Casar, descasar, recasarpai – Casar, descasar, recasar http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br Wed, 20 Apr 2016 18:43:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Guerra de pais pela guarda dos filhos: como escapar dessa enrascada http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/01/29/briga-pela-guarda-compartilhada-como-escapar-dessa-enrascada/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2016/01/29/briga-pela-guarda-compartilhada-como-escapar-dessa-enrascada/#respond Fri, 29 Jan 2016 15:55:57 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2706 A nova lei da guarda compartilhada, que tem pouco mais de um ano, está sendo colocada em prática, mas com muitas dificuldades. Há resistência por parte de mães em aceitar este modelo, que é um avanço e uma vitória delas, dos filhos e dos pais. Os processos litigiosos às vezes duram anos e, em muitos casos, por acusações de um ex-cônjuge contra o outro na disputa pelo filho – que não é de uma pessoa, mas de dois. Há advogados que seguem o caminho da conciliação, mas há os que priorizam ou não evitam a guerra.

E há muitas dúvidas. Por exemplo: se a guarda é compartilhada, a pensão também vai ser? Quando os pais moram em cidades diferentes, como seguir esse modelo? E no caso de filhos ainda bebês?

Para ajudar pais e mães envolvidos nesse imbroglio, o “Casar, descasar, recasar” promoveu uma conversa ontem na TV Folha com a advogada Shirlei Saracene Klouri, especialista na área de família e membro do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Defesa da Família), e um pai, Paulo Halegua, que fez da luta pela guarda compartilhada da filha mais nova um projeto de vida. Ele fala sobre a sua experiência de oito anos de briga na Justiça, tempo em que cursou direito e se especializou em direito de família.

Assista aqui o vídeo e deixe o seu comentário.

 

 

 

 

 

 

 

 

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S.O.S. Madrastas http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/13/s-o-s-madrastas/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/11/13/s-o-s-madrastas/#respond Fri, 13 Nov 2015 20:44:31 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=2357 “Casar, descasar, recasar” prossegue firme no seu projeto “só amor” para madrastas e enteados. A meta é colaborar para tornar mais tranquila a relação, em geral conturbada, dos filhos com a nova mulher do pai.

Descobrir o que se passa na cabeça dos menores quando eles se veem obrigados a se relacionar com essa nova pessoa na família ajuda a madrasta a entender muitas das reações da criança. Esse foi o tema da primeira reportagem publicada aqui, Os 10 segredos de enteado que toda madrasta deve saber.

Feita essa descoberta, é chegada a vez de dar voz a elas e discutir a melhor forma de lidar com as reações do enteado. Afinal, com raras exceções, o caminho das madrastas é bastante acidentado. Ficar amigo dessa nova mulher do pai, muitas vezes, representa para a criança uma traição à mãe.

Do lado da nossa cultura, não vem nenhum ajuda, ao contrário. A figura da madrasta carrega uma conotação negativa muito forte, é a mãe má, a bruxa dos contos de fada que habita o inconsciente coletivo.

Além disso, a criança naturalmente tende a colocar a mulher do pai em um lugar idealizado. Num primeiro momento, esse lugar é positivo, o da fada que vai dar tudo aquilo que ela não recebe da mãe. Depois, numa segunda fase, a idealização é negativa. Conflitos sérios, profundos, que o filho tem ou teve com a mãe, como momentos em que se sentiu excluído, abandonado, são projetados na madrasta. Como se não bastasse, ainda há o agravante de que a criança não tem tanto medo de perder a madrasta, explica a terapeuta familiar Anne Lise Scappaticci, da Sociedade Brasileira de Psicanálise.

Mas o pai pode ajudar, sinalizando ao filho que o lugar dele está garantido e que, quando crescer, vai escolher a sua namorada e sua mulher, assim como o pai faz agora, diz Ana Balkanyi Hoffman, psiquiatra da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

Confira abaixo nove situações enfrentadas por madrastas e as atitudes mais acertadas e as não recomendáveis para quem busca construir laços amorosos com o enteado. As orientações foram dadas pela psicanalista Anne Lise à repórter Giovanna Maradei.

Screen Shot 2015-11-13 at 6.28.13 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.28.31 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.29.03 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.29.44 PM 1Screen Shot 2015-11-13 at 6.30.02 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.10 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.18 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.34 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.44 PMScreen Shot 2015-11-13 at 6.30.53 PM

 

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“Querida mamãe”, vírgula! http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/08/14/querida-mamae-virgula/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/08/14/querida-mamae-virgula/#respond Fri, 14 Aug 2015 21:45:21 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1842 4-Justice-Families-Ilustracao Andry Rajoelina-frances
Supermães e a dificuldade de dividir poderes com o pai (Ilustração: Andry Rajoelina)

Muda a década, muda o século, muda até a era, e alguns assuntos não só continuam em pauta na mídia como ainda fazem sucesso. São temas clássicos sobre os quais muito se fala, mas novidade que é bom costuma haver bem pouca. A tripla jornada da mulher é um deles.

Em 1989, saí da redação de uma revista feminina encarregada de entrevistar um importante psicanalista sobre a divisão de trabalho entre marido e mulher (pena, não posso dizer quem era, porque estou em dúvida entre os dois nomes mais famosos da época). Mas a tese do especialista joga luz sobre um aspecto diferente: a dificuldade da mulher em dividir com o homem funções que sempre foram dela porque isso diminui o seu poder. Enquanto é ela quem sempre e tão bem se comunica com o pediatra, detém as informações e o histórico de saúde da criança, o poder nesse campo está nas suas mãos. Daí então algumas reclamam “sempre eu tenho que levar o Bruninho ao médico”, mas não passam o bastão para o pai nem a pau, sob a alegação de que “ele não vai dar conta do recado”. Será?

Com o aumento de pais divorciados e conscientes da importância de acompanharem a vida escolar dos filhos, a tese do psicanalista merece ser lembrada. A escola dos pequenos é um ambiente predominantemente feminino, as mães reinam soberanas nesse espaço. Agora, em época de guarda compartilhada, tem pai pedindo passagem. Em nome dos filhos, vale a pena colaborar com os que andam lutando pela saudável causa da paternidade. Adicioná-los para o grupo do WhatsApp, em geral restrito às mães, por exemplo, já é um começo. Quanto às escolas, o tradicional “querida mamãe” na agenda do filho tem sido trocado pelo oportuno “caros pais”. Leia mais na reportagem abaixo.

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Ativista da causa paterna, Lizandro Chagas, alerta que pai tem que mostrar a que veio (Ilustração: Andry Rajoelina)

“Nas reuniões de pais, eu me sinto um ser mitológico”

Por Giovanna Maradei

“Um pai que queira ser participativo tem que fazer como as mulheres fizeram na sua revolução sexual: ir à luta. Não precisa queimar cueca, como as mulheres simbolizaram no passado com o sutiã, mas tem que mostrar sua vocação paterna”, afirma o professor e pai solteiro Lizandro Chagas sobre a importância da participação do pai na vida escolar do filho. “Tem que buscar apoio, conhecimento, opiniões, mas sempre mostrar a que veio”, diz o ativista da causa paterna, como ele se autointitula.

Do ponto de vista legal, o pai tem garantido pelo Código Civil o acesso às informações escolares, essencial para que ele exerça o seu dever paterno e garanta a educação do filho. Esse direito ganhou dois reforços, em 2009  e 2014 (leia mais abaixo, em “Como manda a lei”). Na prática, porém, o que ainda se vê é a mulher com o monopólio do universo escolar dos filhos e o pai, quase sempre, como um ser à parte.

Dois exemplos que ilustram o domínio feminino: o clássico bilhete na agenda da criança endereçado à “querida mamãe” e a ação dos grupos de mães que decidem sobre temas extracurriculares, mas ainda assim importantes à vida escolar, como quem dá carona para quem ou o que colocar na mala do acampamento.

Esse velho padrão, em tempos de guarda compartilhada, começa a incomodar e forçar mudanças.

O jornalista e pai divorciado Rodrigo Padron despejou no Facebook a sua revolta e a lista de reclamações contra a escola da filha. Ele nunca havia recebido uma comunicação sequer sobre qualquer tema da vida escolar da criança e ainda considerava uma afronta o tratamento dado pelas professoras aos pais. Em um determinado Dia dos Pais, por exemplo, a escola organizou atividades especiais em que os marmanjos foram tratados de forma muito infantil. Em uma delas, a “tia” anunciou: “Os papais vão fazer uma coisa que nunca fizeram antes”. E essa coisa era algo como dar papinha para o filho ou brincar no chão com a criança.

O post rendeu uma ação imediata da diretora da escola, que chamou Padron para uma conversa, informando nunca ter recebido uma reclamação como aquela. “Eu falei para ela que, no futuro, minha filha iria ler os registros da escolinha e me cobrar ‘papai, onde você estava?’”, diz Padron. A educadora deu razão ao pai, cuja guarda não era dele, mas da mãe, e em dez dias tudo mudou. Ele passou a receber os comunicados da escola por e-mail e os bilhetinhos antes dirigidos à “querida mamãe” passaram a ser “aos pais”.

Tanto Padron como Chagas, porém, sabem que a questão é mais profunda. A lei existe, é cumprida, mas os padrões culturais e estereótipos sociais emperram as mudanças. Padron conta que, mesmo depois da mudança de atitude da escola, ele se sente um pouco deslocado no ambiente. “Quando busco minha filha, eu fico à margem, com um ou outro pai que eventualmente está por ali”. Chagas reclama: “Nas reuniões de pais, eu me sinto um ser mitológico, um saci, um unicórnio, um dragão… Um alien”, completando que o mesmo sentimento aparece nas “atividades extras do meu filho, como natação e futebol, e consultas pediátricas “.

“A gente tem que se propor a quebrar esse paradigma”, afirma Padron. “Os pais às vezes aceitam essa condição de ‘quem vai cuidar é a mãe, eu estou aqui só para dar um suporte’.” Nesse sentido, as mães poderiam colaborar com os pais interessados, facilitando a sua entrada em um ambiente predominantemente feminino.

Além de serem maioria no universo da escola, as mães se organizam em paralelo quase sempre sem convidar os pais. É o caso dos grupos de WhatsApp, que parecem ter virado regra entre as mãezonas de crianças pequenas. “Nesses grupos, elas organizam festas, piqueniques, falam mal da escola, dos maridos…”, conta rindo Amábile Pacios,  presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep).

Uma mãe divorciada, a comerciante Renata Souza, contesta o comando materno, por considerá-lo um peso para a mulher: “Por que só eu, que sou mãe, tenho que me preocupar com o presente do Dia dos Professores? Por que o pai não pode ter o trabalho de participar da organização da festa junina da escola?”.

Chagas, professor de ensino médio há 15 anos, conta que no papel de pai de criança pequena vê aumentar a presença paterna na escola, ainda que de forma tímida. Já a professora Amábile não identifica mudança: “Existem pais que são exceção, mas eles deveriam ser a regra”. Ela revela que, para proteger as crianças da baixa presença dos pais na escola, algumas instituições substituem o Dia dos Pais pelo dia da família. Assim, o filho que não contar com o pai por perto não deverá se sentir constrangida.

COMO MANDA A LEI

O acesso de ambos os pais aos registros escolares já é garantido pelo Código Civil, que determina que o pai tem o direito e o dever de zelar pela educação do filho, independentemente do seu status civil e da detenção da guarda, diz Melissa Telles Barufi, presidente da Comissão Nacional de Infância e Juventude do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM).

Além dessa garantia prevista no Código, em 2009 foi feita uma alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, explicitando que as instituições estão obrigadas a fornecer informações escolares aos pais, sejam eles conviventes ou não. Em 2014, a nova lei da guarda compartilhada reforçou este direito ao estabelecer uma multa, que varia entre R$ 200 e R$ 500 por dia para o estabelecimento privado que se negar a fornecer informações ao pai ou a mãe.

A advogada de família Shirlei Klouri conta que, nos casos de divórcio, é recorrente a reclamação de pais querendo participar mais do ambiente escolar. “Mas hoje raramente a dificuldade é fruto de barreiras colocadas pelo colégio.” Na maioria das vezes, diz ela, o que acontece é o pai tentar justificar sua ausência culpando a escola ou a mãe dificultar o acesso à informação pelo pai para afastá-lo do filho. O que pode ser caracterizado alienação parental.

Todas as informações da escola sobre a criança devem ser enviadas tanto para o pai quanto para mãe, recomenda a presidente da Fenep. Especialmente sobre autorizações para saídas e viagens, a escola pode sugerir aos pais que elejam um responsável para facilitar o trâmite burocrático. Sobre os boletos de cobrança, é comum serem enviados só ao responsável financeiro. Mas os comunicados a respeito de desempenho escolar e atividades devem obrigatoriamente ser enviados a ambos os responsáveis, seja em caso de guarda compartilhada ou unilateral.

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Relação pai e filho: o que muda após separação http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/08/08/relacao-pai-e-filho-o-que-muda-apos-separacao/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/08/08/relacao-pai-e-filho-o-que-muda-apos-separacao/#respond Sat, 08 Aug 2015 14:03:02 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1801

Betina Camilotti, 21 anos

Pam Puertas, 22 anos

Por Giovanna Maradei

Seja preocupação com o bem-estar do pai morando sozinho, como conta Pam Puertas no vídeo acima, ou perda da intimidade, no caso de Betina Camilotti, uma coisa é certa: o relacionamento entre pai e filhos que já não são crianças costuma mudar após a separação. Tanto para o bem como para o mal. No último caso, um dos principais problemas é a inversão ou confusão nos papeis dos integrantes da família – pai, mãe e filho. Um exemplo comum: o filho virar cuidador de um dos pais.

Pamela Aloise, 25 anos

Diante dos pais fragilizados, muitas vezes o filho se sente responsável, na obrigação de proteger e dar apoio e, no final, acaba assumindo deveres e responsabilidades que eram do adulto. Daí vem a ideia muito comum de que “filhos de pais separados são mais maduros – mas a que custo?”, comenta Leila Maria Torraca de Brito, professora do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Essa inversão de papeis não é saudável, mas um fardo pesado. Quando o jovem sai do seu papel de filho, fica sobrecarregado e sozinho, diz a psicanalista de casais, adolescentes e adultos Célia Brandão.

O mesmo acontece no famoso modelo “brodagem” de relacionamento. O adulto faz do jovem seu confidente e melhor amigo, vai junto para a balada e, na verdade, acaba deixando esse filho sem pai. Nesse sentido, lembra a psicanalista Stela Grunberg, “quando é preciso colocar algum limite ao filho, o adulto acaba não conseguindo se impor”.

Entre as diferentes queixas, a mais cruel, porém, é o filho que vira menino de recado dos pais. Ele é colocado na função de como para-raios dessa separação, ficando com a responsabilidade de cobrar e mandar recados para o pai, diz Stela. Isso causa ansiedade e angústia. Até porque as mensagens não costumam ser amigáveis, consistem em cobranças, reclamações, acusações, entre outras. Assim, os filhos são incluídos na discussão que antes eram apenas dos pais. Sobre isso, diz Leila, “existe um mito de que após a separação as brigas acabam, mas elas permanecem. Mudam as questões, mas elas continuam existindo”.

Mudanças para melhor

 

Milene Fernandes, 21 anos

Ana Lis Soares, 26 anos

Mas se os conflitos entre pais terminam dentro de casa e também quando eles separam, os filhos podem ser presenteados com uma nova e mais leve relação, além de alívio. Stela conta ser comum que, ao anunciarem a separação, os pais esperem dar uma notícia nova, mas os filhos reagem, dizendo que sabiam o que estava acontecendo, mostrando que estavam angustiados e ansiosos com aquela situação. 

Ganhar independência e tornar-se mais responsável são outros ganhos positivos possíveis. Isso graças à necessidade de o filho aprender a lidar com a nova dinâmica da família – cuidar das suas coisas, se adaptar às regras da casa do pai e coordenar seus horários, por exemplo.

De todo modo, o fundamental é que os pais mantenham-se em seus respectivos papeis. A forma de exercê-los muda com a separação, mas os papeis continuam existindo. Pai não pode deixar de ser pai nunca, assim como mãe deve ser sempre mãe e filho continuar como tal.

 

 

 

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Socorro! Meus pais vão se separar (aos 70!) http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/07/24/socorro-meus-pais-vao-se-separar-aos-70/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/07/24/socorro-meus-pais-vao-se-separar-aos-70/#respond Fri, 24 Jul 2015 20:22:53 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1763 A dona de casa Rosa Wainberg, 82, que coordena grupo de meditação na Unifesp
Kit qualidade de vida do idoso inclui mais do que exercício, alimentação saudável e vida social ativa; na foto, Rosa Wainberg, 82, que coordena grupo de meditação na Unifesp

O pacote qualidade de vida do idoso – programação social intensa, muita atividade física, hobbies e até um desafio profissional – é a realização de todo filho. Agora, quando o interesse dos digníssimos progenitores é dar uma geral na vida conjugal, aí vira um perereco!

O pensamento dominante e angustiante costuma ser: “Separados, eles vão dar mais muito mais trabalho do que juntos”. No caso de um recasamento, o Deus nos acuda tem outra motivação: “Como vai ficar o patrimônio?”. E se a filhona ouve falar que papi, aos 80, pensa em sexo, ela “surta”, porque a hipótese lhe parece totalmente abominável.

Uma profusão de ideias e atitudes equivocadas abalam a vida de pais e filhos, criando uma novo formato de conflito de gerações. Os mais jovens desconhecem ou não entendem o interesse dos mais velhos em preencher os anos seguintes com realizações variadas, inclusive na vida conjugal – quem tem 60 hoje pode contar com mais umas duas ou três décadas de vida pela frente.

Os filhos podem atrapalhar o caminho desses pais ou serem facilitadores. Na tentativa de colaborar com as duas partes, “Casar, descasar, recasar” revela aqui o que é importante saber quando o assunto é sexo e vida conjugal de idosos. As informações valiosas foram dadas pelo professor titular de geriatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor do  Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas, Wilson Jacob Filho. Confira abaixo.

AS FILHAS

Para a filha casada, a separação dos pais é um choque, apesar de que raramente ela é pega de surpresa, a não ser quando a mãe descobre que o pai tem uma vida paralela; em geral, ela sabe que aquele casamento foi se complicando. É um choque por dois motivos. Primeiro porque se desfaz aquele elo que sempre teve como diretriz, o ambiente de segurança. E segundo porque sabe que separados eles darão mais problema para ela do que casados.

Quando o casal está junto, e ele tem uma pneumonia e vai para o hospital, quem vai cuidar? É a mulher. Se estão separados, é o filho. Um já não é mais do outro. A filha não chega e fala ‘mãe, ele é teu marido’ ou ‘pai, ela é tua esposa’. O pai passa a ser do filho ou da filha enquanto não encontrarem outra pessoa que ajude a cuidar dele, no sentido laborial ou financeiro.

Um fato absolutamente verdadeiro: mulheres com filhas ainda jovens ou solteiras temem iniciar um novo relacionamento com um homem por achar que ele possa se interessar pela jovem. É frequentíssimo ouvir: “Enquanto as minhas filhas não casarem, eu não me aproximo de nenhum homem”. Ou quando perguntada “por que a senhora não iniciou um novo relacionamento?”, a resposta é “porque eu tinha filhas mulheres e isso é muito perigoso”. Perigoso para ela pela possibilidade de ser preterida em função de sua filha e perigoso para a filha ao levar para casa um homem que ela não pode confiar. Existe uma lógica nisso. No lado mais dramático, uma boa parte dos abusos sexuais foram feitos por padrastos.

A filha acha que o pai é dela, tem um ciúme impressionante. As filhas de homens, dizem ‘meu pai’ com uma carga de posse: ‘Você está dizendo isso do meeeeeeeu pai?’. Respondo: ‘Estou dizendo que o seu pai precisa de uma companheira para fazer aquilo que ele não pode fazer com você’. E ela fica estupefata, pasma, em ouvir que aquele homem de 75, 80 anos tem desejo sexual. Não gosto de endeusar isso, mas faz parte.

A filha, quando tem uma mãe que vai casar, fica feliz. A preocupação é fundamentalmente com o patrimônio. Vai querer saber como vai ser a condição patrimonial da família. Como vão ficar os seus bens, pensar no futuro do “Jorginho”. A questão patrimonial mexe com todo o mundo; as pessoas ficam possessas quando veem seu patrimônio ameaçado. 

OS FILHOS

O filho homem tem muito ciúmes da mãe. Depois da separação, muitas vezes ele entende ser o homem da família, o macho alfa. Quando a mãe tem um novo relacionamento, é como se ele estivesse perdendo a liderança dentro da própria casa. Isso quando os filhos moram na casa da mãe. Quando vivem fora, o temor é financeiro. A exigência, que ocorre com muita frequência, é que o possível novo casamento seja com separação total de bens para que não haja possibilidade de comprometimento.

Filhos entre 30 e 50 anos, muitas vezes sobrecarregados pelo cuidado dos pais separados, veem em um novo casamento do pai ou da mãe a possibilidade de dividir o trabalho e a responsabilidade com alguém. Um pai que estava, por exemplo, pedindo para a filha fazer supermercado, telefonar todo dia, de repente com uma companheira não vai precisar mais disso.

Muitos filhos tentam aproximar, principalmente os pais e menos as mães, de um eventual potencial companheiro. Eles tentam apresentar: ‘Olha, tem uma senhora lá no meu escritório procurando alguém para ir ao cinema. Por que você não vai com ela?’. Muitos dos pais reclamam que eles querem favorecer um casamento a qualquer custo. Esses idosos são muito pressionados. Os pais hoje dão muito menos palpite no casamento dos seus filhos do que os filhos dão no dos seus pais.

O SEXO

Uma mãe de 70 anos dificilmente confessa a seus filhos que tem necessidades sexuais. Os filhos não aceitam isso ou aceitam muito raramente. Acham que a mãe ou o pai são assexuados, frutos de uma geração espontânea, que nunca transaram; se transaram, foi de luz apagada.

Eu falo para a filha: “Você acha que a sua mãe não gosta de sexo?”.

Ela acha abominável isso, quando a mãe acaba de me dizer na consulta que se masturba duas, três vezes por semana.

A quantidade de senhoras que vai para uma instituição de longa permanência e levam um vibrador é gigante!

Pessoas com idade avançada não perdem a sua sexualidade. Podem modificá-la de forma a ficar socialmente mais aceita. Uma mulher de 80 anos diria, por exemplo, “olha, minha filha, que homem lindo”, quando na verdade ela gostaria de ter o contato.

Uma frase muito falada é: “O remédio que eu preciso não vende em farmácia”. Mas isso não pode ser dito aos seus filhos. Eles têm dificuldade de entender que os pais são mais do que provedores, de fazer essa transição do papel da mãe para o de mulher.

QUEIXA DE IDOSAS

Da mulher de 70, eu geralmente ouço: ‘Ele até que é interessante, mas está em busca de uma enfermeira, não de uma esposa”. Geralmente, o homem não tem a oferecer, ele tem a pedir. Às vezes, tem a oferecer uma proteção financeira, mas tende a esperar uma condição de cuidados. Não raramente homens que foram viúvos de mulheres que precisaram de cuidado, casam-se com as cuidadoras, que já conhecem a casa e sabem cuidar. Então, existe esse lado.

Uma queixa muito frequente delas: “Fui ao baile, ele me tirou pra dançar e queria saber onde a gente ia passar a noite. Eu não quero passar a noite com ninguém ainda. Eu quero namorar, jantar, ir no teatro, fazer uma série de coisas antes de passar a noite”.

Não tenho a menor duvida de que a mulher busca um companheiro, tanto que, se ele não for muito sexualmente ativo, isso não é um obstáculo. Mas se ela não for, é um obstáculo.

QUEIXA DE IDOSOS

Muito homens dizem isso de seus filhos: “Olha, eles arrumam cada mulher para mim! Eu digo deixa que eu me viro, eu me arranjo, tô muito bem sozinho”.

O filho tem que ter calma, incentivar que tanto o pai quanto a mãe tenham vida social, mas não necessariamente casamento. Devem fazer uma abordagem suave, delicada. É pior ficar empurrando. Isso vale também para a filha em relação à mãe.

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10 segredos de enteado que você precisa saber http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/04/08/10-segredos-de-enteado-que-voce-precisa-saber/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/04/08/10-segredos-de-enteado-que-voce-precisa-saber/#respond Wed, 08 Apr 2015 17:52:09 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1341 Kyle Catlett em cena do filme Uma viagem extrairdunária_Jan Thijs:Divulgacao
Kyle Catlett em cena do filme de aventura “Uma Viagem Extraordinária” (Foto: Jan Thijs/divulgação)

Alô, madrasta! Muito do mal-estar, dos desentendimentos e conflitos na relação com os filhos do seu marido pode ser transformado se você descobrir como as crianças se sentem e o que elas pensam diante de uma nova configuração familiar e de certas atitudes equivocadas e comuns de madrastas.

“Casar, descasar, recasar” organizou, com a ajuda preciosa da psiquiatra Vanessa Pinzon, que também é coordenadora-geral do Protad (Projeto em Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares na Infância e Adolescência), 10 das principais queixas de enteados e enteadas. Saiba o que eles pensam e o que gostariam de dizer para suas madrastas.

1. Você nunca deixa o meu pai sozinho comigo, sempre tem que estar junto. Mas tem horas que eu quero ficar só com ele. E não é porque eu não gosto de você. Até quando os meus pais eram casados, tinha horas que eu queria ficar só com a minha mãe e horas que eu queria ficar só com o meu pai, fazer programa de pai e filho. É diferente, entende?

2. Eu não tenho culpa das atitudes do meu pai. Às vezes, você reclama que ele faz tudo o que eu quero, que dá tudo o que eu peço, que ele não sai mais com você sem os filhos (eu e os meus irmãos).  A culpa não é minha. Converse com ele! Esse é um problema de vocês, adultos.

3. Quando eu tenho uma festa à noite e meu pai tem que me levar, depois tem que buscar, você fica chateada, você não gosta. E eu me sinto incomodando. Mas eu preciso do meu pai também.

4. Você quer dar uma de minha mãe, dizendo o que eu devo fazer. Eu já tenho uma mãe, não preciso de outra. O pior é que, às vezes, o que você pensa é o contrário do que ela pensa. No final, eu fico com três opiniões: a sua, a da minha mãe e a do meu pai. E aí, o que eu faço? Fico confuso. Gostaria muito que você, quando percebesse que estou triste, com alguma dúvida, desse um toque para o meu pai vir falar comigo e deixasse o meu pai falar. É mais fácil conversar com ele, que me conhece mais do que você.

5. Claro que eu gostaria muito de ter o meu pai vivendo junto com a minha mãe e eu na mesma casa. Mas se você for legal comigo, está tudo bem!

6. Minha mãe é o exemplo de tudo o que eu conheço, e você tem um jeito diferente dela, daí eu brigo, porque não sei o que fazer. Por exemplo: ela e o meu pai exigem que eu sempre tire nota alta na escola, e você diz que não, o que importa é passar de ano. Daí acho que tenho que defender a minha mãe e brigo com você.

7. O seu filho não é meu irmão. Ele ainda é um estranho para mim, preciso conhecer essa pessoa. Estou começando a me habituar com essa nova família do meu pai. Então, vamos devagar, eu preciso de tempo para entender tudo isso.

8. Quando você fala mal da minha mãe, eu me sinto culpado de ficar ouvindo. E não sei o que fazer. Tenho medo de responder para você e meu pai ficar bravo comigo e medo de não contar para a minha mãe e ela ficar brava. E se eu contar, ela vai perguntar o que eu fiz e reclamar que eu não a defendi.

9. Existem coisas que você quer que eu faça, mas que a minha mãe não deixa. Comer chocolate à vontade, por exemplo. Daí, eu tenho que mentir para você ou para a minha mãe. E é horrível ter que mentir. No fim, minha mãe sempre descobre.

10. Às vezes, acho que você só me aguenta por causa do meu pai. Por isso, alguns dias eu não quero vir para cá, fico quieto, triste. Tenho medo de atrapalhar. E você reclama que eu não falo nada, que eu nunca digo o que quero fazer, não dou opinião. Até parece que eu não gosto de você, mas na verdade eu tenho medo de que você não goste de mim.

 

 

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8 desafios de pai separado (e suas soluções) http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/03/23/8-desafios-de-pai-separado-e-suas-solucoes/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/03/23/8-desafios-de-pai-separado-e-suas-solucoes/#respond Mon, 23 Mar 2015 14:43:22 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=1234 Tom Selleck em cena do filme "Três Solteirões e um Bebê"
Cena do filme “Três Solteirões e um Bebê”, no qual Tom Selleck  e seus dois melhores amigos têm que se virar para tomar conta de uma recém-nascida deixada na porta de seu apartamento (Divulgação)

Enquanto a velha discussão sobre a divisão de tarefas entre marido e mulher prossegue dando pano para as mangas, uma questão muita mais nova mexe com as famílias: as tarefas executadas pelo homem separado que tem a guarda compartilhada do filho. São desafios de ordem prática que vão além de levar a criança ao cinema ou jantar fora no domingo, como é comum entre pais que veem os filhos em eventuais fins de semana. A guarda compartilhada inclui tarefas do cotidiano tradicionalmente conhecidas como sendo de mãe.

Por exemplo: trocar fralda, ficar atrás da criança na festinha ou comprar o vestido da filha. Missões, em geral, inéditas na vida do pai e que exigem certas atributos, como jogo de cintura, capacidade de improvisação, cara dura e determinação. “Casar, descasar, recasar” traz alguns desses desafios e as soluções encontradas pelos pais – nem todas muito práticas, é verdade, mas para mãe nenhuma botar defeito.

Antes de tudo, é importante se prevenir de uma possível desconfiança do ou da ex, que ocorre com muita frequência. É o caso da mãe, cujo filho adoeceu e ela liga mil vezes para garantir se o pai está cuidando da criança ou o ex que supervisiona a mulher no acompanhamento das lições de casa do filho. Mas criança cai, se machuca, tem febre, não faz lição de casa. “Não se pode deixar tudo virar problema”, diz a psicanalista e perita judicial Cláudia Suannes.

A especialista destaca outro enrosco que surge nesses casos de guarda compartilhada: a rivalidade entre os pais. Muitos competem entre si para provar que é o melhor. Mas pai não substitui mãe, e vice-versa. “Eles podem exercer funções que se convencionou dizer de mãe ou de pai, mas um não substitui o outro. Ambos continuam existindo e podem se somar”, afirma Cláudia.

Jean Luc Bilodeau em cena da série "Baby Daddy" veiculada pelo canal ABC
Jean Luc Bilodeau em cena da série americana “Baby Daddy” (Divulgação)
  1. No banheiro público 

O cantor e locutor mineiro Aggeo Simões passou maus bocados quando a filha Ava ainda usava fralda. “Sempre fui um cara sensível a cheiro. E era patético, porque eu não conseguia limpar o bumbum dela de jeito nenhum. Chegava a vomitar”, conta o pai, que se separou quando a garota tinha um ano e meio.

Morando sozinho e recebendo a filha por pelo menos dois dias na semana, o sufoco passou quando,  por sorte, descobriu que a solução estava bem ao lado das pomadas e do talquinho do bebê: os lenços umedecidos. A dica salvadora foi fazer um rolinho com o lenço e colocar cada ponta em uma narina. Ele gostou tanto do truque que “até hoje, quando entro em alguns banheiros públicos, sinto falta dos meus lencinhos”.

Quando Ava tirou a fralda e tudo parecia resolvido, surgiu o drama vivido por 10 entre 10 pais de meninas: onde levá-la para fazer xixi? No banheiro masculino, em geral, não há cabines, e no feminino o pai não pode entrar.

A solução que ele desenvolveu: esperar todas as mulheres saírem e ao mesmo tempo segurar a fila para ninguém entrar. Daí então Ava e o pai ficavam à vontade no recinto. “As mulheres reclamavam, mas compreendiam. Algumas até se ofereciam para acompanhar Ava, mas era raro”, conta Aggeo, que perdeu as contas da quantidade de desculpas que pediu pelo caminho.   

  1. Primeiro Dia dos Pais

Maria Eduarda tinha apenas 8 meses de vida quando os pais se separaram. Mesmo tão pequena, passava duas noites por semana e alguns fins de semana com o pai, o jornalista Rodrigo Padron. Papinha, fralda, mamadeira, banho, nada foi problema, só faltou avisar a professora.

No seu primeiro Dia dos Pais, Rodrigo foi todo ansioso até a escola da filha, onde havia uma programação especial para a data. Entre as gincanas, programaram atividades que, segundo a mestre, os pais “nunca haviam feito antes”. Por exemplo: dar papinha e trocar fralda .

“A professora falava com tom infantil, como se eu fosse incapaz de fazer tudo aquilo por ser homem”, conta Rodrigo. No final do dia, foi questionar a coordenadora. A escola se retratou e prometeu rever a abordagem com os pais. “E isso efetivamente ocorreu”, comemora Rodrigo, que não queria que a filha fosse educada com preconceito de que pai é menos do que mãe. “Fiquei imaginando daqui um tempo minha filha relendo os cadernos da escolinha e vendo todos os bilhetes endereçados para a mãe. Ela iria me perguntar: ‘E você, bonitão, onde estava que não cuidava de mim?’.”

  1. Medo de doença 

A mulher do escrevente Paulo Vitor Pires morreu quando o filho mais novo do casal, Vitor, tinha 11 anos. Entre as várias atribulações que surgiram, o pai lembrou da saúde do filho. “A mãe olhava para a cara da criança e dizia ‘essa criança está doente’, levava no médico e dava certo. Eu não queria passar por relapso e pensei: vou levar também, só para fazer uma revisão.”

Ao chegar no consultório, o pediatra segurou o riso e explicou: criança dessa idade não precisa de check-up como adulto. “Nunca mais levei. No máximo, vamos ao pronto-socorro quando acontece alguma coisa.”

(Foto: Pierre Duarte/Folhapress)
Na primeira viagem sozinho com a filha, o pai percebeu que emoção e cansaço não combinam (Foto: Pierre Duarte/Folhapress)
  1. De férias longe da mãe

Programar uma viagem sozinho com filho pequeno deixa qualquer pai com frio na barriga, mas o cantor Aggeo Simões tinha certeza de que não haveria erro. Afinal, existe passeio melhor para uma criança do que a primeira vez na praia? Sim, para a pequena Ava havia.

Ela reclamou de absolutamente tudo no primeiro dia, da areia ao som da barraca vizinha. “Achei que a viagem ia ser péssima, mas no segundo dia ela começou a curtir e, aos poucos, passou a adorar a viagem.”

O alívio durou pouco. “Um dia, a mãe ligou tarde, eram nove horas da noite, e Ava passou a chorar. Foi quando eu saquei que emoção junto com cansaço não dá certo.” Desde então, foi estabelecida uma nova regra, que serve como dica de ouro para pais separados: ligação da mãe só de dia e, de preferência, na parte da manhã.

  1. No ginecologista

O viúvo Paulo Vitor Pires foi quem acompanhou a filha mais velha na sua primeira consulta ao ginecologista. Não é todo pai que precisa fazer isso. Na verdade, se a filha prefere ir sozinha, tudo bem, o pai deve esperar fora. Mas não era o caso de Beatriz. “Ela não queria ir ao ginecologista com ninguém, mas já estava com 16 anos e senti que era necessário, então eu tive que ir junto.”

Na consulta, a médica perguntou desconfiada: “Beatriz, seu pai pode ficar?”. A filha prontamente respondeu: “Pode, ele sabe de tudo!”, conta o pai.

Devidamente autorizado, ele permaneceu mudo. “Fiz só companhia. Não sabia nem o que comentar, o que perguntar, não sabia nada”, diz, rindo. Mas aguentou firme para garantir apoio moral.

  1. Na compra de vestidos 

Nas lojas de roupa infantil, o preconceito com o homem também é comum. “Já fui atendida por duas ao mesmo tempo para me socorrer”, conta Rodrigo Padron, que se incomoda muito com o atendimento exageradamente atencioso. “Elas falam com o mesmo tom das professoras da escolinha, como se você fosse um adolescente.”

Para conseguir comprar em paz, Rodrigo desenvolveu a própria estratégia: “Começo a falar sobre tecidos, fios, estilo de roupa e, aos poucos, a vendedora percebe que eu sei o que estou fazendo”. Em seguida, diz ele, você vai ouvir o tão esperado “vou deixar o senhor à vontade, qualquer dúvida e só me perguntar”.

  1. Na compra de camisas 

Antes de ficar viúvo, Paulo Vitor Pires nunca havia ido às compras para o filho. “Nem para mim eu comprava. Não sabia escolher sequer uma meia”, conta o pai, que rapidamente encontrou uma saída, apesar de não muito prática.

Com uma fita métrica, mediu o filho e as roupas e foi ao shopping, levando a cola. “Uma senhora chegou a perguntar por que eu estava fazendo aquilo. Aí eu tive que explicar a situação”, conta Paulo, tímido, ao lembrar “do mico”.

O filho cresceu e “agora eu o obrigo a ir junto para experimentar”, diz Paulo, que odeia fazer compras e, pelo jeito, conferir o tamanho das roupas na etiqueta.

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Aggeo Simões morria de medo que a filha acordasse no meio da noite e acabasse se machucando (Shutterstock)
  1. Insegurança noturna 

“Eu morria de medo de acontecer alguma coisa com ela. De apagar, dormir, e ela enfiar o dedo na tomada ou sei lá, cair da janela, eu tinha altos pesadelos”, conta Aggeo Simões, que se separou quando a filha ainda estava aprendendo a andar.

Para diminuir a aflição, ele espalhou redes, cantoneiras e protetores de tomada pela casa toda. Exagerou talvez quando decidiu passar a chave em todos os cômodos que poderiam oferecer algum perigo. Ou seja, todos da casa, com exceção dos quartos dela e dele.

“Nesse começo, eu estava bem inseguro. Tinha assumido uma responsabilidade e não queria que nada acontecesse, ainda que fosse algo trivial em uma casa com pai e mãe juntos.”

Você também é pai separado e desenvolveu soluções para os desafios do dia a dia? Mande suas dicas para cá.

(Entrevistas feitas por Giovanna Maradei)

 

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“Até que a morte nos separe: coisa que existe entre pais e filhos” http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/04/ate-que-a-morte-nos-separe-coisa-que-existe-entre-pais-e-filhos/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/02/04/ate-que-a-morte-nos-separe-coisa-que-existe-entre-pais-e-filhos/#respond Wed, 04 Feb 2015 16:18:40 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=765 Kico Gemael, jornalista de TV dos mais competentes, é também conhecido, entre os amigos, pelo seu lado galinha – de mãe galinha! Como pai, ele é uma mãezona. Entre a saída de um casamento e o começo de outro (teve cinco até agora), Kico tem a proeza de “carregar” os filhos junto, mantendo a “ninhada” sempre perto.

A encantadora história de amor contada aqui é demonstração exemplar de que casamento acaba, casal se separa, constitui outra união, mas os filhos nunca ficam para trás – inclusive os da ex-parceira, que não são de sangue, mas de coração, como a enteada Camila.

Kiko e a enteada, Camila, no dia do casamento dela
Kiko e a enteada, Camila, no dia do casamento dela (Foto Arquivo pessoal)

Por Kico Gemael

“É a cara do pai.” Faz 25 anos que ouvi esta frase pela primeira vez. E nunca mais parei de ouvir. A primeira foi na feira, dita pelo Valdir da banca de frutas. Amigo das antigas, chamei Valdir num canto e cochichei: “Camila não é minha filha de sangue, é de coração. E tem tanto coração nessa história que estamos ficando parecidos por dentro e por fora”.

Camila tinha 5 anos quando casei com a mãe dela. Virei padrasto, ela enteada, descasei, casei de novo com outra mãe, descasei de novo – e ela continua filha. A mãe dela, passado.

Há duas semanas, em nova rodada de pastel na feira, o reencontro: Camila, os sobrinhos dela e meus netos, Alice e Joaquim, filhos dos irmãos de Camila e meus filhos, Manoela e Camil, o Valdir e eu. Quando viu a Camila, ele renovou a frase: “Continua a cara do pai”.

Foi amor à primeira vista. Quando fui morar com a mãe da Camila e também do Thiago, na época com 7 anos, os dois adoravam o pai, que por falta de tempo e outras circunstâncias não era muito presente.

O Thiago, em princípio, me rejeitou por completo. Afinal, era uma figura masculina ameaçando seu reino macho. Chegou a passar cola no meu pincel de barba de estimação. Foi uma relação complicada durante o casamento todo. Ao contrário da Camila. Nós nos grudamos como cola, ficamos como as cerdas do pincel de barba.

Caçula dos quatro “irmãos”, Camila virou minha companheira de compras e de tudo. Até de futebol. Ela, o pai dela, o Camil e eu torcíamos pelo mesmo time em Curitiba – o Paraná Clube. E lá íamos nós – menos o pai – para a Vila Capanema assistir os jogos mais absurdos do mundo do futebol. Paraná x Jandaia, na chuva – e  a gente gritando, xingando, comemorando, rindo –, vivendo uma bela história sem fim.

Sim, sem fim. Nestes 25 anos, Camila tomou a vida de assalto: batalhou como poucos fazem, venceu como raros conseguem, encantou como só os iluminados são capazes. Advogada com OAB, casada com um atleta, ri à toa. E mais: faz rir à toa.

E olha que foram 25 anos difíceis. Primeiro, o pai foi embora de repente. Depois, o avô – guru, ídolo e provedor da família – também embarcou para o outro mundo. Perdas que ela sente até hoje. Da mesma forma como nossa relação é a mesma até hoje. Aliás, relação tão forte que, diante de uma dívida da família que eu arcava sozinho e com muita dificuldade, ela ajudou a pagar alguns meses – sem nenhuma obrigação, mas por solidariedade, critérios de justiça e amor, muito amor.

Ela me emocionou milhares de vezes, mas as cenas mais fortes aconteceram nas datas festivas. Dia dos Pais era de chorar lençóis: bilhetinhos cheios de corações e cores que exalavam sentimento. Natal, Páscoa, sempre teve um beijo ou um telefonema – ao menos.

Até que chegou o dia de apresentar o namorado. No mesmo dia, apresentou para a mãe e para mim. Tempos depois, era o dia do casamento. Pai e filha entramos no templo onde foi realizada a cerimônia: o Terreiro de Umbanda Pai Maneco. Não tenho ilusão: tenho certeza de que, se o pai biológico estivesse vivo, seria ele; se o avô estivesse entre nós, seria ele. Nunca tentei substituir ninguém nem tive ciúmes, sequer olhei com o canto do olho. Sempre foi por amor e pela felicidade dela.

A cerimônia de casamento teve um significado especial. Mais ou menos assim: como um casal que vive junto há tempo e um dia resolve formalizar a união e casa. Nossa entrada na igreja formalizou nossa relação. Que vai durar – como a de todos os outros filhos – até que a morte nos separe. Coisa que o casamento não tem, coisa que só existe entre pais e filhos.

PS: nesse casamento, que foi o meu quarto, a mãe entrou com dois filhos – Thiago e Camila – e eu entrei com dois Manoela e Camil. E veio o terceiro filho de cada um – o quinto nosso. Ou melhor, a quinta: Olívia, hoje com 22 anos. O Thiago não cola mais meu pincel de barba, hoje somos colegas de profissão e amigos – bem amigos. Aparece de vez em quando para filar uma boia e jogar conversa fora – como todos os outros, que não deixam o pai sozinho minuto algum. A bênção, meus filhos.

Kico Gemael, 57 anos, jornalista, 5 casamentos, 4 filhos, 2 netos; curitibano de nascimento, paulistano de coração.

 

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Leitora conta como a crise dos pais marcou a sua vida para sempre http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/01/27/leitora-conta-como-a-crise-dos-pais-marcou-a-sua-vida-para-sempre/ http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/2015/01/27/leitora-conta-como-a-crise-dos-pais-marcou-a-sua-vida-para-sempre/#respond Tue, 27 Jan 2015 22:42:56 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15005285.jpeg http://casardescasarrecasar.blogfolha.uol.com.br/?p=569 Médica, casada, mãe de dois gêmeos de 8 anos, a mineira Maria Fernanda * procurou o “Casar, descasar, recasar” para contar a história de separação dos seus pais, que tanto a impactou na infância e que ainda hoje tem profunda influência na sua vida.

Num almoço em um shopping em São Paulo, a bela jovem mãe, de 42 anos, me deu o depoimento que segue abaixo. Por que esse empenho todo em expor sua história? Para evitar que ela se repita em outras casas, diz Maria Fernanda, que provoca aqui uma reflexão sobre como romper um casamento por causa de um grande amor, investir nessa nova relação e, ao mesmo tempo, preservar a saúde mental dos filhos.

(Ilustração: Malika Favre)
Leitora descobriu caso extraconjugal da mãe e conta como a crise dos pais impactou a sua vida (Ilustração: Malika Favre)

“Na entrada da adolescência, quando eu estava com uns 12 anos, que não é uma fase muito fácil, descobri que minha mãe tinha arrumado um namorado, um amante – a palavra é pesada e parece antiga, mas para os filhos e o ex-marido é isso que é.

Descobri por causa de telefonemas estranhos e pelo diário que ficava no quarto da minha mãe e um dia ela deixou aberto na cozinha. Comecei a ler e vi que escrevia sobre um outro homem, um namorado. Aí, veio a dúvida horrível: será que meu pai sabia? E meus irmãos? Foi supercomplicado, porque fiquei com aquele segredo. Não tinha coragem de comentar o caso nem com a minha melhor amiga. Sentia que ia expor minha mãe, meu pai, minha família toda. Não falei nada para ela, porque nunca foi meu estilo confrontar e também sabia que tinha feito uma coisa errada, invadindo a privacidade dela.

Era algo que eu ficava remoendo. Lembro que quando voltei de um acampamento de férias, minha mãe foi me buscar e disse ‘olha, fulano deu uns móveis aí para nós, mas não comenta nada com seu pai’. Ela pedia segredo, não sabendo que eu já sabia. Aquilo machucava muito.

Acabei contando para um dos meus irmãos, e para ele foi pior ainda. Até hoje é o mais complicado deles.

No fim, o casamento acabou. Meu pai saiu de casa. Para completar, após a dolorosa separação (para meu pai, eu e meus irmãos, mas não aparentemente para minha mãe, que estava apaixonada), ela se viu no direito de levar o então “namorado” para dentro de casa, como se nossa casa fosse um motel.

Ela não disse algo como ‘olha, agora eu me separei do seu pai, esse é meu namorado e vamos conviver…’. O cara aparentemente não tinha intenção de ter um relacionamento mais sério com ela nem de ser padrasto de ninguém. Ao mesmo tempo, ele estava dentro da minha casa. Vinha e dormia uma ou duas vezes por semana.

Minha mãe achava que estava no seu direito. Cheguei a ouvir que a casa era dela, que fazia o que queria e não é porque teve filhos que não poderia mais ser feliz.

Realmente, ela bancava tudo e era pesado para ela, porque meu pai se desestruturou completamente, não pagava pensão, mas ela não teve a preocupação de nos preservar.

Nunca conversamos sobre o assunto. Nossa relação é muito difícil até hoje, permeada de muita agressividade. Às vezes, ela até tenta, enfim, ajudar, proteger, até financeiramente quando eu preciso, mas não é uma pessoa muito disponível emocionalmente. Nunca foi.

Resolvi contar tudo isso aqui pensando nos pais. Tudo bem você se apaixonar, viver uma história muito intensa com uma pessoa, mas seu amor pelos filhos tem que estar preservado. Diga: ‘Eu gosto dessa pessoa desse jeito e realmente gosto muito e vou querer ficar com ela, vou investir nessa relação, mas vocês continuam importantes para mim e isso não vai mudar’. O filho tem que ter sempre certeza de que é amado, que, por mais caótica que seja a vida dos pais, ele é prioritário.

E se vai esconder, esconda, mesmo! O problema é você deixar uma porta aberta. Se vai ter um diário, deixe em um lugar trancado. Preserve a sua vida de adulto.

Quer encontrar com o namorado, transar com seu namorado (ou sua namorada)? Vá ao motel. Seja com o cônjuge, se a pessoa é casada, ou a (o) namorada (namorado), filho não tem que participar da vida sexual dos pais.

Isso me marcou para o resto da vida. Já fiz analise várias vezes, e esse sempre é um tema importante. Mas também serviu para mim como mãe. Tenho jornadas muito extensas de trabalho, só vejo meus filhos à noite. Mas procuro sempre mostrar que eu estou atenta, que me importo com o que eles sentem, com que pensam. Quero que sintam sempre que estou lá, à disposição.”

Essa mãe agiu com total descaso em relação aos seus filhos, foi vítima de muita ignorância ou padeceu de uma imensa dificuldade em fazer diferente? Não dá para julgar.

Agradeço a colaboração dessa leitora porque histórias da vida real provam que, definitivamente, não tem jeito: os pais têm que segurar a onda da crise no casamento e, ao mesmo tempo, proteger  os filhos.

* Nome fictício, a pedido da leitora.

 

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