela revela que, para proteger as crianças da baixa presença dos pais na escola, algumas instituições substituem o Dia dos Pais pelo dia da família. Assim, o filho que não contar com o pai por perto não deverá se sentir constrangida.

COMO MANDA A LEI

O acesso de ambos os pais aos registros escolares já é garantido pelo Código Civil, que determina que o pai tem o direito e o dever de zelar pela educação do filho, independentemente do seu status civil e da detenção da guarda, diz Melissa Telles Barufi, presidente da Comissão Nacional de Infância e Juventude do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM).

Além dessa garantia prevista no Código, em 2009 foi feita uma alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, explicitando que as instituições estão obrigadas a fornecer informações escolares aos pais, sejam eles conviventes ou não. Em 2014, a nova lei da guarda compartilhada reforçou este direito ao estabelecer uma multa, que varia entre R$ 200 e R$ 500 por dia para o estabelecimento privado que se negar a fornecer informações ao pai ou a mãe.

A advogada de família Shirlei Klouri conta que, nos casos de divórcio, é recorrente a reclamação de pais querendo participar mais do ambiente escolar. “Mas hoje raramente a dificuldade é fruto de barreiras colocadas pelo colégio.” Na maioria das vezes, diz ela, o que acontece é o pai tentar justificar sua ausência culpando a escola ou a mãe dificultar o acesso à informação pelo pai para afastá-lo do filho. O que pode ser caracterizado alienação parental.

Todas as informações da escola sobre a criança devem ser enviadas tanto para o pai quanto para mãe, recomenda a presidente da Fenep. Especialmente sobre autorizações para saídas e viagens, a escola pode sugerir aos pais que elejam um responsável para facilitar o trâmite burocrático. Sobre os boletos de cobrança, é comum serem enviados só ao responsável financeiro. Mas os comunicados a respeito de desempenho escolar e atividades devem obrigatoriamente ser enviados a ambos os responsáveis, seja em caso de guarda compartilhada ou unilateral.

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Socorro! Meus pais vão se separar (aos 70!) http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/07/24/socorro-meus-pais-vao-se-separar-aos-70/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/07/24/socorro-meus-pais-vao-se-separar-aos-70/#respond Fri, 24 Jul 2015 20:22:53 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1763 A dona de casa Rosa Wainberg, 82, que coordena grupo de meditação na Unifesp
Kit qualidade de vida do idoso inclui mais do que exercício, alimentação saudável e vida social ativa; na foto, Rosa Wainberg, 82, que coordena grupo de meditação na Unifesp

O pacote qualidade de vida do idoso – programação social intensa, muita atividade física, hobbies e até um desafio profissional – é a realização de todo filho. Agora, quando o interesse dos digníssimos progenitores é dar uma geral na vida conjugal, aí vira um perereco!

O pensamento dominante e angustiante costuma ser: “Separados, eles vão dar mais muito mais trabalho do que juntos”. No caso de um recasamento, o Deus nos acuda tem outra motivação: “Como vai ficar o patrimônio?”. E se a filhona ouve falar que papi, aos 80, pensa em sexo, ela “surta”, porque a hipótese lhe parece totalmente abominável.

Uma profusão de ideias e atitudes equivocadas abalam a vida de pais e filhos, criando uma novo formato de conflito de gerações. Os mais jovens desconhecem ou não entendem o interesse dos mais velhos em preencher os anos seguintes com realizações variadas, inclusive na vida conjugal – quem tem 60 hoje pode contar com mais umas duas ou três décadas de vida pela frente.

Os filhos podem atrapalhar o caminho desses pais ou serem facilitadores. Na tentativa de colaborar com as duas partes, “Casar, descasar, recasar” revela aqui o que é importante saber quando o assunto é sexo e vida conjugal de idosos. As informações valiosas foram dadas pelo professor titular de geriatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor do  Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas, Wilson Jacob Filho. Confira abaixo.

AS FILHAS

Para a filha casada, a separação dos pais é um choque, apesar de que raramente ela é pega de surpresa, a não ser quando a mãe descobre que o pai tem uma vida paralela; em geral, ela sabe que aquele casamento foi se complicando. É um choque por dois motivos. Primeiro porque se desfaz aquele elo que sempre teve como diretriz, o ambiente de segurança. E segundo porque sabe que separados eles darão mais problema para ela do que casados.

Quando o casal está junto, e ele tem uma pneumonia e vai para o hospital, quem vai cuidar? É a mulher. Se estão separados, é o filho. Um já não é mais do outro. A filha não chega e fala ‘mãe, ele é teu marido’ ou ‘pai, ela é tua esposa’. O pai passa a ser do filho ou da filha enquanto não encontrarem outra pessoa que ajude a cuidar dele, no sentido laborial ou financeiro.

Um fato absolutamente verdadeiro: mulheres com filhas ainda jovens ou solteiras temem iniciar um novo relacionamento com um homem por achar que ele possa se interessar pela jovem. É frequentíssimo ouvir: “Enquanto as minhas filhas não casarem, eu não me aproximo de nenhum homem”. Ou quando perguntada “por que a senhora não iniciou um novo relacionamento?”, a resposta é “porque eu tinha filhas mulheres e isso é muito perigoso”. Perigoso para ela pela possibilidade de ser preterida em função de sua filha e perigoso para a filha ao levar para casa um homem que ela não pode confiar. Existe uma lógica nisso. No lado mais dramático, uma boa parte dos abusos sexuais foram feitos por padrastos.

A filha acha que o pai é dela, tem um ciúme impressionante. As filhas de homens, dizem ‘meu pai’ com uma carga de posse: ‘Você está dizendo isso do meeeeeeeu pai?’. Respondo: ‘Estou dizendo que o seu pai precisa de uma companheira para fazer aquilo que ele não pode fazer com você’. E ela fica estupefata, pasma, em ouvir que aquele homem de 75, 80 anos tem desejo sexual. Não gosto de endeusar isso, mas faz parte.

A filha, quando tem uma mãe que vai casar, fica feliz. A preocupação é fundamentalmente com o patrimônio. Vai querer saber como vai ser a condição patrimonial da família. Como vão ficar os seus bens, pensar no futuro do “Jorginho”. A questão patrimonial mexe com todo o mundo; as pessoas ficam possessas quando veem seu patrimônio ameaçado. 

OS FILHOS

O filho homem tem muito ciúmes da mãe. Depois da separação, muitas vezes ele entende ser o homem da família, o macho alfa. Quando a mãe tem um novo relacionamento, é como se ele estivesse perdendo a liderança dentro da própria casa. Isso quando os filhos moram na casa da mãe. Quando vivem fora, o temor é financeiro. A exigência, que ocorre com muita frequência, é que o possível novo casamento seja com separação total de bens para que não haja possibilidade de comprometimento.

Filhos entre 30 e 50 anos, muitas vezes sobrecarregados pelo cuidado dos pais separados, veem em um novo casamento do pai ou da mãe a possibilidade de dividir o trabalho e a responsabilidade com alguém. Um pai que estava, por exemplo, pedindo para a filha fazer supermercado, telefonar todo dia, de repente com uma companheira não vai precisar mais disso.

Muitos filhos tentam aproximar, principalmente os pais e menos as mães, de um eventual potencial companheiro. Eles tentam apresentar: ‘Olha, tem uma senhora lá no meu escritório procurando alguém para ir ao cinema. Por que você não vai com ela?’. Muitos dos pais reclamam que eles querem favorecer um casamento a qualquer custo. Esses idosos são muito pressionados. Os pais hoje dão muito menos palpite no casamento dos seus filhos do que os filhos dão no dos seus pais.

O SEXO

Uma mãe de 70 anos dificilmente confessa a seus filhos que tem necessidades sexuais. Os filhos não aceitam isso ou aceitam muito raramente. Acham que a mãe ou o pai são assexuados, frutos de uma geração espontânea, que nunca transaram; se transaram, foi de luz apagada.

Eu falo para a filha: “Você acha que a sua mãe não gosta de sexo?”.

Ela acha abominável isso, quando a mãe acaba de me dizer na consulta que se masturba duas, três vezes por semana.

A quantidade de senhoras que vai para uma instituição de longa permanência e levam um vibrador é gigante!

Pessoas com idade avançada não perdem a sua sexualidade. Podem modificá-la de forma a ficar socialmente mais aceita. Uma mulher de 80 anos diria, por exemplo, “olha, minha filha, que homem lindo”, quando na verdade ela gostaria de ter o contato.

Uma frase muito falada é: “O remédio que eu preciso não vende em farmácia”. Mas isso não pode ser dito aos seus filhos. Eles têm dificuldade de entender que os pais são mais do que provedores, de fazer essa transição do papel da mãe para o de mulher.

QUEIXA DE IDOSAS

Da mulher de 70, eu geralmente ouço: ‘Ele até que é interessante, mas está em busca de uma enfermeira, não de uma esposa”. Geralmente, o homem não tem a oferecer, ele tem a pedir. Às vezes, tem a oferecer uma proteção financeira, mas tende a esperar uma condição de cuidados. Não raramente homens que foram viúvos de mulheres que precisaram de cuidado, casam-se com as cuidadoras, que já conhecem a casa e sabem cuidar. Então, existe esse lado.

Uma queixa muito frequente delas: “Fui ao baile, ele me tirou pra dançar e queria saber onde a gente ia passar a noite. Eu não quero passar a noite com ninguém ainda. Eu quero namorar, jantar, ir no teatro, fazer uma série de coisas antes de passar a noite”.

Não tenho a menor duvida de que a mulher busca um companheiro, tanto que, se ele não for muito sexualmente ativo, isso não é um obstáculo. Mas se ela não for, é um obstáculo.

QUEIXA DE IDOSOS

Muito homens dizem isso de seus filhos: “Olha, eles arrumam cada mulher para mim! Eu digo deixa que eu me viro, eu me arranjo, tô muito bem sozinho”.

O filho tem que ter calma, incentivar que tanto o pai quanto a mãe tenham vida social, mas não necessariamente casamento. Devem fazer uma abordagem suave, delicada. É pior ficar empurrando. Isso vale também para a filha em relação à mãe.

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Na saúde ou na doença, sobra mais para elas http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/04/16/na-saude-ou-na-doenca-sobra-mais-para-elas/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/04/16/na-saude-ou-na-doenca-sobra-mais-para-elas/#respond Thu, 16 Apr 2015 21:42:15 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1427 imagem da fotografa finlandesa Elina Brotherus
Doença e divórcio são temas de duas pesquisas cujos resultados são pouco animadores para as mulheres  (Foto: Elina Brotherus)

Enfrentar a barra pesada que se segue ao diagnóstico de uma doença grave é tarefa árdua, capaz de balançar os mais sólidos dos casamentos. Até aí, não há grande novidade. As controvérsias surgem quando uma pesquisa feita na Universidade Estadual de Iowa, nos Estados Unidos, afirma: se é a esposa que adoece, a probabilidade de divórcio cresce 6%, quando é o marido, as chances de separação são as mesmas de quando não há doentes.

O estudo, publicado na edição de março do “Journal of Health and Social Behavior”, foi desenvolvido por Amelia Karraker, professora de desenvolvimento humano e estudos de família. Ela analisou 2.701 casamentos com pelo menos 20 anos de duração, nos quais um dos cônjuges foi diagnosticado com doenças físicas graves, especificamente câncer, doenças do coração, do pulmão e/ou derrames cerebrais. No total, 32% destas uniões terminaram em divórcio e 24%, em viuvez.

A pesquisa não aponta as principais causas das separações, mas Amelia ressalta: “Há uma diferença entre sentir-se muito doente para fazer o jantar e precisar de alguém para alimentá-lo. Isso é algo que realmente pode mudar a dinâmica dentro de um casamento”.

Ainda segundo a pesquisadora, as esposas mostraram-se mais insatisfeitas do que os maridos com a atenção recebida em casa, o que poderia ser uma causa do aumento dos divórcios quando são elas que adoecem.

O que inspirou Amelia Karraker a se envolver com esse tema foram os dois casos muito conhecidos e criticados nos Estados Unidos dos ex-parlamentares John Edwards e Newt Gingrich, que se divorciaram de suas mulheres quando ambas estavam doentes.

DIVÓRCIO FAZ MAL AO CORAÇÃO?

Outra pesquisa americana traz má noticia às mulheres, em especial as divorcidadas. Segundo o estudo, elas têm 24% mais chances de sofrer um ataque cardíaco do que as casadas, e o risco aumenta para 77% no caso das que se divorciaram mais de uma vez.

Já os homens, após o término do primeiro casamento, têm 10% mais chances de ser vítima da doença e 30% se passar por mais de um divórcio.

Como se não bastasse a diferença gritante, a pesquisa concluiu ainda que, no caso deles, um novo casamento eliminou esse aumento, já para elas o efeito positivo foi muito pequeno.

O estudo, desenvolvido pela Universidade Duke e recém-publicado pelo periódico “Circulation”, analisou 15.827 pessoas entre os anos de 1992 e 2010. Durante este período, um em cada três pesquisados se divorciou.

Linda George, uma das autoras do trabalho, diz que os índices representam um risco significativo, comparável aos de quem tem pressão alta ou diabetes e que a diferença do impacto entre homens e mulheres também é percebido em casos de depressão. Para ela, o divórcio representa um “fardo psicológico” maior para as mulheres, embora ainda não seja possível entender o que de fato acontece.

Por outro lado, em entrevista à BBC, Jeremy Pearson, da British Heart Foundation (Fundação Britânica do Coração), diz que os pesquisadores já sabiam que a saúde mental pode afetar o coração e que esses resultados não são evidências definitivas da ligação entre o estresse de um divórcio e os riscos de um enfarte. Para ele é preciso “mais estudos antes de considerar o divórcio um fator de risco significativo”.

 

 

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Dica de homem para homem desarvorado pós-separação http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/04/14/dica-de-homem-para-homem-desarvorado-pos-separacao/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/04/14/dica-de-homem-para-homem-desarvorado-pos-separacao/#respond Tue, 14 Apr 2015 13:58:28 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1372 Autor, consultor, palestrante, o americano Ross Szabo faz qualquer coisa em nome da saúde mental, em especial, dos jovens. A paixão pelo assunto surgiu da sua experiência de vida. Teve o primeiro contato com o assunto aos 11 anos de idade, em visita ao irmão mais velho na ala psiquiátrica do Hospital da Universidade da Pensilvânia.

Aos 16, Szabo foi diagnosticado com transtorno bipolar. No último ano do ensino médio, tentou se matar, teve recaída do transtorno na universidade e retornou quatro anos depois para se formar em psicologia.

Desde então, ele se dedica a disseminar informações sobre a saúde da mente e suas doenças com campanha contra o estigma do tema, sobre abuso de drogas, programas de conscientização para escolas, de prevenção para universitários… “Compartilhar a minha história me ajudou a conseguir a saúde mental”, diz ele. E o que isso tem a ver com Casar, descasar, recasar?

Ross Szabo passou por uma separação após um casamento de dez anos. E, apesar da intimidade com o universo das emoções e das questões da mente, ele perdeu o rumo, ficou desarvorado e sofreu muito como tantos outros homens. A diferença é que ele elaborou o processo e ainda abre o coração para falar do assunto, prática pouco comum entre a ala masculina.

O consultor descreve aqui quatro atitudes fundamentais que o ajudaram a superar os difíceis momentos da separação. Mais uma história que ele compartilha; nesse caso, para ajudar outros homens.

Quando minha ex-mulher me deixou eu decidi que eu iria correr uma maratona. A corrida me ajudou a exercitar a raiva que eu tinha do divórcio, enquanto também me deixava em boa forma. (Foto: Divulgação)
“A corrida me ajudou a exercitar a raiva que eu tinha do divórcio, enquanto também me deixava em boa forma; na foto, Jack O’Connell em cena do filme “Invencível” (Foto: divulgação)

Depois do divórcio foque em você, e não na ex

Por Ross Szabo

Como a maioria das pessoas que acabam escrevendo sobre divórcio, isso não era algo que considerei fazer algum dia. De fora, o nosso casamento parecia maravilhoso. Nossos dez anos de relacionamento foram recheados de viagens, festas, amigos e até um trabalho voluntário que fizemos juntos em Botswana, na África. Durante a adaptação à vida em outro país, tivemos uma série de problemas. Por fim, minha ex-mulher sentiu que havia questões que ela precisava trabalhar sozinha e me deixou. Eu fiquei chocado. Foi o maior constrangimento que eu já senti. A perda machuca mais do que qualquer outra coisa.

Como homem, eu só queria consertar seja o que fosse, dar para todos a impressão de que eu estava bem e seguir em frente.

Os primeiros dois meses após o divórcio foram um borrão. Eu flutuava, me agarrava em tudo o que podia, tentando apenas atravessar cada dia. Eu já havia tido depressão e problemas com bebida quando era bem jovem, estava portanto preocupado que pudesse rapidamente cair ladeira abaixo.

Na época do divórcio, eu não tinha trabalho nem lugar para morar – estava fora do país havia dois anos e meio. Foi aterrorizante. Sabia que teria que reconstruir partes da minha vida e estava claramente me esforçando. Felizmente, tive amigos e familiares que me apoiaram a cada dia, deixando que eu ficasse um tempo hospedado em suas casas e fazendo qualquer coisa que pudesse me ajudar, mesmo que isso significasse ler e atender minhas mensagens e telefonemas intermináveis nos quais eu fingia estar bem. A boa notícia é que você supera esses tempos difíceis.

Seguem aqui atitudes que me ajudaram muito durante o divórcio:

1. Seja a melhor versão de você mesmo – É difícil quando uma mulher o deixa. Eu senti vergonha. Eu tive raiva. Queria fazer tudo o que pudesse para detê-la, mas a verdade é que ela não estava disposta a construir nada comigo. O conselho mais incrível que eu recebi naquele momento foi me tornar a melhor versão que eu pudesse ser de mim mesmo. Eu ouvi o que ela tinha a dizer quando foi embora. Reconheci o que senti e o que eu poderia melhorar. Tentei mudar algumas atitudes, como estar mais presente no momento, não ter uma lista de tarefas para fazer, ignorando os outros, e prestar atenção nas necessidades das pessoas. Essas lições me fizeram uma pessoa muito melhor para o meu relacionamento seguinte.

2. Não foque nela, foque em você – É difícil não ficar obcecado pelo que ela está fazendo depois do divórcio. Com quem ela está? Que tipo de cara ele é? Por que ela está com ele? Eu sou um cara muito leal, e uma vez que uma pessoa decide que não quer estar comigo é como se ela morresse para mim. Colocar o foco nela só iria me levar a algo que eu não poderia resolver. Focar em mim deu a chance de me tornar uma pessoa melhor e mais confortável comigo mesmo.

3. Faça algo que te deixe feliz – Uma outra maneira de não focar na ex é fazer uma atividade que você adora. Ir a um bar para assistir o jogo com os amigos, pular de paraquedas, viajar ou fazer algo que você nunca teve a chance de fazer. Quando minha ex-mulher me deixou, decidi que iria correr uma maratona. Eu não tinha um trabalho para me focar. Treinar para a maratona me deu algo para fazer e colaborou com a minha reconstrução. A corrida me ajudou a exercitar a raiva que eu tinha do divórcio, enquanto também me deixava em boa forma. Ter um objetivo pelo qual trabalhar depois da separação realmente me ajudou a não focar na minha ex.

4. A melhor parte de ser divorciado – A liberdade de fazer o que você quiser, de explorar a sua vida e encontrar estabilidade na independência foi a melhor parte do divórcio para mim. Durante o casamento, eu priorizava tudo o que ela queria fazer. Não focava nos meus sonhos ou nos meus objetivos. O divórcio me permitiu obter mais clareza sobre o que eu queria e precisava para a minha vida e como construir isso. Também precisei passar algum tempo sozinho para encontrar conforto e descobrir que tudo estava bem.

Leia mais: Por que os homens podem ser os piores inimigos deles

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Casamento em Las Vegas e amor sólido http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/03/03/casamento-em-las-vegas-e-amor-solido/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/03/03/casamento-em-las-vegas-e-amor-solido/#respond Tue, 03 Mar 2015 13:30:02 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1099 Uma ida ao cabeleireiro no sábado rendeu encontros expressos e simultâneos com duas jovens que vivem momentos amorosos distintos. Mas os dois casos fazem lembrar o famoso conceito do sociólogo polonês Zygmunt Bauman sobre a existência fluida do homem moderno, a sociedade líquida, o amor líquido e, a estes, acrescento a separação líquida.

A moça sentada de frente para o espelho, enquanto as madeixas escuras eram repicadas, com fios salpicando para todo lado, falava em alto e excitado som: “Coloca essa nota no seu blog, acabo de me casar em Las Vegas! Casamos lá para experimentar. Se der certo, validamos no Brasil. Se não der, posso casar depois aqui”. É tendência.

Ao mesmo tempo, a mais jovem ao lado, de 26 anos e com os olhos lacrimejando, conta emocionada que se separou. O noivo era seu melhor amigo, o pai dela patrocinou uma festa de princesa, mas o casamento naufragou depois de três anos. Ela estava mortificada. E a noiva de Las Vegas, que parecia não perceber a emoção alheia, atravessa a conversa para anunciar que vai estrear um blog de style!

Segundo a garota, todas as amigas da sua idade querem casar cedo e muitas já estão na etapa separação. Para explicar essa tendência, ela cita o baixo grau de tolerância geral dos casais.

Parece que o que permite casar hoje é a separação – ou o casamento realizado fora do país (sic!). O fato é que relacionamentos fluidos e separações idem alienam e fazem sofrer.

Um ex-marido escreve hoje para o “Casar, descasar recasar”. Ele advoga em nome do amor sólido, que cria memória, transforma e se mantém respeitado quando a relação acaba. Para isso, haja trabalho e algumas virtudes.

(Ilustração: Marcelo Cipis)
(Ilustração: Marcelo Cipis)

Attraversare

Por Itibere Muarrek

Os italianos têm um termo que usam para um relacionamento amoroso que acho perfeito: attraversare. Atravessar a vida, ter uma companheira para realizar a travessia da vida. Para completar a ideia, acrescento uma frase do poeta Fernando Pessoa: “Navegar é preciso, viver não é preciso”.

Não há nada mais impreciso que a própria vida e atrelar nossa felicidade com a de outra pessoa torna a vida insana. Insano porque somar duas inconstâncias que se prometem amor eterno não é nada razoável.

Mas navegar é preciso, acreditar que vale a pena é preciso, saber o quanto a vida lhe é generosa ao lhe dar um amor para viver sublimemente é preciso. É nossa absolvição do cotidiano e o único meio de conquistarmos estados de felicidade. E aí, recheio este texto com mais uma citação, bem ao gosto de autoajuda em pílulas de 140 caracteres: “Um navio no porto é seguro, mas não é para isso que os navios foram feitos”, pensamento de William Shedd [teólogo norte-americano; 1820-1894].

Queremos a segurança em um relacionamento amoroso, podemos com precisão traçar rotas e objetivos para atravessar a vida com a companheira, mas viver é impreciso. Paradoxo do nosso tempo: ficar no porto nos torna obsoletos, seguir adiante, desbravando a vida, nos torna vulneráveis.

Fato do nosso momento civilizatório, parece que nada é eterno: relacionamentos ficam obsoletos, a renovação e a inovação têm que ser constantes. Mas essa é a natureza para APPs, não para “sistemas operacionais” do tipo humanos, que exigem conhecimento acumulado, estrutura e muita dedicação para se desenvolverem e se manterem.

A vida só se faz sentida quando nossas experiências e gostos se põem à prova, se aprofundam e ficam na memória. E isso se dá com repetição, reiteração, aprofundamento, com erros calculados (ou pensados, ao menos). Essa forma de viver cria um elo inquebrável com filhos, família, amigos, mas não garante a permanência física da companheira. A companheira vem e pode desaparecer por química para alguns ou alquimia para outros.

A companheira é um “ente” que nos retira do individualismo e potencializa nós mesmos e todo nosso entorno, coloco no ápice seu valor para a vida de um homem. É a pessoa que está ao seu lado e em você, simultaneamente. Ela se faz presente em como pensamos a realidade e construímos o futuro. E aí que a porca torce o rabo: quando o relacionamento acaba, se esvazia o futuro, o presente degringola, o cinza passa a ser o tom padrão do cotidiano – você até pode conseguir viver em 50 tons de cinzas por um tempo, mas o colorido da vida não terá.

O fim de um relacionamento, de uma hora para a outra, transforma tudo à nossa volta. Reorganizar vida com filho, pagar mais contas, refazer desejos de consumo e relação com amigos, perder a convivência com a outra família, ter novos objetivos sociais, maior dosagem alcoólica e sexo for fun… Enfim, livre. Toda a liberdade do mundo para ir aonde quiser. Mas ir para onde? Ir com quem? Com que bagagem?

Todo relacionamento acrescenta experiências que nos transformam e, portanto, não acabam pela sua ausência. A memória triunfa. Paradoxalmente, aceitar essa impermanência (mesmo não desejável) é o primeiro passo para criarmos condições para uma vida leve e aberta e tentarmos (quem sabe) um relacionamento estável como se fosse o último da série.

Em minha vida, entre tantos valores que aprendi de meus pais, familiares, amigos e que procuro cultivá-los – a grande custo, sim, pois está nada fácil suportar a violência nestes tempos de cólera, consumismo, sexo como commodities ou APPs e coletivos idealistas a cerca da vida alheia –, quatro virtudes foram relevantes em minha experiência de construção e reconstrução da minha vida amorosa. São elas: generosidade, resiliência, autoconfiança e humor.

GENEROSIDADE É o trunfo maior dessas virtudes, pois nela reside saber valorizar a companheira sem juízo de valores ou preconceitos, proporciona que o relacionamento se inicie sem a máscara da perfeição, do sonho, da ilusão. Reconhecer nossas imperfeições e fraquezas é o primeiro passo para que um relacionamento possa crescer com honestidade e cioso de podermos melhorar e aceitar a parceira e a nós mesmos. E, se em algum relacionamento filhos forem gerados, é a generosidade que projeta nos filhos uma perspectiva de que valeu a pena se relacionar, podemos ver neles as virtudes do casal. Isso também se expande aos familiares da relação que acabou, que estarão à distância para o resto de nossas vidas. Mas também são nossos, remotamente, a partir de nosso filho, pelos seus 50% de sangue e memórias.

RESILIÊNCIA Se a generosidade evita que o casal destrua completamente a embarcação por brigas, ranços, desconfianças, ela não evita que a embarcação seja desmontada e dividida ao meio. Daí entra a resiliência, que é nossa capacidade de resistir à derrocada, de consertar os estragos, arrumar as velas, estancar furos na canoa, retirar a água que afundava a embarcação e encontrar um novo rumo para sua história. A resiliência permite a reconstrução de nós mesmos e do nosso meio ambiente e social. Esta condição está ligada intimamente com a generosidade, pois sem a compreensão de que erros acontecem, que somos falíveis, que a vida está sujeita a altos e baixos sendo testados por novidades o tempo todo, não seguramos o rojão que são os últimos meses de um relacionamento. Sempre rojão. A perda é dos dois, de quem ainda ama e daquele que já não sabe o que faz naquele barco.

AUTOCONFIANÇA Consegue ser generoso com o mundo que o rodeia, nem que seja apenas pelo filho ou para seu sossego? Aguenta as pancadas e quedas da vida? Então, é bom que sua autoconfiança esteja em dia. Sem ela, ficamos desnorteados e sem rumo. Qualquer novo embate e oportunidade de relacionamento se tornam uma luta inglória, se não acreditamos que podemos sempre fazer mais e melhor, reconstruir a vida e num patamar melhor. Só com autoconfiança conseguimos remontar o barco e acolher a nova companheira para continuar a travessia, atento e seguro de que, desta vez, tentará não acumular furos, evitando os icebergs pelo caminho.

Casar, separar, recasar, parece sempre difícil e trabalhoso. E é!

HUMOR É o que inicia e finaliza bem um relacionamento ou vários relacionamentos, é o que nos faz aceitar com alto astral nossas próprias imperfeições e as imprecisões de viver. É o humor que nos humaniza e nos coloca lado a lado com todos de nosso entorno. O humor combate o rancor, a angústia, traz resultados próximos de um momento sublime de felicidade, ao que nos reduz em importância e nos eleva ao som do riso.

Casar, separar, recasar, separar, recasar… Pouco importa o quanto isso se faça contínuo, quantas vezes tenhamos que remontar a embarcação, refazer rumos. O fundamental é que na travessia da vida a gente construa uma memória que funda o passado, o presente e o futuro, que honre a família, que se perpetue nos descendentes e que tenhamos na companheira escolhida a testemunha e confidente íntima dos desejos que temos e vontades que efetivamos.

Itibere Muarrek, 46, casado, descasado e, hoje, marinado, é mestre em economia pela PUC-SP e trabalha com comunicação e marketing

 

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Mulher que desconhece as finanças do casal é problema http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/25/mulher-que-desconhece-as-financas-do-casal-e-problema/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/25/mulher-que-desconhece-as-financas-do-casal-e-problema/#respond Wed, 25 Feb 2015 16:33:57 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1029 No cofrinho, na caderneta de poupança, no CDB? Ou a conta está no negativo? Mulheres devem se envolver da vida financeira do casal, ainda que ele esteja à frente da gestão do dinheiro
No cofrinho, na caderneta de poupança, no CDB? Ou a conta do casal está no negativo?

Na vida conjugal, a missão de administrar as finanças da família costuma ficar na mão de um dos parceiros, em geral o homem e também principal provedor. Essa prática é comum especialmente entre a turma abastada; nas classes mais baixas é a mulher que segura o rojão, às vezes de forma intuitiva.

Até aí, tudo bem! Para que dois seres mergulhados em uma tarefa, digamos, tão despida de atrativos? Basta um na gestão do dinheiro. Mas isso não significa que o outro vá se alienar, ignorando solenemente o assunto, como fazem muitas mulheres.

Quais são os bens do casal? Possui móveis? E os investimentos: quais são, onde estão, qual a melhor data para resgate? Dívidas! Por acaso tem? Vale a pergunta para planos de pensão, seguros… Enfim, são vários os itens para se inteirar. Mas alguém poderia perguntar: acompanhar essa “chatice” para que se já existe alguém cuidando disso?

Para colaborar com o parceiro em decisões que só irão favorecer a qualidade de vida do próprio casal e, se houver, dos filhos. Isso vale para os momentos de bonança e de infortúnios. Ou seja: para planejar a concretização dos projetos e sonhos do casal, como viagens, mudança de país ou compra de imóvel, e também para enfrentar situações adversas, como desemprego, doença na família ou uma crise econômica do país. Por tabela, também é saudável para o caso de separação do casal. Aquele que não era o gestor principal do dinheiro vai encarar a nova vida financeira com mais competência e tranquilidade.

Quem nunca conheceu uma mulher que perdeu o chão na separação não apenas por razões do coração, mas por causa de dinheiro? “Muitas mulheres assumem no casamento esse papel ‘isso não é comigo’. Mas tudo que diz respeito ao relacionamento é com ela, sim”, diz a respeitada consultora de finanças Marcia Dessen, colunista da Folha e autora de “Finanças Pessoais: o que fazer com meu dinheiro” (Trevisan Editora, 280 págs.). Ou seja, desconhecia as finanças porque o ex-marido não falava nada? Chato dizer, mas culpa sua que não foi perguntar, se informar.

Há mulheres que não sabem quanto o marido ganha. E, sim, há homens que escondem até dos filhos quanto ele tem investido, conta Marcia. Mas, algumas vezes, eles agem assim para proteger o futuro de todos, porque se a família souber vai gastar muito, o que só reflete a alienação da mulher na vida financeira.

Ela pode ajudar conhecendo, se envolvendo, opinando, participando das decisões, sem com isso competir. A consultora conta um caso que ilustra bem a responsabilidade feminina no dinheiro da família. Um marido rico e desesperado a procurou porque estava com dívidas até o pescoço. Detalhe: a família não tinha a mais vaga noção do que se passava. Primeira e imprescindível orientação: “Você tem que contar para a sua mulher”.

O marido era o perdulário, mas ela, por não saber, era conivente nos hábitos de consumo. “Você é o problema, mas ela faz parte da solução”, disse Marcia ao cliente.

A mulher ficou em choque quando soube da situação financeira caótica e “um pouco culpada porque participava da gastança sem saber”. Juntos, eles mudaram os hábitos de vida, simplificaram a vida (a mulher é ótima para desenvolver tais estratégias) e se reergueram.

Falar de dinheiro, sabe-se lá por que, é quase um tabu. Ninguém gosta. No início da vida a dois, então, ganha ares de ameaça ao casamento. Por outro lado, ignorar as finanças durante a vida conjugal é um problema anunciado. O descasamento será traumático ou não em função de como foi o planejamento, diz a consultora.

Acompanhe aqui, em breve, detalhes de um método simples e eficaz de planejamento a dois.

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